sábado, 30 de junho de 2012

Da parede alheia: resenha de Magda Frediani




Neste livro, a autora convida o jovem leitor para uma conversa encantadora sobre a arte de escrever. Nos “conselhos” cheios de poesia, ilustrados com delicadeza pelo artista plástico Eduardo Albini, a autora convida meninos e meninas, e também “jovens” de todas as idades, a se envolverem pela magia das palavras e a aceitarem o desafio de criar seus próprios textos. Ao dialogar com um escritor imaginário – que somos todos nós, leitores – Stela Maris Rezende explica que o importante é saber olhar, com emoção e respeito, todas as coisas que fazem parte de nosso cotidiano. É neste universo, feito de coisas aparentemente sem importância, que a premiada escritora mineira vai buscar a inspiração para seus textos... E ela revela um “segredo” aos seus leitores: tudo o que nos rodeia tem algo a nos dizer. Stela Maris busca também na natureza as imagens com as quais representa, de forma sutil e única, o ofício do escritor.

Uma bela forma de ensinar os jovens escritores a se debruçarem sobre as páginas em branco dos cadernos, ou sobre a tela do computador, em busca de novas histórias, participando desta eterna e mágica aventura da criação...

Catálogo da Editora Casa da Palavra, Rio de Janeiro, www.casadapalavra.com.br

Magda Frediani é especialista em Literatura Infantil e Juvenil, ensaísta e escritora

sábado, 23 de junho de 2012

Uma visitinha e, logo depois, um dilúvio.



Pouco antes do "dilúvio" repentino, um passarinho veio da janela aberta do meu trabalho e tentou se abrigar no cantinho da minha mesa. Não pude presenciar essa situação pra lá de agradável e linda, linda demais; isso porque eu havia acabado de ser convocada para uma reunião em outra sala. Mas, claro, minhas amigas e colegas de trabalho me contaram tim-tim por tim-tim, pois já tenho até fama de "passarinha", de tão apaixonada por eles.

O passarinho tentou comunicar que algo incomum estava por vir, que algo forte e devastador viria diretamente do céu para a cidade, lavando-a como quem enxágua uma calçada fazendo uso de uma vassoura nervosa. Um temporal sem sereno antes como aviso prévio, assolou nossa cidade hoje. Sabe aqueles fenômenos sobre os quais você fica se perguntando: " Quando e como começou essa tempestade num copo d'água mesmo?" Neste caso, numa cidade nada preparada para acolher (escorrer) uma grande quantidade de água ao mesmo tempo, tempestade num copo mesmo, literalmente.

Então, o passarinho tentou avisar; fez sua trajetória de voo mais improvável, entre as quatro paredes de um ambiente de trabalho fechado, quase lacrado, não fosse a janela aberta só por um instantinho.

Contaram-me que a danadinha da ave foi parar no cantinho da minha mesa, em cima das impressões, quietinha na dela, na certa fazendo dali seu abrigo enquanto o Sol era encoberto. Com certeza, sabendo que naquele lugar há o amor de quem passa o dia trabalhando, mas não deixa de perceber cada canto de pássaro entoado em várias direções.

O passarinho estava lá até que alguém resolveu fazer uma fotografia sua. Assustou-se e acabou sendo resgatado no outro lado da sala. O herói do dia, o colega de trabalho, fez da sua palma da mão uma pista de voo, dando a dica pro bichinho:

- Vamos! Voa! Vai!

Nada, nem sinal da avezinha bater as asas. Não queria ir de modo algum. Então, o colega de trabalho deixou-a no batente da janela. Ficaria ali até que a coragem de voltar pro céu sombrio, que antecede a tempestade, voltasse. Talvez não botasse fé na força das árvores contra a força da água. O passarinho só temia o que teria de enfrentar lá fora.

Quando retornei da reunião, me relataram tudo e corri imediatamente até a janela na esperança de encontrá-lo. Já não estava mais. Pena que eu é que não estava na hora para protegê-lo.

Depois da visitinha, mais inesperado ainda foi o temporal que tomou conta das ruas e avenidas praticamente o dia inteiro. Até o painel, daqueles que exibem temperatura e hora, foi ao chão, vencido pela água aos montes.

O temporal passou, só não passaram minhas preocupações: "Será que todo mundo tá bem? O passarinho também? Espero tanto que sim!"

domingo, 17 de junho de 2012

O vendedor de batatas fritas e a felicidade pelas pequenas coisas

Tem dias que preciso voltar pra minha casa, a casa dos meus pais. Preciso pegar um ônibus e ficar chateada dentro dele, ao ver alguém jogar embalagem pela janela como se fosse um ato absolutamente normal; tento falar algo, mas me calo e com ar de reprovação, balanço a cabeça pra pessoa como quem diz “ - Faça um exame de consciência, meu amigo!”

Depois de descer desse ônibus, cabisbaixa e desacreditada de pessoas como aquela, preciso atravessar a avenida e ir até a parada onde pego a topic que segue direto pra minha casa. Fico em pé esperando, esperando e ouvindo meu cansaço físico e mental falar mais alto do que tudo. Já são 22horas , e aí eu lembro que apenas enganei meu estômago na hora do lanche com algo rápido.

O vazio do estômago me incomoda, quando percebo o vendedor de batatas fritas. Resolvo ficar mais perto daquela espécie de fogão acoplado num carrinho de mão e de três rodas. Ali, do lado do ponto de venda, no sentido do vento que sopra, posso sentir o cheiro bom das batatas fritando, o cheiro da casa da minha infância, de quando eu vibrava vendo minha mãe preparando essa delícia para o almoço de domingo.

Apesar do cheirinho servindo de propaganda das batatas, não tive intenção de comprá-las, porque hoje evito frituras, elas já me fazem mal, e porque desconfio da higiene de cozinha ao ar livre. Apenas fiquei ali, sentindo o ânimo pela vida, e até pela rotina, retornar no simples movimento do respirar.

A topic me buscou, e eu cheguei feliz da vida no melhor lugar do mundo pra passar a noite e ver chegar o dia.

sábado, 16 de junho de 2012

Sobre Mar de Rosas, Alma gêmea e tampa da panela

Nós temos é que acreditar mesmo nessa história de fulaninho de tal é a alma gêmea da sicraninha ali. Sério mesmo, isso sim é sabedoria popular das mais astutas que já ouvi circular de boca em boca. Está comigo a Sorte da experiência própria que me leva a defender esse tipo de crença desse nosso povo cheio das espiritualidades.

Sabe aquelas coincidências extremamente coincidentes, em cujos fenômenos você está diretamente ou indiretamente envolvido? Pois é, não sei se com você, mas comigo sempre acontece disso: estou eu por ali, retornando pra casa à noite, depois do trabalho ou da aula ou da academia; caminhando tão borocochô em pedacinhos por conta do cansaço do dia, “muso” inspirador das constantes reflexões sobre a vida, a minha vida, da minha família, da mendiga até, logo ali na esquina, muito bem acomodada num papelão ( o que faz de mim uma reclamona sem causa, ou melhor, uma “caixa de reclamações” com porções de razões descartáveis, lá dentro, resmungando. Enquanto, na realidade, ando nadando num “Mar de Rosas”, aqui me entrego ao uso dessa expressão. Minha viagem é tanta que, diante da situação da mendiga, ali, e da miséria em geral, ponho-me a olhar as pontas de meus próprios dedos. Nesse simples gesto, quase consigo visualizar minha pele enrugada de tanto estar afogada na água cheirando à rosa do Mar de Rosas em que vivo mergulhada).

Voltando agora pra história de alma gêmea, além dessa minha sorte de ter acesso à educação, a emprego, a casa própria da família, a um quarto aconchegante, acontece de, quando no clímax do momento borocochô, no qual rola aqueles chô-ro-rôs que lavam as maçãs do rosto; enfim, acontece muito do meu aparelho celular vibrar, tocar e me mostrar na tela: “ Meu amor ligando...”ou “1 nova mensagem” dele. E toda vez que isso se repete, fico me perguntando: “ Como ele consegue adivinhar as horas em que mais preciso do amor dele?”

Quando não estou afetada por pessimismos bobos, minha primeira ocupação passa a ser o feliz pensamento nele. Eis outra frequente coincidência: a de pensarmos um no outro simultaneamente, o que resulta em: eu tento ligar pra ele, dá ocupado. Ele tenta me ligar, dá ocupado. Mas um de nós, que é menos impaciente, decide esperar e pronto! É o amor, certeza, é a tal da alma gêmea, da tampa da panela.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Escuridão de luz

Desligou quase todas as luzes pra que pudesse contemplar a escuridão tomada por pontinhos de luz azuis. Mas só podia ver as estrelas, quando as nuvens resolviam passear de mãos dadas com o vento. Deitou no chão do quintal sem frescuras, sem dar cabimento aos mosquitos. Parecia que a noite a acalentava em seu colo.

A mulher não, a menina; isso, a menina, porque naquele momento não passava de uma menina mesmo, encantada com tudo ao redor e longe de qualquer preocupação. Ali, tinha a liberdade de ser a autêntica artista que aparentava ser.

Cantou feito uma cigarra maluca, como se tivesse apenas aquilo para fazer pela eternidade. Escreveu feito um poeta inspirado. Dançou uma dança esquisita, metade sambista, metade bailarina. Desenhou feito uma desenhista inventiva a cruz que as quatro estrelas tentavam formar no céu; ah, era fácil pra ela, bastava ligar os pontinhos, conectar as estrelas. E ainda interpretou feito uma atriz de teatro numa tela de cinema. Como a menina conseguia? Simplesmente ela podia, sua espontaneidade permitia tudo aquilo.

Cigarreou, brincou com as palavras, bailou, ao mesmo tempo reverenciando cada ponto que piscava sobre o véu negro. Não havia nela pretensão de ser uma daquelas estrelas. Sabe que ninguém brilha como elas. Na verdade, sempre contou com elas para não se apagar como gente no universo.

Deitadinha sob os astros que habitavam a escuridão, sentiu que, se pudesse, ficaria ali para sempre, afinal, tinha forte atração pelo contraste do azul estrelar sobre o preto da meia-noite.

Esperou, desejou que aquela noite durasse por um bom tempo, até que viesse o Sol despertado pelo cantoria e algazarra dos pássaros.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Um capítulo que seja.

Concentrar-se em histórias contadas em livros não significa que você ignora e deixa de refletir sobre sua própria vida e a de quem você ama. A mente de um leitor está sempre martelando as xis possibilidades de escrever e reescrever aqueles capítulos cruciais de sua desafiante história real.

Leitura não é abstração, não é fuga da realidade e, definitivamente, não é mero passa-tempo. Ler é um exercício diário que deixa o indivíduo com um pé no chão e o outro levitando.

Vamos ler, ter disciplina nisso. Que tal criar com carinho esse hábito todo santo dia?! Um ou dois capituluzinhos por dia,que seja, faz um bem danado!