quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Da janela de Shakespeare

JULIETA

É só seu nome que é meu inimigo:
Mas você é você, não é Montéquio!
O que é Montéquio? Não é pé, nem mão,
Nem braço, nem feição, nem parte alguma
De homem algum. Oh, chame-se outra coisa!
O que há num nome? O que chamamos rosa
Teria o mesmo cheiro com outro nome;
E assim Romeu, chamado de outra coisa,
Continuaria sempre a ser perfeito,
Com outro nome. Mude-o, Romeu,
E em troca dele, que não é você,
Fique comigo.

ROMEU

Eu cobro essa jura!
Se me chamar de amor, me rebatizo,
E, de hoje em diante, eu não sou mais Romeu.

(p.50-51; ROMEU E JULIETA - Saraiva de bolso)


Deve ser por isso que, quando meu amor me chama de "Elaine" - quando tá com raiva -, eu acho tão estranho:

- Não me chame de "Elaine"!
Chega a ser quase uma ofensa.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Uma mensagem de fim de ano.

Eu não sou boa de mensagens de fim de ano. Tem uma lousa branca lá na academia à disposição. Mas eu não, eu não consigo pensar em algo além de: " Feliz Natal e um próspero Ano Novo". Mais uma vez tenho a convicção de que não ligo pra datas. O que são datas, se não apenas números? O que é um monte de números espremidos num calendário?

Acho que poderia haver, não uma contagem, mas uma coletânia de sentimentos; aí sim, faria sentido. Todo dia uma confraternização mais animada que a do dia anterior. Ninguém precisaria se perguntar: " que data é hoje?", e os números não teriam a menor importância.

Amanhã, de manhã cedinho, vou encarar novamente a lousa branca, já riscada por alguns frequentadores da academia, e vou reler as mensagens lá esquecidas: "Feliz Natal e um próspero ano novo"; " Vamos fazer do mundo a casa de todos"; e até um " Vendo carro...".

Então, eu vou pensar de novo no que eu poderia deixar para um casual leitor daquela lousa; vou passar direto, fazer alongamentos e, ao mesmo tempo, dedicar minha atenção novamente a uma planta pequena de quatro folhas. Ela fica no topo do muro da academia. Nasceu ali não sei como; minha nossa, brotou de uma parede! Além de crescer de dentro da superfície de um muro, atrás dela tem outro muro que se levanta da altura do seu caule curto até (...) lá no alto. E como se não bastasse, uma cerca elétrica anti-ladrões curva-se à sua frente; quer dizer, a planta que cito aqui nasce de um muro e mora entre outro muro e uma cerca que dá choque.

Como uma fã declarada de metáforas, eu colho dessa observação diária uma mensagem positiva pra você, que considera a ideia de um novo começo representada por uma simples, na verdade, complicada e quantificada mudança de calendário:

Eu lhe proponho que, a partir de 2012 ou de agora mesmo, você seja como essa planta do muro. Mantenha-se firme e forte, e verde de esperança, mesmo nas situações mais adversas ou nos cantos mais incomuns de se viver. Se, para isso, for preciso a proteção dos outros que lhe servem de muros ou de porto seguro, não faz mal, não seria demonstração de insegurança; só se proteja da auto-superproteção e dos superprotetores, mas não abra mão dos cuidados. Cuide de si e de quem você ama.

Não gosto de livros de autoajuda, nem de mensagens repetitivas de fim de ano, mas é que me deu uma vontade de plantar esses pensamentos em você que me ler.

Então, já sabe, né? Seja uma plantinha; ou um plantão de muro, como queira.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

"- Cala a boca já morreu, quem manda na minha boca sou eu!"

Diz a pequena tagarela, que não liga se é banguela, que ainda faz questão de soletrar, embora já tire de letra o bê a bá das placas que passam rápido pela janela. Segue a viagem toda tagarelando tanto, que a própria língua atropela.

Enquanto nós, gente grande, só lembramos da nossa língua, no máximo, quando comemos apressados e a queimamos. Afinal, crescemos ouvindo: "Quem cala, consente." Fomos educados a nos acomodar, a deixar que outro alguém decida por nós. Assim, calados, nos poupamos de maiores esforços. Teriam os pais uma parcela de culpa nisso? Teriam eles, não por mal, pulado a fase de crescimento dos filhos? Disso não sei, mas conheço uma menina tagarela que só ela.

Dá voltas e voltas a menina, mas sempre volta. Tem nas mãos a Imaginação, no pé a poça da chuva. Fala tão rápido quanto cresce e, como toda criança, quer mais é sua atenção quando faz biquinho dizendo no idioma do chororô: " - Eu só quero o seu amor por vinte e quatro horas!"

domingo, 18 de dezembro de 2011

O Papai Noel condenado à forca


Eu acho muita graça dessas gracinhas de Natal. Em cada beco, avenida, casa pequena, casa grande, casa mais humilde, casa mais nobre, em todo canto sinais de que as pessoas estão cada dia mais carentes, não só de espírito natalino, mas de tudo que preencha o próprio, o nosso espírito. Mas afinal, em qual estado de espírito a gente anda se encontrando, ou pior, se perdendo? Difícil dizer ao certo.

Aqui em casa também, todo ano tem a tal carência comum na época próxima ao Natal. Meus pais põem enfeite até onde não cabe mais. Não deu pra pendurar na árvore, então pendura no prego cravado no ápice da porta da sala, onde agora tem uma cabeça de um desses bons velhinhos de boneco; só a cabeça mesmo, sabe-se lá onde foi parar o resto do corpo, talvez os membros e o tronco estejam espalhados na vizinhança.



A cabeça sabemos que está na porta, correndo o risco de ser esquecida e permanecer lá o ano inteiro. Eu não a esqueço, pois a minha imaginação fértil fica buscando mil e uma explicações para compreender, afinal, o que essa imagem de cabeça separada do corpo de Papai Noel representa para os meus pais ou para as possíveis visitas. Para mim, mais parece um Papai Noel que fugiu dos padrões morais e perdeu a personalidade do bom e velho "bom velhinho". Saiu dos contos de Natal pra virar vilão na vida real. Terá feito alguma perversidade com alguma criancinha, meu Deus? A cabeça, assim, arrancada do corpo, deduzo que, com as próprias mãos, alguém fez o "olho por olho, dente por dente" contra o tal Papai Noel.

Foi tão malfeitor assim que o levaram para a forca? Imagino uma morte martirizada tal como a do Tiradentes. Aquele Papai, dono da cabeça pendurada na minha sala, teria vivido seus últimos momentos como um autêntico herói ou o cortaram em pedacinhos para servir de exemplo a outras versões malvadas de Papais Noéis?

Toda vez que chego em casa, me pego olhando para a cara de gente boa de velhinho do Bem, de óculos, bochechas cor-de-rosa, rosto fofinho, barba longa e branca como neve. O vento vem do jardim balançando a pobre cabeça saudosa do corpo. Ele ainda me parece vivo.

Não fico me perguntando se existe Papai Noel, me pergunto mesmo é: "Será que existe um Papai Noel do Mal? Assim como: "Será que existe um padre, ou seja lá como é chamado alguém que exerça uma profissão de fé, que não seja de todo do Bem?" Existe sim, afinal não é do ser humano a qualidade de santíssimo ou 100% do Bem em todos os atos e pensamentos.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Não um dia 13 como outro qualquer

Esses dias, indiretamente, uma pessoa muito linda, linda mesmo, por dentro e por fora (se me permitem o clichê) tem me ensinado algo também muito lindo. Ela nem sabe que deu uma aula sobre a vida pra mim, mas faço questão de confessar e divulgar o bem que ela me fez.

Não a conheço de longas datas, não há convívio, não é minha amiga, ou pelo menos ainda não ( torço que seja), mas sabe aquelas pessoas transparentes que você consegue distinguir cada pedacinho da alma só de olhar bem nos olhos? Ela é uma.

Trabalha na sala em frente à minha. Ainda bem que, lá no meu trabalho, as paredes são de vidro; assim pude perceber a animação do setor naquele dia e o motivo da alegria. Lembrei de que a terça-feira dessa semana, dia 13 de dezembro, não era uma terça como todas as outras. Era o aniversário dela.

Como pude esquecer, se enquanto ela me dava carona, uma semana atrás, deu-se um silêncio momentâneo e do nada ela pensou alto, com uma empolgação quase incomum de se ver por aí: “ – Dia 13 é meu aniversário!” E pra minha surpresa, completou: “ – Dá um frio na barriga. Fico tão ansiosa”. Achei esquisito; não que ela seja esquisita, só achei diferente, porque eu nunca liguei muito pra datas, na verdade, nunca dei bola para uma data específica, a do meu aniversário.

Veja só, ano passado, cheguei pela manhã no trabalho, entrei na sala meio desconfiada e disse um “Bom dia!" normal e a sala de mulheres devolveu o meu “Bom dia!" normal também com o mesmo “Bom dia!" normal. Mas eu sabia que elas sabiam que era meu aniversário, da mesma forma que eu sabia que para elas tudo é motivo de festa, motivo da cota de refrigerante, bolo e salgado. Mesmo assim, respeitei o mistério do dia e fiquei na minha matutando: “ Elas vão aprontar alguma, ora se não!”

Passaram-se longos minutos até que libertaram o riso e sumiram comigo num abraço coletivo. Fui questionada pela indignação de uma delas: “ Como pode, menina, você aparece assim tão normal no seu dia?!”

Sempre achei normal, afinal todo o mundo faz aniversário uma vez por ano, todo mundo já nasceu um dia, o dia tal, do mês tal, ano tal, em que as mães deram à luz a um serzinho. Será que nunca dei importância por não me achar uma “luz”, não assim uma indivídua Brastemp?

Sei lá, só sei que a pessoa linda me fez enxergar o dia especial que é o Dia em que a gente veio ao mundo. Só sei que, enquanto voava sobre meus “tecos-tecos” apressados pelo corredor, parei um momento e reparei que o departamento da frente era só palmas e “parabéns pra você”(pra ela). Quando a vi - de pé, agitando as mãos no ar como quem pede aplausos e pulando como uma pipoquinha baiana- dissolveu-se a imagem decorada da minha agenda de afazeres do dia que circundava minha cabeça. Fiquei pensando: “ É, é essa vontade de celebrar minha existência que eu devo ter.”

Não pensei em mais nada, só mesmo em ir lá na mesa colorida dela dar um abraço pra lá de verdadeiro, de pura admiração. Ela transmitiu uma energia tão positiva pra mim. Entendi então o sentido da expressão que diz "dar à luz". Iluminada ela, pois além de adorar seu próprio aniversário, adora Deus.

Ontem, na carona, ela me deu mais uma lição, refletindo assim: " - Com tantas tragédias no mundo, comemorar mais um ano de vida é uma benção."

Agora sim, juro que sempre vou reafirmar com ansiedade: “ Dia 20 de janeiro está chegando! Meu Aniversário!" Juro que sempre vou celebrar cada ano de minha existência nesse mundinho de nosso Deus. E que venham os cabelos brancos!

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

T.P.T: tensão pré-tristeza

Você vai montando aos pouquinhos um arquivo particular de memórias de tudo que já achou mesquinho em suas próprias atitudes e nas atitudes dos outros.

Quando você, pelo impulso de um certo momento, trata mal alguém ou alguém te trata mal.

Quando você nota gente ao seu redor chorando baixinho, abafado, tudo pra não demonstrar sequer o menor sinal de fraqueza que seja, porque alguém determinou que o mundo é para os fortes. Você é forte? Eu, definitivamente, não e nem um pouco. Não tenho força suficiente, principalmente quando falam com alguém querido ou comigo de uma forma tão insensível a ponto de deixar o outro tão murcho quanto um bolo sem fermento. Ou quando o coração aperta tanto quanto um sapato bicudo e menor que o pé.

Quando entregamos muito menos do que alguém da família espera da gente. Quando sabemos que não estamos vivendo a vida que nossos pais sonharam pra gente. Você não está tentando passar num concurso público. Você não tem aquela quantia de dinheiro pra construir uma família logo, logo.

Você vai arquivando essas coisas, ou algo parecido, e outras coisas mais pequenas e deprimentes, somando com outros sintomas muito comuns em mulheres com t.p.m e acaba resultando em algo bem mais tenso: T.P.T -tensão pré-tristeza, ou seja, uma enxurrada de lágrimas de desabafo, capaz de inundar o rosto e o corpo inteiro abaixo. Um temporal que pode passar logo ou durar mais tempo que o esperado. Uma nuvem carregada que parece levar a abate sua mente e alma. E olha que não é exagero de alguém viciado em novela, é só um aviso prévio da chegada dEla, dessa tristeza bandida, que se instala na gente de supetão. E às vezes vem de mala e cuia a danada.

Mas sem desespero, ninguém vai mandar você engolir o choro. Pense que, daí em diante, você só aliviará essa T.P.T atraindo mais gente querida pra bem perto.

Consulte seu amigo, seu namorado(a), quem seja, mas busque alguém que massageie seu espírito. E nem é preciso muito, só um carinho, um abraço daqueles, bem apertado.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Ele é incrível

Não tem jeito, faz quase 24 anos que eu tenho Pai incrível e até hoje não deixo de ficar pasma com as atitudes dele. Meu Pai do céu, como cabe tamanho altruísmo num pai terreno, assim, de carne e osso? Ele trabalha há 31 anos na mesma empresa o dia todo, às vezes o fim de semana todo. E isso só pensando em garantir o máximo de conforto que conseguir oferecer a sua família. Ele faz tudo pensando em agradar a gente.

Essa semana mesmo, só comentei por alto que estava precisando urgente de uma mochila resistente. Ele decidiu então que compraria pra mim, eu disse: "não, pode deixar, que eu mesma descubro onde vende mochila resistente às minhas trocentas tralhas de fins de semana fora de casa". Eu insisti: "- Não precisa!", e quando achei que tinha conseguido convencê-lo de que o ideal seria que eu mesma escolhesse a melhor mochila do melhor preço, ele me liga durante seu horário de almoço, procurando saber quais características eu buscava em uma mochila.

Disse-me as opções de cores, esperando uma resposta, estava mesmo prestes a comprar. Eu disse mais uma vez que não precisava, achando que a loja fazia parte do seu caminho. E acredite, ele fez ainda uma apurada pesquisa em várias lojas (descobri logo à noite na volta pra casa, enquanto descrevia com propriedade os tipos e preços de mochilas que viu).

Agora, me diz, leitor(a), se não é de admirar uma pessoa dessas? Se dependesse dele, ele poderia passar fome, andar por aí maltrapilho, mas sua esposa? Seus filhos? Esses não! Fico até pensando: se algum dia, por alguma razão, não tivesse comida suficiente no jantar pra toda sua família, certeza que mentiria, sendo bastante convincente, ao afirmar que não sente fome.

Meu Pai de carne e osso é realmente incrível, de um incrível beirando ao inacreditável. Meu Pai é o cara, meu Pai é um santo. Oh, meu Deus, e eu o amo tanto!

Quer me ver triste, arrasada? É eu saber que ele está triste e extremamente preocupado, fazendo as contas do mês na mesa da cozinha, sem nem ao menos dormir direito. Como me dói ouví-lo desabafar às 5h30 da manhã: " - Como eu queria dormir mais! Sinto minha cabeça oca..."

domingo, 4 de dezembro de 2011

Xih...faltou enfeite!


Entrou no quarto do irmão agarrada a um pinheiro de plástico raquítico, segurando-o com um bracinho de menina de 10 anos. Exibia a novidade com uma felicidade incontida. A mãe acabara de comprar o que seria dali a instantes uma mini-árvore de Natal como manda o figurino: enfeites, enfeites, enfeites e uma estrela brilhante na ponta. Quer dizer, não foi bem assim como manda o tal figurino natalino. Mas elas se esforçaram. Ouvi da sala as duas matutarem como se enfeitava uma árvore. " Ah, isso aqui é assim, aqui, filha!" Foi assim até que enfim:

" - Vai, Filha , mostra a ela a árvore coitadinha, quase sem enfeites. (risadas)"

- Cadê? Onde? Não tô vendo!(a mãe reagiu à minha pergunta com boas risadas) Eu indagava sem malícia, sem notar se poderia ofender a menina que sonhava com uma árvore de Natal na sala sempre bagunçada de sua casa. E lá estava o pinheirinho de plástico, tão minúsculo e escondido pelo braço do sofá.

Cheguei mais perto para averiguar se havia mesmo carência de decoração e, de fato, da metade pra cima haviam coisas fofas penduradas. Da metade pra baixo não havia nada, apenas as pontas dos braços do pinheirinho feito um pedinte na rua implorando por uma moedinha, neste caso, por um enfeitinho que lhe desse mais cor, mais vida, mais clima de Natal. Apesar disso, eu não desprezei o pinheirinho, pois havia, uma, uma não, "A Estrela" com grãos reluzentes no topo; meio torta, mas estava lá, é o que importa. Não conta a tal história que foi a estrela que guiou os Reis Magos? Então?! O pinheirinho de Natal me satisfez, mas não a menina exigente que olhava-o com a expressão de quem sente falta de alguma coisa muito importante.

Quando a mãe me confessou que há muito tempo ela pedia uma árvore de Natal, aí eu entendi que ela não estava sendo exigente não; apenas queria que tudo fosse fiel ao seu sonho de Natal.

E agora eu devo cumprir a promessa de levar mais enfeites para o pinheirinho de Natal da Larinha.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Tarefas de casa para adultos

Só eu mesma, pendurando roupas no varal quase meia-noite, meio da semana. O pobrezinho do varal segurando as pontas com tanto peso e eu tentando fazer o milagre da multiplicação de pregadores.

Só eu mesma. Ou não?

Dias corridos pra todo mundo. Dias difíceis, não sei, mas dias cronometrados por um tempo concorrido, sim.

Essas tarefas de casa para adultos...Não sei não; tão simples, mas tão necessárias.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Intriga


Fico intrigada. Eu não sei o que acontece.

Toda vez que volto pra casa, -raramente -, vou decidida na direção do meu 1/4 de Quarto. De início, só pra tirar das costas e dos ombros até rechonchudos para uma magra ("falsa magra"?), o peso das bolsas. É aí então que começo a me intrigar.

Sento na cama e fico encarando um imenso guarda-roupas equivalente a 3/4 do meu Quarto. Observo-o da cabeça aos pés. Ele surge do teto e é grudado na parede. Lá no compartimento do alto, uma boneca gigante de olhos azuis até demais e vidrados. Outra boneca, que parece ser a miniatura da primeira, também é branquela de olhos vidrados e também azuis por demais. O mais intrigante é que nenhuma delas é ou foi minha. Da minha mãe. Ganhou-as de presente, mesmo já bem crescidinha e com dois filhos, na época, adolescentes. Meu pai que a presenteou.

Eu lembro que eu já tentava entender de onde vinha aquela fascinação da minha mãe por bonecas de plástico, donas de olhos fixos aterrorizantes. Eu sempre tive pavor desses olhares longínquos; parecem visualizar um futuro drástico e, por consequência, têm uma visão perplexa a qual, nós, meros humanos, nos tornamos incapazes de compreender ou de desvendar o mistério que se esconde ali, do fundo dos olhos ao fundo da alma. Mas boneca não tem Alma, tem? Não, acho que não. Ou será que ganhavam almas espontaneamente no processo de fabricação e numa das etapas finais, existia alguma máquina que sugava da boca de formato "pede bico" uma alma que quem sabe habitaria ali, dentro do corpinho plastificado, simulação imperfeita do corpinho de um bebê.

Fico intrigada quanto a isso até hoje. A invenção do Chucky nos cinemas teria sido uma conspiração da Associação das Bonecas Pavorosas para me apavorar ainda mais? Pior! O barulho de roedores de madeira tinindo de dentro do meu guarda-roupas, toda vez que preciso pegar uma roupa, seria só o início para o estopim do plano maquiavélico das Bonecas de olhos penetrantes na carne humana? Ahhhhh, um Terror!

E permaneço intrigada me questionando ainda por que minha mãe insiste em me doar suas Bonecas bizarras, numa também bizarra exposição sobre meu guarda-roupas mutilado por cupins.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Você vai longe

Amigos têm isso de botar você pra cima: " Você vai longe!"

E é claro que se eu tiver de ir bem longe, imponho apenas uma condição: que eles, meus poucos e grandes amigos, também venham junto. Aí sim, podemos ir até os planetas. Vamos visitar um a um, até a gente cansar da rotina e resolver criar o nosso próprio universo.

Posso ir longe sim, mas só se for com vocês!

O que tem de ser, será. Será?

Será mesmo que temos um destino traçado? E quem teria definido onde você foi parar? Seria quem chamam de "Deus"? Acho que não. Não sei, nunca acreditei nisso. Pra mim, o que você quer que seja, talvez seja, depende de suas próprias ações. Depende de você. Não há saída, só depende mesmo de você.

"O que tem de ser, será!"

Acho que as pessoas dizem e repetem isso como uma busca desesperada para se livrarem de uma grande parcela de culpa do que aconteceu ou do que deixou de acontecer ou mesmo do que estar para acontecer.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Da janela do Vinícius



Desespero Da Piedade

Vinícius de Moraes

Meu senhor, tende piedade dos que andam de bonde
E sonham no longo percurso com automóveis, apartamentos...
Mas tende piedade também dos que andam de automóvel
Quando enfrentam a cidade movediça de sonâmbulos, na direção.

Tende piedade das pequenas famílias suburbanas
E em particular dos adolescentes que se embebedam de domingos
Mas tende mais piedade ainda de dois elegantes que passam
E sem saber inventam a doutrina do pão e da guilhotina.

Tende muita piedade do mocinho franzino, três cruzes, poeta
Que só tem de seu as costeletas e a namorada pequenina
Mas tende mais piedade ainda do impávido forte colosso do esporte
E que se encaminha lutando, remando, nadando para a morte.

Tende imensa piedade dos músicos dos cafés e casas de chá
Que são virtuoses da própria tristeza e solidão
Mas tende piedade também dos que buscam silêncio
E súbito se abate sobre eles uma ária da Tosca.

Não esqueçais também em vossa piedade os pobres que enriqueceram
E para quem o suicídio ainda é a mais doce solução
Mas tende realmente piedade dos ricos que empobreceram
E tornam-se heróicos e à santa pobreza dão um ar de grandeza.

Tende infinita piedade dos vendedores de passarinhos
Que em suas alminhas claras deixam a lágrima e a incompreensão
E tende piedade também, menor embora, dos vendedores de balcão
Que amam as freguesas e saem de noite, quem sabe onde vão...

Tende piedade dos barbeiros em geral, e dos cabeleireiros
Que se efeminam por profissão mas que são humildes nas suas carícias Mas tende mais piedade ainda dos que cortam o cabelo:
Que espera, que angústia, que indigno, meu Deus!

Tende piedade dos sapateiros e caixeiros de sapataria
Que lembram madalenas arrependidas pedindo piedade pelos sapatos
Mas lembrai-vos também dos que se calçam de novo
Nada pior que um sapato apertado, Senhor Deus.

Tende piedade dos homens úteis como os dentistas
Que sofrem de utilidade e vivem para fazer sofrer
Mas tende mais piedade dos veterinários e práticos de farmácia
Que muito eles gostariam de ser médicos, Senhor.

Tende piedade dos homens públicos e em particular dos políticos
Pela sua fala fácil, olhar brilhante e segurança dos gestos de mão
Mas tende mais piedade ainda dos seus criados, próximos e parentes
Fazei, Senhor, com que deles não saiam políticos também.

E no longo capítulo das mulheres, Senhor, tende píedade das mulheres Castigai minha alma, mas tende piedade das mulheres
Enlouquecei meu espírito, mas tende piedade das mulheres
Ulcerai minha carne, mas tende piedade das mulheres!

Tende piedade da moça feia que serve na vida
De casa, comida e roupa lavada da moça bonita
Mas tende mais piedade ainda da moça bonita
Que o homem molesta - que o homem não presta, não presta, meu Deus!

Tende piedade das moças pequenas das ruas transversais
Que de apoio na vida só têm Santa Janela da Consolação
E sonham exaltadas nos quartos humildes
Os olhos perdidos e o seio na mão.

Tende piedade da mulher no primeiro coito
Onde se cria a primeira alegria da Criação
E onde se consuma a tragédia dos anjos
E onde a morte encontra a vida em desintegração.

Tende piedade da mulher no instante do parto
Onde ela é como a água explodindo em convulsão
Onde ela é como a terra vomitando cólera
Onde ela é como a lua parindo desilusão.

Tende piedade das mulheres chamadas desquitadas
Porque nelas se refaz misteriosamente a virgindade
Mas tende piedade também das mulheres casadas
Que se sacrificam e se simplificam a troco de nada.

Tende piedade, Senhor, das mulheres chamadas vagabundas
Que são desgraçadas e são exploradas e são infecundas
Mas que vendem barato muito instante de esquecimento
E em paga o homem mata com a navalha, com o fogo, com o veneno.

Tende piedade, Senhor, das primeiras namoradas
De corpo hermético e coração patético
Que saem à rua felizes mas que sempre entram desgraçada
Que se crêem vestidas mas que em verdade vivem nuas.

Tende piedade, Senhor, de todas as mulheres
Que ninguém mais merece tanto amor e amizade
Que ninguém mais deseja tanto poesia e sinceridade
Que ninguém mais precisa tanto de alegria e serenidade.

Tende infinita piedade delas, Senhor, que são puras
Que são crianças e são trágicas e são belas
Que caminham ao sopro dos ventos e que pecam
E que têm a única emoção da vida nelas.

Tende piedade delas, Senhor, que uma me disse
Ter piedade de si mesma e de sua louca mocidade
E outra, à simples emoção do amor piedoso
Delirava e se desfazia em gozos de amor de carne.

Tende piedade delas, Senhor, que dentro delas
A vida fere mais fundo e mais fecundo
E o sexo está nelas, e o mundo está nelas
E a loucura reside nesse mundo.

Tende piedade, Senhor, das santas mulheres
Dos meninos velhos, dos homens humilhados - sede enfim
Piedoso com todos, que tudo merece piedade
E se piedade vos sobrar, Senhor, tende piedade de mim!

domingo, 20 de novembro de 2011

mini Planetas Musicais

Meu mais novo vício é colecionar discografias completas de artistas pouco conhecidos por mim e, claro, aqueles clássicos que ninguém deve partir dessa para melhor sem antes ouví-los.

Neste sábado pacato peguei meu arquivo de CDs, uma bolsinha sigilosamente escondida no fundo do armário, sufocada por dois travesseiros. (Bem, agora o esconderijo não é mais secreto. Tudo bem, invento outro.) Escondo porque morro de ciúmes! Imagino alguém tocando-a displicentemente e todos meus planetas musicais, redondinhos achatados, prateados e cristalinos como um espelho, caindo no chão e, no fim, feios arranhões irreparáveis. Não, não posso permitir que qualquer um tenha acesso a eles, principalmente meu irmão, que já demonstrou uma vez não ser capaz de devolvê-los exatamente como os encontrou (em perfeito estado).

É isso. Meus Cds, ou melhor, meus mini-planetas musicais são todinhos meus. Seria egoísmo? Não, não; se isso fosse eu faria questão de entupir minhas orelhas com os fones para somente eu flutuar nas ondas de notas harmonicamente combinadas. Ao contrário, ponho entre o volume 20-28 (máximo suportado pelo aparelho lá de casa) para ecoar de todas as divisas da minha casa até as dos vizinhos.

Ah, nem que seja por pura coerção eles (os meus vizinhos) ouvem música de verdade. Não sou cruel, é pelo bem deles. Ora, não são eles que me obrigam a ouvir o barulhento embate entre dois ou mais paredões de forró NADA-PÉ DE SERRA todos os anos, nas festas de fim de ano?! Então! Também tenho direito de fazê-los assimilar o que é de meu apreço.
Fico tão orgulhosa da minha bolsinha protetora desses meus planetas musicais.

Listo, abaixo, o que já tenho na minha adorada coleção. Certeza ser só o começo do infinito que ainda falta tocar no som da minha sala.

- Raul
- Vinícius de Moraes
- João Gilberto
- Tom Jobim
- Elis
- Caetano
- Belchior
- Beatles
- The Mamas & The Papas
- Elvis
- Queen
- Maria Betânia
- Strokes
- Luiz Gonzaga
- Cazuza
- Marcelo Jeneci
- Tiê
- Marisa Monte
- Adriana Calcanhoto
- Los Hermanos
- Rita Lee
- Maria Rita
- Coldplay
- Franz Ferdinand
- Gal Costa
- Djavan
- Zeca Baleiro

Enfim, muitos e diversos. Meu orgulho concentrado numa pilha imensa de CDs.

Este fim de semana, esse orgulho foi tão grande, que quase chegou a transbordar dos olhos, ao ver minha mãe desapegar de sua mania de limpeza e de dizer " - Desliga esse som, menina!" e, ao invés disso, vir me pedir com emoção escancarada: " - Coloca o Gonzagão de novo, filha! Ihuu!" E quando me dei conta, ela já estava tirando meu pai pra dançar. E pra animar ainda mais a festinha, vem o meu irmão, fazendo suas tradicionais palhaçadas, com um chapelão de mexicano. Imagine só, um mexicano nordestino, dançando Luiz Gonzaga.

Nunca estive tão feliz em minha vida. Não haviam brigas, nem preocupações, apenas pé-de-serra nos pés de uma família, a minha família, mais feliz que aquelas de propaganda de Margarina.

sábado, 19 de novembro de 2011

Homem-menino passarinho


Essa bolinha de penas coloridas é o Tangará dançarino ou, cientificamente nomeado Chiroxiphia caudata. Os machos são azul-celeste com uma coroa vermelha na cabeça, enquanto as fêmeas são verde-escuras.

Se, assim como eu, você, leitor(a), tem admiração e inexplicável encanto por pássaros, você precisa ler e assistir à matéria do programa Globo Repórter, intitulada "Ornitólogo consegue identificar espécies de pássaros ouvindo o som." Convidaram um ornitólogo e olha só que linda história ele conta:

" - As memórias que eu tenho da minha infância, no sul de Minas Gerais, na casa dos meus avós, eu era sempre envolvido correndo atrás de pássaros. Eu caçava passarinho com estilingue e botava em gaiola. Quando eu tinha por volta de 13 anos, eu estava na sexta série e teve uma feira de profissões no meu colégio. Eu pensei: ‘Se é possível viver de ver passarinho, eu quero viver de ver passarinho’”, lembra Luciano. “Itatiaia foi onde eu comecei minha fissura, minha paixão pelas aves. No começo, eu levava meu irmão, com binóculo pendurado no pescoço, e saía procurando os passarinhos. Não demorou para que as pessoas começassem a me chamar de menino passarinho.”

E o homem-menino passarinho, enquanto dava entrevista e pesquisava, capturando as diversas espécies da Mata Atlântica por meio de uma rede, eu agonizava de inveja branca dele. A rede que ele usa não machuca os pássaros, pelo contrário, é para o bem deles. O pesquisador pega os bichinhos cantores, envolvendo-os nas mãos. Depois de anotar o peso e medidas, devolve-os para a natureza. Cheguei até mais perto da TV pra observar bem como ele fazia pra soltá-los. O ornitólogo deita o passarinho com papinho pra cima nas costas da mão e em seguida sopra. Tão rápidos os movimentos do bichinho penudo, que quando percebemos, já está voando longe.

Ah, meu Deus, como tenho vontade de formar uma grande concha com as minhas duas mãos pra envolver um pássaro lindo desses num abraço moderado, que não o machuque, e enchê-lo de beijinhos até o momento de libertá-lo.

Assim como o Menino Passarinho da matéria, ainda serei uma Menina Passarinha. Ô, se não!

A plantinha da minha sala de trabalho

Quase uma hora; da manhã. Contando carneirinhos não, mas pensando seriamente na plantinha que esqueci lá na sala do trabalho. Não mais ficará lá. É como prender um passarinho na gaiola, só que entre paredes e com o ar de um ar-condicionado. E viagens de leva e traz é um tanto cansativo para a bichinha. Ela ficará definitivamente no Jardim da minha mãe.

Es-que-ci a plantinha no trabalho. Oh, Céus, se ninguém da Limpeza notar a presença dela, morrerá de sede este fim de semana. Acho que vou buscá-la. Ou melhor, ligar para o colega de trabalho e pedir pra ele dar água e sol a ela.

Memória,querida,bendita,sua ausência ainda custará uma vida.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Sem graça

Procurei o negro bichano, hoje, no mesmo lugar que o vi da primeira e única vez e, poxa, ele não estava lá.

Olhei para aquele mato já calvo e invadido pelo que foi simplesmente descartado - o que chamam de "lixo", e a intuição me disse que alguém o descoloriu. Será que o gatinho foi levar cor para outro canto?

...

Sem ele, vazio aquele espaço. Vazio o coração.

Sem graça hoje.
Por favor, gatinho preto, dê o ar de sua graça!

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Negro bichano



Dia desses, acompanhei só com o olhar um momento alheio de descontração. Era de um bichano preto. Supertições à parte, era apenas um gatinho preto, sem magia negra, sem simbolizar sorte, sem sete vidas, enfim, era só um gatinho num terreno baldio com tapete de mato assanhado e careca em algumas partes.

Ele estava ali, logo na descida da ponte, de manhã cedinho, trânsito caótico, clima de segunda-feira, de compromissos à espera. Só ele não tinha compromisso algum. Estava brincando de caçar borboletas invisíveis aos nossos olhos. Tinha um olhar astuto de gato. Ainda bem que não era de noite, se não, me assustaria com o brilho intenso de seus olhos enigmáticos.

Lembro de quando era criança. Havia uma grande janela sempre aberta na área de inverno, pela qual os bichanos desconhecidos invadiam minha casa toda noite. Quer dizer, não sei se era toda noite; só flagrei uma vez um perto da porta do meu quarto. Libertei um grito de pavor. Afinal, era um invasor na calada da noite. Mais pareciam duas bilas fluorescente a flutuarem na escuridão. Encaravam-me fixamente; não eram como vagalumes piscando. As bolinhas não titubeavam, mantinham-se acesas, brilhando pra mim.

Felizmente, já superei esse trauma de infância; ou pelo menos acho que sim, já que desde esse dia nunca mais fui surpreendida ao ter de corresponder, mesmo que sem querer, ao olhar de um negro gato nas trevas de uma ausência de luz.

O fato é que aquele lindo gatinho, concentrando-se na caça invisível, depois dando pulinhos e atirando suas patinhas contra o vento, deram um novo significado para minha rotina e para a de quem mais olhou, enxergando, aquela cena como um presente enviado dos céus. E embora aquele animalzinho peludo tivesse uma cor tão escura, conseguiu colorir bem nossos arco-íris preto e branco.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

O labrador aqui de casa

Tão esperto o labrador aqui de casa. Esperto à espera do afago que memorizou onde receber um dia desses:

" Se eu encostar aqui, bem perto do sofá onde ela está deitada, certeza que vai pentear meu pêlo com a mão e vai coçar atrás da minha orelha"

Acho que ele pensa assim, mas sabe que me assusta os seus movimentos bruscos e desengonçados. Afinal, ele é maior do que eu. Parece até que me conhece profundamente. Sabe que não gosto do molhado da baba dele. Então, ele fica aqui, bem quietinho, aceitando minha forma de querê-lo bem.

Outro dia, ficou com as patonas pra cima, deitado e curtindo a coceirinha que eu fazia na barriga de pele loura-branca rosada e tão macia!

Meu presente : )


Este, sim, um dos melhores presentes que já ganhei.

Foi assim: a pequena inquieta, 6 aninhos, danada, quando eu menos esperava, quando eu só esperava que fosse aprontar mais uma peripécia, me veio com essa folha do meu bloquinho de anotações.

- Olha, a setinha tá apontando pra onde?

Inclinei minha cabeça para a esquerda com a mesma delicadeza do gesto dela, e com olhar surpreendido, concluí:

- Ah, pra mim! Não é?

- É sim! Pra você!

- Que lindo, um coração com duas asas!

- Não, não, são duas mãos!

- Ah, mas parecem asas.

Pra mim, pareciam asas sim. Meu coração voou longe de tanta alegria pela demonstração de carinho que só uma criança sabe dar. Engraçado, era praticamente a primeira vez que ela me via. Quando me viu da última vez, a filha de minha madrinha ainda era bem pequenininha. Ah, ela não lembraria. E mesmo assim, meu Deus, ela gostou de mim. Não sou convencida não, ela mesma me disse. Não só disse, como também encontrou a forma mais simples de provar o seu gostar de mim.

A danada ainda alfinetou meu irmão com sua espontaneidade de criança:

- Eu ia fazer um pra ele também. Mas esqueci, porque gosto mais de você!

E o tadinho do meu irmão, levando na esportiva e falando baixinho pra ela não ouvir:

" - Crianças...ainda não sabem que sinceridade demais dói."

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

No money, No eu nem você.

Dinheiro. Ah, se eu tivesse. E só do que estou precisando (de necessidade) e desejando ( coisas que posso viver sem, mas não sou feliz sem) a lista é infindável. Vejamos, sem ordem de importância:

- Mochila
- Violão
- Bolsa preta
- Mala nova
- ao menos mais um par de sandálias
- óculos novos com grau revisado
- um aumento
- grana para aulas em autoescola
- carro
- celular novo
- roupas novas
- grana para pós-graduação
- promoção
- pagar as contas do mês, pagar menos impostos
- ler a pilha de livros novos
- comprar mais livros novos
- aulas de canto e violão
- viajar a lazer
- silêncio, barulho
- aconchego, muvuca
- mais convivência com a família
- mais convivência com o namorado
- mais convivência com os amigos
- formar uma banda autoral
- ouvir mais música, ouvir mais o outro
- conversar mais, falar menos, falar mais sozinha
- planejar menos, fazer mais
- chorar menos, cantar mais
- reclamar menos, solucionar mais
- uma casa nova e menos longe de tudo
- mais manhãs na praia
- mais bike, menos ônibus/topic/caronas
- mais encontros
- mais descontos

Et cetera e tal.

Quer dizer, no money, no eu nem você. E sem essa de que dinheiro não compra felicidade. - Bendito Dinheiro, quem inventou que nós precisamos de você? Aliás, quem inventou você?

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Em movimento


Quando pus os tênis, os fones e saí por aquele portão, não imaginava que cairia em algo parecido com a toca do coelho de Alice. A princípio, eu só pensava em me aprofundar mais na onda "Geração saúde", indo além da academia a semana inteira e partindo de corpo e alma em movimento para um domingo de Sol.

Aliás, sugiro que domingo não seja só um dia pacato e melancólico em que ficamos de pernas pro ar. É injusto delegar uma função tão triste aos domingos amigos, de doces maravilhas ao lado de quem te faz uma pessoa melhor - família, amigos, amores, seja quem for, pessoas que naturalmente têm o dom de recarregar seu espírito com uma carga forte e extraordinariamene durável. Domingo deveria ser um misto de disposição e preguiça. A partir das 8h da manhã, uma boa caminhada ou corrida numa trilha ecológica pra deixar o sangue avisar a você que você é mesmo um ser vivo, com aquele sangue queimando sua face, suas pernas e tudo o mais. E depois, bem, depois poderíamos tomar uma água de côco bem gelada, almoçar e se deixar levar pelo balanço de uma belíssima rede rendada.

Mas o meu domingo não foi bem assim.

Eu saí naquele dia quente planejando caminhar apenas no limite circular da praça. Eu faria exatamente igual ao que via os outros praticarem em outras praças mais concorridas que aquela. Aquela é deserta. Aposto que ela ainda está lá a esta hora, tão solitária como sempre esteve. Se eu tenho medo de caminhar ali? Não, eu não tenho receio algum; talvez porque nunca tenham encostado uma arma em minha cabeça como fizeram ao meu pai, ou talvez porque a liberdade me encanta tanto, que perco por algumas horas meu lado racional.

Se o meu plano, desde o início, era fazer daquela praça uma grande esteira de cimento em que eu partiria de um ponto e chegaria sempre a esse mesmo ponto, vendo sempre a mesma paisagem redonda, por que eu nem sequer caminhei até ela? Eu avistei outro caminho que logo julguei ser mais envolvente que aquele. Deixei que minhas pernas fossem levadas pela minha decisão emocional. E eu sei muito bem porque desviei da trajetória circular. Eu sabia que aquela outra, disforme, se transformaria na forma que eu quisesse por meio das minhas próprias pegadas.

Passei um bom tempo caminhando sob as árvores, porque estas sim, exercem um imenso poder de atração sobre mim, é como se eu me sentisse protegida por elas. Decidi depois que seria bom experimentar como seria a tão famosa caminhada na praça. Porém, não gostei não. Senti-me avessa àquele costume. Logo, fugi da delimitação com forma de círculo. Se houver mesmo um espírito bondoso observando a gente lá de cima, com certeza deve ter visto um pontinho branco se afastando do anel cinzento da praça.

Distanciei-me da praça no exato momento em que vi o lago e um bando de pássaros negros voando sobre ele. Parti para a beira do lago. Lá a terra chega a ser tão úmida que mais parece areia movediça. Mesmo assim, ainda consegui achar um canto confortável pra sentar e observar o início da imensidão que se apresentava aos meus olhos. Pressenti que os pássaros se exibiam pra mim. Voavam tão livres eles e cantavam bem mais alto quando os vi. Mas já era hora de partir. Eu sabia que não terminava ali, que havia mais algos pra se contemplar. Algos bem maiores que eu. Acredite, eu me sentia bem menor do que já sou. Parecia mesmo que meu tamanho havia diminuído bastante, como o da Alice do País das Maravilhas, só que sem o efeito reverso, já que não tenho a menor estrutura para gigantismos.

Levantei e tentei manter o equilíbrio na terra fofa. Por um segundo, veio o medo, mas logo achei solução. Fugi da beira do lago dando pulinhos, feito pisando em ovos num campo minado. Disse um breve tchau ao lago e já nutria um outro plano. Daqueles planos que a gente deixa muito tempo martelando na mente pra encontrar o momento certo de colocá-lo em prática. Meu plano era chegar perto da Montanha de mato verde musgo. Parece que ela sempre esteve ali, ao contrário da praça. E eu queria chegar o mais perto possível, talvez na vontade de adentrar de verdade na paisagem, como entrar numa fotografia.

Mas algo me intrigou. Quanto mais eu me aproximava, mais a montanha se distanciava de mim ou eu dela. Parecia até que me desafiava. Queria que eu me sacrificasse. Queria que eu deixasse meu presente pra trás, meus amigos, minha família, minhas paixões. Isso eu não poderia jamais. Então, tratei logo de encontrar outro canto quase confortável pra sentar.

Eu poderia ficar ali o tempo que eu desejasse. Eu saberia o caminho da volta, tendo como referência a praça. Eu sabia que eu logo voltaria. Estava começando a ficar meio encabulada no meio de toda aquela natureza. Sim, querendo ou não, eu era uma intrusa no ambiente e me sentia cada vez mais envergonhada cada vez que avistava uma garrafa de plástico seca ou embalagem esvoaçante no meio do caminho das pedras, dos matos, do rio. Eu sei que não foi eu, mas a Mãe Natureza pode ter pensado: "Ela também é um deles, um desses humanos destrutivos." Eu era, então, uma ameaça. Ué, será que Ela não notou que mantive minha garrafa d'água na mão, mesmo completamente seca em grande parte do percurso, e que não haveria cristão no mundo que me convencesse a largar o plástico naquele verde tão lindo?

A vegetação crescida estava tão arredia comigo. A planta quase atingiu em cheio meu tornozelo com seus espinhos. A sorte para os meus pés foram os tênis super protetores. Felizmente, o saldo final dos incidentes foram só alguns carrapichos grudados e obstinados a continuarem agarrados aos cadarços dos meus tênis. Apenas isso, nenhum arranhão, - é que a Natureza não é vingativa como o homem, ela apenas reage pra sobreviver, não é vingança não.

Eu decidi retornar. Já não cabia em mim de tamanha vergonha por conta da invasão do lixo ali. E quando voltei, logo notei que já fazia falta. Era minha mãe na praça, perguntando : " - Por onde você andava, menina? Achei que tinha se perdido!" Mas não, não me perdi não. Na verdade, me encontrei na aventura daquela caminhada, no roçar do mato alto, no dosar de cada pegada minha marcada naquele espaço.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Na gaveta mais bonita do coração.



Eu posso não ter uma memória muito confiável, mas a imagem ao vivo e a cores, à vida e aos amores, que registrei hoje, já guardei a sete chaves na gaveta mais bonita que tem o meu coração.

Eu não sei nomes, nem idade, nem o desenho do rosto da pequena, mas havia hoje, no ônibus, sentados lado a lado nas cadeiras preferenciais, um senhor tão lindo, com cara de vovô, a brincar com a bebê encaixada no colo de sua mamãe.

Ele fazia cócegas na mão pequena e depois no joelhinho dela. Tive a sensação de que não se conheciam, mas havia naquilo uma afetividade de outros tempos. Mais parecia que ele se encontrava, sem espelho no meio, com ele mesmo quando bem pequenino. E aquele reencontro não lhe causava nenhum arrependimento. Não sentia nem mesmo vontade de voltar no tempo. Como se todas as lágrimas, as dádivas, os encontros, as rupturas, tivessem valido, sim, uma vida inteira; com ruga e sem fuga de quem foi e de quem pode ainda vir a ser.

sábado, 15 de outubro de 2011

Causa da morte: Gula

Qualquer dia desses, morro pela boca, certeza!

Eu sei que educado e chic é comer pouco. Mas, por que, se comer não é só uma necessidade, é entretenimento também?! Uma porção de restaurantes se concentram e ao mesmo tempo se espalham pela cidade. O vento se transforma numa mão flutuante, com um dedão indicador soprando e dizendo: "- Venha...Venha!"

Não sei o seu, mas o meu prato fica sempre vazio depois do almoço e do jantar. Minha mãe sempre diz: "- Se não como `comida de panela`, nem parece que comi." Eu herdei essa sensação dela. Não culpa dela, mas culpa minha esse inchaço permanente no estômago. Antigamente, a bolinha na barriga era passageira; surgia assim que eu devorava o prato. Hoje, não, o buchinho fica me lembrando que está ali 24 horas. Buchinho não, a verdade nua e crua é que aos 23 anos virei menina do buchão. E não são vermes. Cruzes! Tomara que não! Nem gravidez, Cruzes outra vez! Também não é chope, nem cerveja, nem líquido durante as refeições, nem refrigerantes - Coca, Kuat, Fanta, fiz questão de exterminá-los de vez dos meus hábitos alimentares. Tanto, que hoje tenho orgulho de sempre ter que repetir: "- Refrigerante? Só pra ele, não tomo refrigerantes!" E a pessoa diz: "- Que saudável você é! Me diz, há quanto tempo?" E respondo com satisfação: "- Há 2 anos!!"

Já cansei de buscar soluções para a minha protuberância no abdómen; uma pena eu não cansar de me divertir à noite. Meu lazer é assaltar a geladeira; é que preciso alegrar minha semana. Infelizmente, tenho que encarar o fato de que, quanto maior o cansaço, mais monstruoso é o meu apetite. Às vezes, tenho a impressão de que meu buchão vai explodir a qualquer momento. Felizmente, o máximo que acontece é sentir que estou forçando minhas vértebras.

A sorte é que não tenho coragem de viver uma cena clichê de filme de comédia romântica, em que a mocinha sofre uma desilusão amorosa e se agarra ao pote de sorvete de frente pra TV. Puxa, seria o fim pra mim. Fico imaginando o médico constatando: "- É, essa aqui morreu pela boca! Não de falar muito, mas de comer tanto".

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Das 5:20 A.M às 8:00 A.M

Definitivamente, eu não sou a melhor pessoa do mundo entre 5:20 A.M e 8:00 A.M! Sim, eu sou a pessoa mais chata do mundo, principalmente na Academia de manhã cedo. Não que me desagrade o ato de malhar, gosto muito, aliás, só não consigo reagir numa tentativa de comunicação cedinho da matina.

Não, eu não faço amizades em Academia e não consigo me colocar no lugar dos falantes de Academia para compreender o que os leva a isso. Nem faz sentido. Veja bem, Academia é sinônimo de exercício físico, e não linguístico. É um local para exercitar o corpo, e a mente também! Tudo bem que penso em muitas abobrinhas enquanto faço aqueles exercícios repetidamente, mas também penso na vida, no universo e em tudo o mais ( vi essa expressão na trilogia do "Guia do Mochileiro da Galáxia" e gostei tanto, que resolvi me apropriar dela).

Então, fico feliz de não ter amigos na Academia. Ora, se nem com meu pai, que é meu pai querido demais, eu me arrisco trocar mais que meia palavra àquela hora da manhã, imagine bater altos papos com um estranho ou estranha na Academia?!

Para fugir da cilada de ter de falar em um momento no qual ainda nem acordei, - andando por aí feito uma sonâmbula, feito uma zumbi, feito um corpo desalmado, enfim, feito qualquer coisa que não pareça um ser vivo em seu estado normal - entupo minhas orelhas com boa música estourando nos fones. Só sinto pelos pobres fones a tremerem diante do meu exagero de apreço ao álbum selecionado.

Ah, e como esses meus fones são mágicos! Não sei como eles adquiriram um poder de transportar a gente para um mundo alternativo. Sinto-me dentro de um clipe, ou sobre um grande palco de um maior festival de música do Mundo. É aí que percebo que não estou tão morta-viva quanto imagino toda vez que caio da cama com pavor do despertador. Sabe, acho que daria um prêmio daqueles pra quem teve essa brilhante ideia de um trocinho tão pequeno, poder armazenar tanta música preferida.

Sim, pois, voltando ao delicado assunto de ser ou não uma pessoa amigável logo de manhã bem cedo, eu não tenho amigos na Academia, porque eu não sou mesmo a melhor pessoa do mundo para ficar desejando repetidas vezes "bom dias" sinceros.

E, caso alguém tente estabelecer contato, mesmo que um breve contato comigo, então sou praticamente coagida pela educação ensinada pela mamãe e pelo papai a responder "Bom dia! - ( sorrisinho)". Mas não, eu não consigo. É uma força maior que eu que me impede de agir assim. Então eu respondo: " - bom di..." ( sem sorrisinho, só a boca entreaberta) " O bom dia que sai de mim é pronunciado numa versão preguiçosa e antipática, quase a contragosto, quase impossível de ser captado pela audição de meu interlocutor solitário neste medíocre processo de comunicação.

Depois de pensar bastante em como me tornar uma pessoa melhor, concluo que não dá. Não é de mim isso de ser a pessoa mais simpática da Terra das 5:20 às 8:00 A.M.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Mulher de homem de Agência

Agência de comunicação, é esta a qual me refiro. A princípio, nem parece tão polêmico assim; mas, claro, se tem o lado ruim, também tem o lado bom.

Você vai se cansar de estar tanto com seu "eu". Sério, até certo ponto você ainda pode se aturar, mas depois, até o grilo "grilando" lá fora e o grilo da sua caixola te irritarão profundamente. É, posso estar exagerando, mas a Mulher de um homem de Agência pode se transformar mesmo numa Mulher grilada.

Você vai pensar um monte de bobagens e chegar ao ponto de decretar com veemência: - " Não, isso não é vida. Procure outro job." Não job de job (pedido de criação), e sim job de Trabalho mesmo, sabe!? Aquele Trabalho que você dá o gás da hora tal à hora tal e ponto - bate o ponto -, nem 8 horas a mais, nem 8 horas a menos.

É, isso seria um sonho em plena vida real.

O jantar seria devorado ainda quentinho; a cama estaria sempre com aspecto de que ali passou um tufão; os móveis da casa estariam repletos de roupas penduradas; os filhos nem estariam mais cobrando um muito de atenção; você saberia mais sobre a vida do seu homem de Agência, e o mais importante: você se habituaria mais com os hábitos do seu homem de Agência. Acho até que a respiração alta dele nem te incomodaria tanto, nem as manias inusitadas.

Mas como uma boa Mulher de homem de Agência, você também deve "pensar fora da caixa" e enxergar o lado positivo das coisas.

Enquanto seu homem de Agência AINDA está na DROGA da Agência, você está ali consigo mesma (até certo ponto, reafirmo), lendo um bom livro, ou numa mesa de bar com os amigos, ou conversando bobagens no Gtalk, ou interagindo com a natureza numa caminhada, ou, ou, entre muitos ous de possibilidades.

Separação.


Quando criança, não entendia o tamanho egoísmo ao se domesticar um pássaro. É como guardar um ursinho de pelúcia solitário na estante, pra brincar com ele de vez em quando e nada mais.

Hoje sei e posso contestar qualquer decisão de alguém próximo que envolva a privação da libedade de uma espécie. Eu sei que é difícil, por isso mesmo estou colhendo forças para me separar do meu pequeno amigo, mais conhecido como periquito da caatinga, adquirido por minha mãe quando eu ainda não tinha consciência pra impedir aquela "troca".

Por favor, não comprem mais pássaros; é como sufocar a liberdade e aprisioná-la numa gaiola cheia de ferrugem.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Meu primeiro voo


Antigamente para mim, avião era só uma estrela vermelha pulsante no ceú. Talvez seja a mesma percepção que os bebêzinhos têm ao seguir com o olhar a direção que aponta o indicador da mamãe, que insiste em mostrar aquilo como distração para calar o choro.

Hoje sei que aquele objeto, resultado da capacidade humana de transformar as coisas, não é apenas um ponto de luz distante. Estive perto, muito perto. Estive nele, naquela coisa imensa e voadora.

Foram quase as quatro horas da viagem inteira, observando com a curiosidade de olhos pueris todo o espetáculo de azul e nuvens. Acho que, se existisse alguém com os super poderes de um Super Homem voando por ali, veria só uma cabecinha grudada na janela da asa direita, atenta a tudo, a todos os "algodões" flutuantes, a todas as "maquetes" de cidades desconhecidas, a todas as luzes da noite - amarelas ou brancas.

domingo, 25 de setembro de 2011

3 paredes



Não sobrevivo entre quatro paredes. 1 hora entre 4 paredes e tenho um crônico ataque de impaciência. Mais pareço uma criança mimada pulando num choro escandaloso. É assim, toma meu corpo e se apropria de minha mente a sensação de uma vida se esvair em segundos; do tempo se estampar no céu e eu não poder contemplar todas as variações de cores. Oh, e como o tic-tac do relógio me aflige.

Ah, eu poderia estar lendo mais meus romances amontoados em grandes pilhas na escrivaninha. Eu poderia estar escrevendo um livro. Eu poderia estar amando mais. Eu estaria conhecendo outros mundos, outras culturas.

Mais de 8 horas no trabalho e eu poderia estar fazendo a diferença no universo. Poderia estar pondo pra secar nos varais dos quintais do mundo os choros abafados dos miseráveis.

Mais de 3 horas na internet, e eu poderia estar pensando numa saída para muitas desgraças do nosso país. Poderia estar refletindo sobre as coisas que muitos acham que não podem ser transformadas em algo melhor. Ah, eu acharia uma forma de serem menos piores.

E como eu não quero me limitar ao "poderia", estou andando muito pelo mundo a fora. E vocês raramente me encontrarão em casa em visitas surpresas.

Meu mundo, agora, tem 3 paredes. Vivo amparada por elas. Uma à direita, outra à esquerda e outra à frente. A quarta não existe em tijolos visíveis. Não é propriamente uma parede; é algo abstrato e muito subjetivo. É essa quarta dimensão que me impulsiona pra frente com uma força surreal, uma força da qual sou a própria fonte.

A parede à direita é repleta de quadros, dentro dos quais estão ali minha pequena família, meus amigos, e até gente desconhecida ou as que conheço de vista; pessoas e bichinhos que cruzam o meu caminho e que contribuem pelo que venho me tornando como pessoa.

A parede à esquerda sempre está em construção. O cimento pra fixar ali as experiências vividas nunca seca. Posso brincar de deixar desenhado lá minhas mãos e meu coração. Oh, e se cometo algum grande erro em uma das estradas que escolhi, posso voltar imediatamente, sem medo, e refazer do jeito mais justo, porque estão sempre preparados em minha língua, pra sair entre meus lábios o "Desculpe", o " Me perdoe", o " Eu posso corrigir".

A terceira parede é azul de dia e negra de noite. Nela tem nuvens. Nuvens que passam rápido, que formam desenhos no céu. O vento vai lapidando aquilo e trasformando a paisagem constantemente. Nesta, poderá vir o Sol, como poderá vir a tempestade. E como um pescador, temos que estar preparados pra tudo.

Essa terceira parede é você, sou eu. E como diria Raul, " eu prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo."

sábado, 17 de setembro de 2011

No jardim de minha casa

A paz floresce no jardim de minha casa, onde a única ruga de preocupação que se desenha em meu rosto é ao observar, intrigada, o punho da rede em desalinho.

No jardim de minha casa, contemplando o verde colorido erguido sobre os jarros, ganho um presente do Criador: um beija-flor que pousou no fio da Coelce.

Logo ele furta o néctar da flor cor-de-rosa.
O jeito espalhafatoso e o bico fininho e comprido dele me arrancam um sorriso daqueles.

Pra completar o dia em plena harmonia, o som das folhas, feito música ao balanço do vento, me faz pensar: "- Meu Deus, nós merecemos mesmo isso tudo?"

Meus amigos, meus irmãos!

Tão incrível esse sentimento de forte ligação de parentesco por um amigo(a). É diferente, edificante.

Rimos e choramos por motivos iguais e diferentes.
Pensamos e falamos nossa ideia ao mesmo tempo, e por isso rimos novamente.
Quando nos magoamos, temos humildade suficiente para pedidos sinceros de desculpa, e por isso choramos novamente.

Dividimos novas experiências, viagens, aprendizagens.
Oferecemos do segundo ao último biscoito do pacote ( diz a sabedoria popular que o primeiro melhor não!)

Compartilhamos o carinho grande um pelo outro.
Temos sonhos complementares, completamente nós.
E não é clichê, nem exagero, declarar que dois ou mais amigos são um só.

Meus amigos são meus irmãos, meus primos, e toda a árvore genealógica nos apresenta uma simples lógica de que não é preciso ter o mesmo sangue para que haja familiaridade.

Seria, então, um vínculo que se formou faz tempo; em vidas antepassadas?

Com enorme estima, fica aqui minha homenagem aos meus poucos, mas muitos amigos.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

O Dia em que a água acabou

Pois é, também não consigo imaginar.

Então, por favor, você que me lê, se souber de qualquer torneira pingando, da caixa d'água derramando, da vizinha lavando a calçada, da criança brincando de bexiga d'água, afirme novamente, defenda até o fim ( ou melhor, até antes do "fim") que não dá mais pra agir assim, fingindo que aquele choro da torneira é normal ( depois a gente conserta!).

Ah, faça-me um favor! Quer dizer, faça esse grande favor ao meio, ao homem, às próximas gerações. E esse manifesto não é porque me inspirei na Lisa Simpson não! É só conscientização, minha gente. Vamos guardá-la não só na mente, mas também no coração. E,claro, nas mais simples ações.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Minha Mala Maltrapilha

Sim, essa mala toda aberta e desengonçada é minha!

O zíper quebrou e o perdi. Ignorei e continuei a usá-la. Agora, ela rasgou nas laterais e nem dá mais para colocar outro zíper. Mesmo assim, ainda carrego-a elegantemente suspensa em meu antebraço, como se nada tivesse acontecido. Simplesmente entendo e aceito a sua nova condição. Parece que ganhou um charme a mais. Parece aquelas raras pessoas que fazem questão de manter os fios brancos e as rugas no rosto.

Muitas vezes minha mala fica ali, pendendo mais para um lado só. E lá estou eu, no meio da rua, amparando-a para que não deixe escapar os itens avulsos ou, por incrível que pareça, os itens dentro de outras mini malas ( parece até que a mala maior deu cria).

Por vezes minha mala pode ser vista sobre o "tapete" carrancudo do transporte público, sinal de que também por vezes posso não suportar tanto peso. Peso demais chega a machucar, e só me dou conta ao perceber meu antebraço marcado por tons de vermelho. Aí então preciso de um pouco de descanso. Aproveito para dar um tempo pra minha mala.

Ela é maltrapilha e aberta no meio, mas é a minha querida mala, a que me acompanha nas mínimas às maiores aventuras do dia a dia.

E se você aí também se comover, como outras pessoas têm se manifestado pra dizer: "Vou te dar uma nova mala de presente!", vou responder: " - Obrigada, mas a minha mala maltrapilha é insubstituível."

O Suicida

Tive pensando nessa gente que comete suicídio.
Quando para eles a saída é voar alto no céu do chão.
E como será quando palpita dentro da alma o arrependimento?
Há pouco achavam que era sonho surreal, que voltariam intactos.

Tive chorando a dor de um suicida.
Tive pesadelo, caía o meu cabelo, rendia-se o meu joelho direito.
Olhos vazios, cãibra no peito
Tive pensando.
Seria; é egoísmo arrancar sua vida da vida dos outros desse jeito.

sábado, 3 de setembro de 2011

Risco alheio: do blog "Papo de homem"

"Cada vez mais fechados em seus egos, muitos homens projetam toda uma vida focada em seus interesses pessoais e imediatos. Raramente pensam em deixar um legado ou construir algo significativo para outras pessoas. Caminham sem propósito."

Por Frederico Mattos Sonhador nato, psicólogo provocador, escritor de um não-best-seller e projeto de empresário. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas medita, dança dabke, lava pratos e escreve no blog Sobre a Vida. No twitter é @fredmattos.

domingo, 28 de agosto de 2011

Risco alheio: "Por que as mulheres roem as unhas?"

[...]

"Que tal uma Associação dos Roedores Anônimos de Unhas, na qual as pessoas fariam encontros semanais para dar força uma a outra e contar há quantos dias não mastigam as pontinhas de si mesmo?

Sábado passado, no almoço, eu tive a impressão de que esse tipo de encontro pode funcionar. Estavam ao meu lado, na ponta da mesa, duas mulheres que não conseguem deixar as próprias unhas em paz. Uma eu conheço bem, a outra conheci na hora. Foi bonito ver como as duas, que jamais haviam se visto, rapidamente passaram a trocar informações sobre o mau hábito comum: desde quando? Em que circunstâncias? Como você lida com isso? Eu fiquei ali olhando, escutando, pensando. Continuo sem entender por que as mulheres roem unhas, mas desde então fiquei com a sensação de que há nesse mistério certa beleza, equivalente, em outro plano, à beleza de longas unhas pintadas."

Por Ivan Martins, editor-executivo de Época.

sábado, 27 de agosto de 2011

Risco alheio: "Vanguart" da Mallu Magalhães

Pronto, esta é uma das canções com a qual me identifico. Muito bom, Mallu!

Ah, se eu fizesse tudo que eu sonho.
Se eu não fosse assim tão tristonho
Não seria assim tão normal

Ah, se eu fizesse o que eu sempre quis,
Fosse um pouco mais feliz
Levantasse o meu astral

7 dias vão e eu nem fui ver
7 dias tão fáceis de se envolver

Ah, se eu tivesse fotografado
Se eu tivesse integrado
Ao mundo sobrenatural

Ah, eu seguiria o realejo
Desenharia o que eu vejo
No meu cereal

30 dias do mês que ficou pra trás
E eu sou só mais um desses meros tão mortais

Mas ah, se eu fizesse alguma diferença
Se eu curasse alguma doença
Com uma força genial

Ah, eu cantaria pra fazer sorriso
Eu perderia o meu juízo
Só pra ser especial

7 dias vão não e eu não fui ver
São 7 dias tão fáceis de se envolver

30 dias do mês que ficou pra trás
Eu sou só mais um desses meros tão mortais

Mas ah, se eu fizesse alguma diferença
Se eu curasse alguma doença
Com uma força genial

Ah, eu cantaria pra fazer sorriso
Eu perderia o meu juízo
Só pra ser especial

http://www.vagalume.com.br/mallu-magalhaes/vanguart.html#ixzz1WHG80mia

Que tal uma smurfdancinha?

Sabe aquela simplicidade com fortes indícios da tal Felicidade? Enquanto "smurfdançava" no final da sessão de Smurf com a Larinha (irmãzinha do namorado), tive essa sensação. Então, que tal uma smurfdancinha?

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

"Algo diferente"

E lembrando do vídeo, que é sucesso no youtube ( " - Hoje, resolvi fazer algo diferente"), na batalha do dia a dia no trabalho, compartilho com a equipe o seguinte pensamento: Pra fazer algo diferente, basta parar um pouco pra pensar e se perguntar: - Então, como seria se fosse de outra forma?. Assim, cedo ou tarde, surgem milhões de respostas. E essa foi a reflexão do dia.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Amor: primeiro e último

Tem gente que não bota fé que o primeiro amor pode ser único e sempre. Só acredita quem sente. Desculpa aí, galera que se frustrou. Queria eu que vocês tivessem a mesma sorte!

sábado, 20 de agosto de 2011

Eis aqui uma Ex

Eis aqui uma ex-roedora de unhas, ex-consumidora de refrigerantes, ex- moça dos cabelos longos, ex-garota calada e outras exs as quais não me vêm à memória agora. Depois dessas pequenas mudanças, percebo que, em meu organismo, há menos males, menos açúcar, menos comodismo; enfim, vários menos que me permitem ser mais com muito menos.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

"Chegadinho"



Comprei dois saquinhos plásticos de uma espécie de "hóstia" gigante, sutilmente açucarada. O vendedor parece que viu o brilho nos meus olhos e ofertou: "- É um e cinquenta um pacote, mas faço dois por dois reais." Hum...fiquei tentando lembrar o nome. Minha sorte foi conversar com um estranho e ele me dizer que se chamava "chegadinho" Parece que, nem quando criança, eu sabia o nome

. Só sabia de cor o barulhinho que fazia o homem ao bater no triângulo como um mini-sino, como um aviso da hora da Virgem Maria.

Minha alegria foi avistar aquele vendedor de "chegadin", como chamam aqui em Fortaleza. Como pode farinha de trigo, goma, água e açúcar deixar alguém tão feliz? Mais gostoso ainda é você comer e rir ao mesmo tempo da confusão de farelos tentando fazer parte da estampa da sua roupa.



quinta-feira, 11 de agosto de 2011

"Eu quero uma casa no campo"

Em cada corredor, muitos, muitos fumantes. Em cada avenida, muitos carros irregulares, voando em nuvens nebulosas. Pura poluição, quando poderia ser ar puro. Só ando por aí prendendo minha respiração. E como cantava a Elis: "eu quero uma casa no campo" Isso se o campo já não tiver na mesma situação..

sábado, 6 de agosto de 2011

Letra e Melodia: Bem-te-vi mundo melhor

Eu quero, sinto, posso ver

Sua alma estar, permanecer

Parece que brotou em mim

No meu jardim, o seu jasmim



Eu sou capaz de dissipar

A tempestade que vem lá

É só o bem- te - vi dizer

Que o Sol resolveu nascer

Só pra trazer mundo melhor



Eu quero, sinto, posso ver

Mesmo que eu não possa ter

Sempre resposta aos meus porquês

Ouvi o bem - te - vi dizer

Que Deus existe , por que não?



Eu quero, sinto, posso ouvir

O bem-te-vi chegar aqui

E de mansinho me dizer

Que vem aí mundo melhor



Eu quero, sinto, posso ser

Estar, permear, colher

‘inda bem que vi mundo melhor

Letra e Melodia: Desculpa

Embalou nosso equilíbrio
na corda bamba
Não vê que já basta?
É o fim, é fim de semana
Nos dê uma folga,
deixe-nos quietos
em nosso canto,
onde a gente possa, enfim,
oxigenar o peito aflito, soltar o pranto

Embalou nosso equilíbrio
Isso cansa, essa sua dança
por que sempre ditar o ritmo?
Não vê que ninguém aqui é mais criança?
Saímos sim da linha
você não manda

Já tentamos e cansamos
Não nos habituamos
ao seu jeito grosso, insano

Você perturba mentes
sua acidez debilita
nosso estômago,
nosso âmago

O laço do nosso sangue
já desatou várias vezes
Você vem, pede desculpa
Logo vem e põe a culpa
na velha infância
Diz que uma pedra bateu na sua cabeça
e lhe deixou tonta, amarga, sem esperança

Já tentei compreendê-la
Pesquisei no seu Diário de tormentos
Mas não deu tempo
você veio agressiva como sempre
sua voz aguda e insistente
martelando minha mente

Já tentamos, já sonhamos
com sua cura
Vez por outra se renova a esperança
Que ternura
É você pedindo desculpa:

" - Desculpa,
me desculpa
Desculpa
me desculpa mais
uma vez."

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Risco alheio: Livro Amarelo - "A História de Hoje"

Encantada com Literatura infanto-juvenil. Realmente a alegria invade até o coração duro e a mente de pouca imaginação de gente que se diz "grande".

História: "Quando 'Menino' era apenas uma palavra" - p. 14-15
De Regina Drummond e Taciana V. Ottowitz:

"Queria preparar uma bagagem, nem que fosse só uma trouxinha para colocar na ponta de uma vara, mas não sabia o que era bagagem, nem trouxa, nem vara, nem quem poderia ajudá-lo a descobrir. Afinal, era para descobrir as coisas que ele estava saindo pelo mundo afora.
Sem pensar mais, "menino" foi andando. Logo, encontrou uma porção de palavras.
Algumas cruzavam com ele, apressadas, outras nem o olhavam, aquelas batiam de frente com ele e nem se desculpavam. Umas estavam sentadas, vendo a vida acontecer. Outras estavam deitadas, totalmente indiferentes ao que acontecia ao seu redor. Havia as que caminhavam sem olhar para os lados, mas havia também aquelas que procuravam conversa com as vizinhas e não paravam de falar.
Que confusão! "Menino" não entendia nada do que as palavras diziam. Ele foi passando por uma imensidão delas, às vezes em longas filas; outras, soltas e desconexas; e ainda havia as que se amontoavam e perdiam de vez o significado que nunca tinham tido...
Algumas palavras eram longas e precisavam de muitas letras para se formar, enquanto outras eram tão curtas que não precisavam mais do que duas letrinhas de nada para se mostrar. E ainda havia as palavras humildes, que abaixavam a cabeça, mesmo sendo enormes; e as arrogantes, que nem se importavam de ser pequenas e olhavam de cima para as outras, como se fossem melhores ou mais interessantes."

domingo, 31 de julho de 2011

Risco alheio: Por que Nós ( Marcelo Jeneci)

E essa letra de Marcelo Jeneci entra pra minha lista das que gostaria de ter escrito:

Éramos célebres líricos
Éramos sãos
Lúcidos céticos
Cínicos não
Músicos práticos
Só de canção
Nada didáticos
Nem na intenção
Tímidos típicos
Sem solução
Davam-nos rótulos
Todos em vão
Éramos únicos
Na geração
Éramos nós dessa vez

Tínhamos dúvidas clássicas
Muita aflição
Críticas lógicas
Ácidas não
Pérolas ótimas
Cartas na mão
Eram recados
Pra toda a nação
Éramos súditos
Da rebelião
Símbolos plácidos
Cândidos não
Ídolos mínimos
Múltipla ação

Sempre tem gente pra chamar de nós
Sejam milhares, centenas ou dois
Ficam no tempo os torneios da voz
Não foi só ontem, é hoje e depois
São momentos lá dentro de nós
São outros ventos que vêm do pulmão
E ganham cores na altura da voz
E os que viverem verão

Fomos serenos num mundo veloz
Nunca entendemos então por que nós
Só mais ou menos

Pra virar canção: É só vontade de viver

Quando achar que tudo está pra acabar
de esperança não restar
Olhe bem, pela fresta da janela o Sol nascer
Logo virá a vontade de ser

Se o ponteiro se arrastar
E o que é de mau disser
que vai demorar
Pense bem, aquilo foi o que é
Há coisas que não se pode mudar

Pare bem pra pensar,
hoje você tem a chance de consertar
é só juntar os pedacinhos que espatifou
e logo terá um lindo jarro
quase perfeito com uma flor

Você se espanta,
sente o peito arfar
Acha que está perto de morrer
só porque está com essa mania louca de viver
tudo de bom que o mundo tem a lhe oferecer

Quando achar que tem de aproveitar logo
porque desconfia que logo, logo vai morrer
estarei por perto pra dizer:
" - Que nada, isso é
só vontade de viver."

sexta-feira, 29 de julho de 2011

O violão aqui do lado

Já deixei o violão aqui do meu lado, já pra criar afinidade.
Vai chegar o dia que vou saber tocá-lo!
Muitos já tentaram, mas desistiram fácil; eu também, mas nunca é tarde pra tentar novamente.
Desta vez eu insisto! Mesmo que me machuque os dedos no começo, vou saber seu tom de cor, de coração

Homem - Estátua

A polícia quis varrer o homem-estátua dali.
Continuou estático, só mexeu pra tentar secar a lágrima que acabava de cair,
quando ouviu sua plateia ao redor gritar:
"- Deixa o cara trabalhar"

Inspirada na reportagem:
http://g1.globo.com/globo-reporter/noticia/2011/07/brasileiros-ganham-vida-nas-ruas-com-embaixadinha-castelos-de-areia-e-estatuas-vivas.html

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Assim é o meu Tiê

@lacta #eumeentrego à canção como a uma oração
Me ajoelho sobre rosas
Rezo baixinho,
mesmo assim o Tiê passarinho ouve e decora
e não demora pra tristeza ir embora
É o Tiê passarinho, acalentando o meu, o seu coração

@lacta #eumeentrego ao encanto do Tiê sangue
Eu o vi no farfalhar das folhas
Ouvi a planta aplaudir o seu cantar
Vi a gota de orvalho chorar

@lacta #eumeentrego ao vermelho do Tiê. Sangue ele doa pra mim
É vida, uma doçura, uma dança
De tanto encanto, me faz rir
Assim é o meu Tiê
Até tweet deu de fazer
pra chegar até você

Participação na promoção: http://www.lacta.com.br/

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Crescidinha

Está uma mocinha
Não devora mais os dedos
Vai à manicure, enfeita as unhas
Podemos ver, está segura
no seu porte, nos seus modos
nem precisa de testemunhas

Fez amigos
Está crescidinha
Abriu mão dos mimos
Não escreve mais cartinha

Fala com delicadeza
Escreve letras
Erra rimas
Tem uma certa estranheza
Já foi mais doce
agora agridoce

Está mesmo crescidinha
Deixou a casa dos pais
Foi decidida
não é mais aquela menininha

Está uma mocinha, uma mulher
Faz planos, projetos
coisas que quer

Risco alheio : a memorável A Banda ( Chico)

" Imaginem vocês que, um dia desses, entro em casa e encontro minha mulher, Lúcia, e a minha filhinha, Daniela, com olhos marejados. Acabavam de ouvir A Banda, ou seja, a mais doce música da Terra. Dias depois, eu próprio ouvi a marchinha genial. E a minha vontade foi sair de casa, me sentar no meio-fio e começar a chorar." (Coleção Chico Buarque - vol. 1, p. 29) - Escritor, dramaturgo e cronista esportivo carioca Nelson Rodrigues comentando sobre a música de Chico.
Segue a letra abaixo. Sei que já temos na memória, mas é sempre bom analisar com encantamento cada trechinho poético que só o Chico sabe fazer.

Estava à toa na vida
O meu amor me chamou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor

A minha gente sofrida
Despediu-se da dor
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor

O homem sério que contava dinheiro parou
O faroleiro que contava vantagem parou
A namorada que contava as estrelas parou
Para ver, ouvir e dar passagem

A moça triste que vivia calada sorriu
A rosa triste que vivia fechada se abriu
E a meninada toda se assanhou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor

O velho fraco se esqueceu do cansaço e pensou
Que ainda era moço pra sair no terraço e dançou
A moça feia debruçou na janela
Pensando que a banda tocava pra ela

A marcha alegre se espalhou na avenida e insistiu
A lua cheia que vivia escondida surgiu
Minha cidade toda se enfeitou
Pra ver a banda passar cantando coisas de amor

Mas para meu desencanto
O que era doce acabou
Tudo tomou seu lugar
Depois que a banda passou

E cada qual no seu canto
Em cada canto uma dor
Depois da banda passar
Cantando coisas de amor

sábado, 23 de julho de 2011

Uma dó dos cantores de barzinho

O Couvert artístico sempre foi motivo de piadas. Os amigos reunidos no restaurante vez ou outra brincam: " Olha, ninguém demonstra que tá gostando, ok? Nada de fazer ritmo com o pezinho ou dançar com a cabeça!" Tudo pra no fim das contas, acabarem, sim, pagando o temido couvert.

Embora não seja obrigatório, dá uma dó da pessoa lá tocando. Sempre achei essas batidas nas cordas do violão tão melancólicas. São canções perdidas entre os barulhos de talheres e pratos, falas e risadas mistas e desconexas.

Um cantor de barzinho deve ser meio tristinho ou talvez conformado das pessoas se aterem mais ao que estão devorando do que a canção da noite que exigiu tanto ensaio.

Quando o show de plateia "fantasma" (a concentração na comida parece sugar as forças daquelas pessoas, fazendo com que não se manifestem para aplaudir) chega ao fim, o músico - quer dizer, na maioria das vezes, o aspirante à músico, um tanto calado e cabisbaixo, guarda cuidadosamente os instrumentos nas caixas. Ele demonstra a sensação de dever cumprido. Bebe um gole d'água. Mal sabe ele que uma pessoa o aplaudiu. Imerso no repertório preparado, não ouviu. Vai ver o som confuso das pessoas interagindo entre si e com os pratos também não contribuiu.

Parece que de alguma forma, esses cantores de barzinhos encontram prazer em tocar pra muita gente, e ao mesmo tempo pra ninguém. Parece que eles nunca estão sós; estão na companhia de milhares de notas, mesmo que estas, por vezes, estejam tortas de desafino. Mesmo o cachê mínimo não impede que eles continuem admirando a música, achando o máximo tentar reproduzí-la.

Acabou que talvez a única observadora daquela situação ficou sozinha na mesa de bar. Ficou seguindo o artista com o olhar. Vendo-o ir embora com um objeto de roda, levando embora as caixinhas de som. O violão já descansava naquela espécie de "caixãozinho" com cinturinha de violão.

Uma tal de Veruski

Achou que a amiga poderia lhe descrever em palavras, almejando conhecer melhor ela mesma. Ingênua, não sabia o tamanho desafio que acabara de lançar para a outra que adorava treinar a escrita. Pediu nada mais, nada menos, que essa outra fizesse um poema sobre ela.

A mão nervosa cutucava insistente as costas estreitas da colega sentada na cadeira à frente. A pobrezinha da "escritora", sentindo-se pressionada, resolveu então se arriscar um pouco, tentando resumir em versos sua percepção sobre a amiga.

Aquele difícil pedido a fez lembrar da gente talentosa que ganha uns trocados desenhando os traços de alguém desconhecido num quadro. Pega-se o objeto que rabisca, pede pra pessoa ficar imóvel, baixa a cabeça e desenha as formas, levanta a cabeça, lança-se um olhar observador atento aos menores detalhes e se recomeça a tracejar o perfil daquele ser diante de você.

O que estava acontecendo era quase isso, só que tinha que descrever uma mente inquieta. Parecia que sua mão, detentora de uma caneta azul, tremia "de nervoso". Borrou muito a folha; pensou, parou um pouco e pensou mais.

Terminou, concluindo que não é possível traduzir ninguém em texto, nem se escrevesse um livro gordo como uma bíblia. Não conseguiria retratar nem um por cento daquela personalidade nomeada de "Veruski". Ficou apenas na dúvida se havia escrito o nome da própria amiga corretamente. Por fim, pensou " ow raça humana complicada de explicar e ainda mais de entender".

A fuga do pensamento

Pensou em escrever algo interessante, mas o pensamento foi embora rapidamente. Estava indignada; como poderia tamanha falta de imaginação? Doeu na vista o branco luminoso da folha de papel - se ao menos fosse a folha digital do blog com letras e símbolos já contidos obrigatoriamente ali, aquele vazio a perturbava.

Tentou, se esforçou e nada colheu de sua memória. Sim, esta havia novamente deixado ela na mão. Será que já estava velha com apenas vinte e poucos anos? Deu esta reflexão por encerrada e notou, com um sorrisinho de satisfação, que havia vencido a sabotagem que seu próprio cérebro arquitetou contra ela.

Tinha, sim, refletido e escrito outro pensamento, embora o outro tivera sido dissipado. Naquele momento, o espaço na folha branca até já estava escasso; todo estampado com letras arredias e feias, aquelas de quem não escreve à mão há um tempão. Matou essa saudade e encontrou nisso uma felicidade.

O idoso-garoto


Sonhou com muito pouco; até achou que tava morto.
Mas quando viu o entardecer pegar fogo, seu olhar ganhou força
Podia ver com perspicácia o Sol se esconder aos poucos.

Sonhou muito pequeno, tão minúsculo quanto o Sol se pondo
Mas quando encontrou um bom canto na areia, entre o mar e a cidade,
enxergou melhor o que via.
Podia ver ele mesmo, um idoso-garoto,
começando a sonhar
maior que a imensidão do céu, do mar.

Foto: Beira-mar , Fortaleza - CE

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Risco alheio: A bailarina e O Astronauta (Tiê)

Eu sou uma bailarina e cheguei aqui sozinha
não pergunte como eu vim
porque já não sei de mim
do meu circo eu fui embora
eu sei que minha família chora
não podia desistir
se um dia como um sonho
ele apareceu pra mim
tão brilhante como um lindo avião
chamuscando fogo e cinza pelo chão.

De repente como um susto
num arbusto logo em frente aconteceu uma explosão
afastando a minha gente
mas eu não quis ir embora
eu não podia ir embora
como se nascesse ali
um amor absoluto pelo homem que eu vi

Poderia lhe entregar meu coração
alma, vida e até minha atenção?

Mas vieram as sirenes
e homens falando estranho
carregaram meu presente
como se ele fosse um santo
dirigiam um carro branco
e num segundo foram embora
desse dia até agora
não sei como, não pergunte, procuro por todo canto

Astronauta diz pra mim, cadê você
Bailarina não consegue mais viver...


http://www.vagalume.com.br/tie/a-bailarina-e-o-astronauta.html#ixzz1ShdPaA92
A Bailarina E O Astronauta por Tiê

quarta-feira, 13 de julho de 2011

A moça do cadarço solto

Engraçado como um cadarço solto faz pessoas desconhecidas se preocuparem com você. Mas eu nunca caí! O cadarço parece querer me entreter. Vou andando, brincando com isso. O pé direito, depois o esquerdo desafiando derrubar o outro, mas sem ameaça alguma (juro pra você que eu realmente nunca tropecei). Novamente o pé direito, aí vem o esquerdo exibindo o branco sujo do cadarço pro outro. Esse outro mais correto e esteticamente mais agradável, além de não incomodar ninguém. Ele está ali, bonitinho, com aparência de laço, parecendo aqueles que cercam as embalagens de presentes.
"- Cuidado, moça!"
"- Ah, ok, obrigada!"
E não faço nada. Já tentei fazer o laço das outras vezes, só pra não ver a ruga de preocupação nos rostos desconhecidos. O que posso fazer se o laço quer sempre se desfazer? Deixo o cadarço fazer o que é de sua vontade. Deixo-o livre, buscando assim minha própria sensação de espontaneidade. O cadarço quer entrar em atrito com o asfalto ou com a areia; quer dançar com o vento.

domingo, 3 de julho de 2011

Espirituosa

O barulhinho do vento, avisando a chegada da chuva nesta noite de fim de domingo, só não é mais aflito que o dela, abafado por dentro de seu espírito magro, embora contornado de várias camadas firmes de auras.

Suas auras são princípios; são no que ela acredita; são, enfim, suas energias. Como uma pilha, tem seu polo positivo, mas também o negativo. Infelizmente, seu lado negativo é também a única porta de entrada de corrente. É estranho como ela parece se abastecer, se manter em pé a partir desta força que pende mais para o negativo ( o sentimento que nada vai dar certo)

Fica triste, quando percebe que a bateria preenchida é a da mente, não a do espírito. De repente se vê deixando de ser espirituosa – começa a notar as luzes de suas auras se apagando, deixando-a num breu - Sente apenas a corrente se encher de negativos, saindo com toda força pelo seu polo positivo, quando este deveria apenas liberar boas vibrações. No fim desse longo e complexo processo, sente que estragou o momento, perdendo o controle de si, perdendo o brilho que tinha há pouco.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Risco alheio

Eu não sou tão triste assim, é que hoje eu estou cansada.

Clarice Lispector

segunda-feira, 23 de maio de 2011

E me Distraí

Me distraio
E eu que nunca fui perfeita
a unha roída, o sangue na cutícula
a roupa velha, fora de moda,
me deixo por fora
me esqueço, de repente me entristeço

A tristeza destes versos
os pensamentos controversos
Vejo o bonde passar, sem poder o alcançar

De uma intensa concentração
me abstraio, me disfarço
perco o foco e não acabo
Não acabo de roer
de ruir em mim

Vez ou outra amanheço
A vez ou outra que o vejo, tem esse efeito
Então aí me distraio
Posso ver no espelho,
uma cara abobalhada
duas caras apaixonadas...

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Falta emoção

Nem reparei no céu. O clarão veio primeiro, me espantou e logo me pus a fantasiar. Existirão mesmo alienígenas? Resolveram estacionar suas naves de vez aqui no mundo terreno? Nem notei que as nuvens estavam carregadas, na verdade não as observei por falta de tempo. Ando meio ocupada, preocupando-me com chateações terrenas, aquelas que quando a gente morre perdem sua total significância.

A maior parte do tempo perdemos a noção de tempo e esquecemos de pensar na gente. Será que lá fora está claro ou escuro? Vivemos assim, no meio termo.Por vezes, me pergunto, o que estou fazendo aqui mesmo? E daí vou buscar meus propósitos. Percebo que falta um suspense, uma emoção como dessas histórias fantásticas de cinema. Falta adrenalina. Aí, uma das saídas é fantasiar viajando pela trama fictícia que fala algo sobre como se viver melhor.

A madrugada de hoje até que teve alguma emoção! Mantive os olhos vidrados na janela. Parecia que lá fora ocorria um espetáculo a parte. Capricharam nos jogos de luzes. Chovia, vinha o relâmpago, chovia, vinha o trovão. Chovia, relâmpago, trovão, chovia...e assim foi até que deixou de ser novidade, perdendo assim o que tinha de irreal, ao menos a meu ver.