sábado, 24 de novembro de 2012

Elaine vegetariana versus Sogra

Estou eu, lá no meu cantinho da mesa da cozinha, já pondo a última garfada na boca do prato preparado por mim, trazido de casa e no qual há pouco tinha arroz integral, berinjela, soja com cebola e alho batida no liquidificador com molho de tomate, rodelas de batata, cenoura e beterraba, -os dois últimos generosamente servidos pela sogra-, quando ela me vem com a panela e-nor-me, retira a tampa, sobe aquele cheiro que já não é mais nada familiar, e insulta:

- Ó, olha, olha! Morra de inveja do meu frango!

Fazer o quê? Tive que fingir que olhei pro frango, tadinho, morto ao molho branco. Fingir que o mau cheiro não me incomodou. Tive que ser vegetariana simpática mais uma vez. Todas as vezes, aliás, pra não ficar com fama de "cheia das frescuras."

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Se sorrir pra mim,.

Na Bienal Internacional do Livro daqui, do Ceará, tinha um rapaz segurando uma plaquinha branca que "gritava" em letras pretas garrafais, mais ou menos assim:

SE SORRIR PRA MIM AGORA, GANHA UM POEMA.

Que pressão! Não ganhei poema; não queria mesmo! Mas não me entenda mal, acho lindo poema. Apenas achei a condicional desafiante demais "pro meu gosto", como diz minha mãe. Não consegui sorrir pra ele, assim como não consigo sorrir para tantas coisas desse mundo.

Já perdi as contas de quantas vezes observei situações nada risonhas da cidade, e, que tola, sequei a lágrima contida que escapuliu, passando rapidamente as costas da mão nas maças do rosto. Ah, a timidez que dá essa emoção escancarada de uma provável manteiga (melhor margarina) derretida. A mão nervosa, "limpando" a cara, parece ordenar: "Engole o choro, menina!" Que loucura é essa de supor que a compaixão é vergonhosa?

"Que mundo feio!". Eu me envergonho mesmo é de me expressar desse jeito ao final de um papo sério. Pobre mundo, incriminado injustamente. Pobre a gente, que tira a beleza dele.

domingo, 11 de novembro de 2012

Preferencial para gentilezas

Outro dia, eu estava no supermercado e vi o caixa preferencial de bobeira. Levei meu 1kg de maças e duas goiabas até lá, mas logo uma senhora muito bem vestida e maquiada surgiu também com poucas comprinhas, no máximo, dois itens. Claro que cumpri meu dever de respeitar o direito dos mais velhos, ou melhor, dos mais experientes, cedendo a vez que não era minha.

Mas a senhora apenas olhou nos meus olhos e disse:

- Não, querida. Pode passar primeiro.

Eu não achei justa a ideia e abri caminho, pedindo várias vezes que ela tomasse minha frente. Mas a senhora, que podia ser a avó que eu nunca tive, insistiu no "Não, não! Pode ficar!". E passou a buscar uma boa justificativa pra eu não me sentir mal. Nem precisou me observar muito para, diante da minha aparência de 15 anos (mas já quase nos meus 25), tentar adivinhar meu destino:

- Tá indo pro colégio?

Então, dei uma risadinha, achando a situação e aquela senhora muito meiga e gentil. Se ainda havia alguma chance de eu convencê-la de que tinha o direito de passar na minha frente, perdi ao responder:

- Não, não...indo pro trabalho.

Ela parecia satisfeita. Tinha encontrado a grande razão de ceder sua vez. Então, colocou-se no meu lugar, não no sentido de espaço, mas de empatia mesmo:

- Ah! Trabalho? Eu sei como é, minha filha. Eu sei porque eu já trabalhei! Pode passar logo, eu espero, não tem problema.

E só me deu a opção de sorrir e agradecê-la. Saí de lá pensando que ela poderia ser a presença de vó no meu cotidiano. Saí pensando também que o mundo não está perdido.