quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Tarefas de casa para adultos

Só eu mesma, pendurando roupas no varal quase meia-noite, meio da semana. O pobrezinho do varal segurando as pontas com tanto peso e eu tentando fazer o milagre da multiplicação de pregadores.

Só eu mesma. Ou não?

Dias corridos pra todo mundo. Dias difíceis, não sei, mas dias cronometrados por um tempo concorrido, sim.

Essas tarefas de casa para adultos...Não sei não; tão simples, mas tão necessárias.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Intriga


Fico intrigada. Eu não sei o que acontece.

Toda vez que volto pra casa, -raramente -, vou decidida na direção do meu 1/4 de Quarto. De início, só pra tirar das costas e dos ombros até rechonchudos para uma magra ("falsa magra"?), o peso das bolsas. É aí então que começo a me intrigar.

Sento na cama e fico encarando um imenso guarda-roupas equivalente a 3/4 do meu Quarto. Observo-o da cabeça aos pés. Ele surge do teto e é grudado na parede. Lá no compartimento do alto, uma boneca gigante de olhos azuis até demais e vidrados. Outra boneca, que parece ser a miniatura da primeira, também é branquela de olhos vidrados e também azuis por demais. O mais intrigante é que nenhuma delas é ou foi minha. Da minha mãe. Ganhou-as de presente, mesmo já bem crescidinha e com dois filhos, na época, adolescentes. Meu pai que a presenteou.

Eu lembro que eu já tentava entender de onde vinha aquela fascinação da minha mãe por bonecas de plástico, donas de olhos fixos aterrorizantes. Eu sempre tive pavor desses olhares longínquos; parecem visualizar um futuro drástico e, por consequência, têm uma visão perplexa a qual, nós, meros humanos, nos tornamos incapazes de compreender ou de desvendar o mistério que se esconde ali, do fundo dos olhos ao fundo da alma. Mas boneca não tem Alma, tem? Não, acho que não. Ou será que ganhavam almas espontaneamente no processo de fabricação e numa das etapas finais, existia alguma máquina que sugava da boca de formato "pede bico" uma alma que quem sabe habitaria ali, dentro do corpinho plastificado, simulação imperfeita do corpinho de um bebê.

Fico intrigada quanto a isso até hoje. A invenção do Chucky nos cinemas teria sido uma conspiração da Associação das Bonecas Pavorosas para me apavorar ainda mais? Pior! O barulho de roedores de madeira tinindo de dentro do meu guarda-roupas, toda vez que preciso pegar uma roupa, seria só o início para o estopim do plano maquiavélico das Bonecas de olhos penetrantes na carne humana? Ahhhhh, um Terror!

E permaneço intrigada me questionando ainda por que minha mãe insiste em me doar suas Bonecas bizarras, numa também bizarra exposição sobre meu guarda-roupas mutilado por cupins.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Você vai longe

Amigos têm isso de botar você pra cima: " Você vai longe!"

E é claro que se eu tiver de ir bem longe, imponho apenas uma condição: que eles, meus poucos e grandes amigos, também venham junto. Aí sim, podemos ir até os planetas. Vamos visitar um a um, até a gente cansar da rotina e resolver criar o nosso próprio universo.

Posso ir longe sim, mas só se for com vocês!

O que tem de ser, será. Será?

Será mesmo que temos um destino traçado? E quem teria definido onde você foi parar? Seria quem chamam de "Deus"? Acho que não. Não sei, nunca acreditei nisso. Pra mim, o que você quer que seja, talvez seja, depende de suas próprias ações. Depende de você. Não há saída, só depende mesmo de você.

"O que tem de ser, será!"

Acho que as pessoas dizem e repetem isso como uma busca desesperada para se livrarem de uma grande parcela de culpa do que aconteceu ou do que deixou de acontecer ou mesmo do que estar para acontecer.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Da janela do Vinícius



Desespero Da Piedade

Vinícius de Moraes

Meu senhor, tende piedade dos que andam de bonde
E sonham no longo percurso com automóveis, apartamentos...
Mas tende piedade também dos que andam de automóvel
Quando enfrentam a cidade movediça de sonâmbulos, na direção.

Tende piedade das pequenas famílias suburbanas
E em particular dos adolescentes que se embebedam de domingos
Mas tende mais piedade ainda de dois elegantes que passam
E sem saber inventam a doutrina do pão e da guilhotina.

Tende muita piedade do mocinho franzino, três cruzes, poeta
Que só tem de seu as costeletas e a namorada pequenina
Mas tende mais piedade ainda do impávido forte colosso do esporte
E que se encaminha lutando, remando, nadando para a morte.

Tende imensa piedade dos músicos dos cafés e casas de chá
Que são virtuoses da própria tristeza e solidão
Mas tende piedade também dos que buscam silêncio
E súbito se abate sobre eles uma ária da Tosca.

Não esqueçais também em vossa piedade os pobres que enriqueceram
E para quem o suicídio ainda é a mais doce solução
Mas tende realmente piedade dos ricos que empobreceram
E tornam-se heróicos e à santa pobreza dão um ar de grandeza.

Tende infinita piedade dos vendedores de passarinhos
Que em suas alminhas claras deixam a lágrima e a incompreensão
E tende piedade também, menor embora, dos vendedores de balcão
Que amam as freguesas e saem de noite, quem sabe onde vão...

Tende piedade dos barbeiros em geral, e dos cabeleireiros
Que se efeminam por profissão mas que são humildes nas suas carícias Mas tende mais piedade ainda dos que cortam o cabelo:
Que espera, que angústia, que indigno, meu Deus!

Tende piedade dos sapateiros e caixeiros de sapataria
Que lembram madalenas arrependidas pedindo piedade pelos sapatos
Mas lembrai-vos também dos que se calçam de novo
Nada pior que um sapato apertado, Senhor Deus.

Tende piedade dos homens úteis como os dentistas
Que sofrem de utilidade e vivem para fazer sofrer
Mas tende mais piedade dos veterinários e práticos de farmácia
Que muito eles gostariam de ser médicos, Senhor.

Tende piedade dos homens públicos e em particular dos políticos
Pela sua fala fácil, olhar brilhante e segurança dos gestos de mão
Mas tende mais piedade ainda dos seus criados, próximos e parentes
Fazei, Senhor, com que deles não saiam políticos também.

E no longo capítulo das mulheres, Senhor, tende píedade das mulheres Castigai minha alma, mas tende piedade das mulheres
Enlouquecei meu espírito, mas tende piedade das mulheres
Ulcerai minha carne, mas tende piedade das mulheres!

Tende piedade da moça feia que serve na vida
De casa, comida e roupa lavada da moça bonita
Mas tende mais piedade ainda da moça bonita
Que o homem molesta - que o homem não presta, não presta, meu Deus!

Tende piedade das moças pequenas das ruas transversais
Que de apoio na vida só têm Santa Janela da Consolação
E sonham exaltadas nos quartos humildes
Os olhos perdidos e o seio na mão.

Tende piedade da mulher no primeiro coito
Onde se cria a primeira alegria da Criação
E onde se consuma a tragédia dos anjos
E onde a morte encontra a vida em desintegração.

Tende piedade da mulher no instante do parto
Onde ela é como a água explodindo em convulsão
Onde ela é como a terra vomitando cólera
Onde ela é como a lua parindo desilusão.

Tende piedade das mulheres chamadas desquitadas
Porque nelas se refaz misteriosamente a virgindade
Mas tende piedade também das mulheres casadas
Que se sacrificam e se simplificam a troco de nada.

Tende piedade, Senhor, das mulheres chamadas vagabundas
Que são desgraçadas e são exploradas e são infecundas
Mas que vendem barato muito instante de esquecimento
E em paga o homem mata com a navalha, com o fogo, com o veneno.

Tende piedade, Senhor, das primeiras namoradas
De corpo hermético e coração patético
Que saem à rua felizes mas que sempre entram desgraçada
Que se crêem vestidas mas que em verdade vivem nuas.

Tende piedade, Senhor, de todas as mulheres
Que ninguém mais merece tanto amor e amizade
Que ninguém mais deseja tanto poesia e sinceridade
Que ninguém mais precisa tanto de alegria e serenidade.

Tende infinita piedade delas, Senhor, que são puras
Que são crianças e são trágicas e são belas
Que caminham ao sopro dos ventos e que pecam
E que têm a única emoção da vida nelas.

Tende piedade delas, Senhor, que uma me disse
Ter piedade de si mesma e de sua louca mocidade
E outra, à simples emoção do amor piedoso
Delirava e se desfazia em gozos de amor de carne.

Tende piedade delas, Senhor, que dentro delas
A vida fere mais fundo e mais fecundo
E o sexo está nelas, e o mundo está nelas
E a loucura reside nesse mundo.

Tende piedade, Senhor, das santas mulheres
Dos meninos velhos, dos homens humilhados - sede enfim
Piedoso com todos, que tudo merece piedade
E se piedade vos sobrar, Senhor, tende piedade de mim!

domingo, 20 de novembro de 2011

mini Planetas Musicais

Meu mais novo vício é colecionar discografias completas de artistas pouco conhecidos por mim e, claro, aqueles clássicos que ninguém deve partir dessa para melhor sem antes ouví-los.

Neste sábado pacato peguei meu arquivo de CDs, uma bolsinha sigilosamente escondida no fundo do armário, sufocada por dois travesseiros. (Bem, agora o esconderijo não é mais secreto. Tudo bem, invento outro.) Escondo porque morro de ciúmes! Imagino alguém tocando-a displicentemente e todos meus planetas musicais, redondinhos achatados, prateados e cristalinos como um espelho, caindo no chão e, no fim, feios arranhões irreparáveis. Não, não posso permitir que qualquer um tenha acesso a eles, principalmente meu irmão, que já demonstrou uma vez não ser capaz de devolvê-los exatamente como os encontrou (em perfeito estado).

É isso. Meus Cds, ou melhor, meus mini-planetas musicais são todinhos meus. Seria egoísmo? Não, não; se isso fosse eu faria questão de entupir minhas orelhas com os fones para somente eu flutuar nas ondas de notas harmonicamente combinadas. Ao contrário, ponho entre o volume 20-28 (máximo suportado pelo aparelho lá de casa) para ecoar de todas as divisas da minha casa até as dos vizinhos.

Ah, nem que seja por pura coerção eles (os meus vizinhos) ouvem música de verdade. Não sou cruel, é pelo bem deles. Ora, não são eles que me obrigam a ouvir o barulhento embate entre dois ou mais paredões de forró NADA-PÉ DE SERRA todos os anos, nas festas de fim de ano?! Então! Também tenho direito de fazê-los assimilar o que é de meu apreço.
Fico tão orgulhosa da minha bolsinha protetora desses meus planetas musicais.

Listo, abaixo, o que já tenho na minha adorada coleção. Certeza ser só o começo do infinito que ainda falta tocar no som da minha sala.

- Raul
- Vinícius de Moraes
- João Gilberto
- Tom Jobim
- Elis
- Caetano
- Belchior
- Beatles
- The Mamas & The Papas
- Elvis
- Queen
- Maria Betânia
- Strokes
- Luiz Gonzaga
- Cazuza
- Marcelo Jeneci
- Tiê
- Marisa Monte
- Adriana Calcanhoto
- Los Hermanos
- Rita Lee
- Maria Rita
- Coldplay
- Franz Ferdinand
- Gal Costa
- Djavan
- Zeca Baleiro

Enfim, muitos e diversos. Meu orgulho concentrado numa pilha imensa de CDs.

Este fim de semana, esse orgulho foi tão grande, que quase chegou a transbordar dos olhos, ao ver minha mãe desapegar de sua mania de limpeza e de dizer " - Desliga esse som, menina!" e, ao invés disso, vir me pedir com emoção escancarada: " - Coloca o Gonzagão de novo, filha! Ihuu!" E quando me dei conta, ela já estava tirando meu pai pra dançar. E pra animar ainda mais a festinha, vem o meu irmão, fazendo suas tradicionais palhaçadas, com um chapelão de mexicano. Imagine só, um mexicano nordestino, dançando Luiz Gonzaga.

Nunca estive tão feliz em minha vida. Não haviam brigas, nem preocupações, apenas pé-de-serra nos pés de uma família, a minha família, mais feliz que aquelas de propaganda de Margarina.

sábado, 19 de novembro de 2011

Homem-menino passarinho


Essa bolinha de penas coloridas é o Tangará dançarino ou, cientificamente nomeado Chiroxiphia caudata. Os machos são azul-celeste com uma coroa vermelha na cabeça, enquanto as fêmeas são verde-escuras.

Se, assim como eu, você, leitor(a), tem admiração e inexplicável encanto por pássaros, você precisa ler e assistir à matéria do programa Globo Repórter, intitulada "Ornitólogo consegue identificar espécies de pássaros ouvindo o som." Convidaram um ornitólogo e olha só que linda história ele conta:

" - As memórias que eu tenho da minha infância, no sul de Minas Gerais, na casa dos meus avós, eu era sempre envolvido correndo atrás de pássaros. Eu caçava passarinho com estilingue e botava em gaiola. Quando eu tinha por volta de 13 anos, eu estava na sexta série e teve uma feira de profissões no meu colégio. Eu pensei: ‘Se é possível viver de ver passarinho, eu quero viver de ver passarinho’”, lembra Luciano. “Itatiaia foi onde eu comecei minha fissura, minha paixão pelas aves. No começo, eu levava meu irmão, com binóculo pendurado no pescoço, e saía procurando os passarinhos. Não demorou para que as pessoas começassem a me chamar de menino passarinho.”

E o homem-menino passarinho, enquanto dava entrevista e pesquisava, capturando as diversas espécies da Mata Atlântica por meio de uma rede, eu agonizava de inveja branca dele. A rede que ele usa não machuca os pássaros, pelo contrário, é para o bem deles. O pesquisador pega os bichinhos cantores, envolvendo-os nas mãos. Depois de anotar o peso e medidas, devolve-os para a natureza. Cheguei até mais perto da TV pra observar bem como ele fazia pra soltá-los. O ornitólogo deita o passarinho com papinho pra cima nas costas da mão e em seguida sopra. Tão rápidos os movimentos do bichinho penudo, que quando percebemos, já está voando longe.

Ah, meu Deus, como tenho vontade de formar uma grande concha com as minhas duas mãos pra envolver um pássaro lindo desses num abraço moderado, que não o machuque, e enchê-lo de beijinhos até o momento de libertá-lo.

Assim como o Menino Passarinho da matéria, ainda serei uma Menina Passarinha. Ô, se não!

A plantinha da minha sala de trabalho

Quase uma hora; da manhã. Contando carneirinhos não, mas pensando seriamente na plantinha que esqueci lá na sala do trabalho. Não mais ficará lá. É como prender um passarinho na gaiola, só que entre paredes e com o ar de um ar-condicionado. E viagens de leva e traz é um tanto cansativo para a bichinha. Ela ficará definitivamente no Jardim da minha mãe.

Es-que-ci a plantinha no trabalho. Oh, Céus, se ninguém da Limpeza notar a presença dela, morrerá de sede este fim de semana. Acho que vou buscá-la. Ou melhor, ligar para o colega de trabalho e pedir pra ele dar água e sol a ela.

Memória,querida,bendita,sua ausência ainda custará uma vida.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Sem graça

Procurei o negro bichano, hoje, no mesmo lugar que o vi da primeira e única vez e, poxa, ele não estava lá.

Olhei para aquele mato já calvo e invadido pelo que foi simplesmente descartado - o que chamam de "lixo", e a intuição me disse que alguém o descoloriu. Será que o gatinho foi levar cor para outro canto?

...

Sem ele, vazio aquele espaço. Vazio o coração.

Sem graça hoje.
Por favor, gatinho preto, dê o ar de sua graça!

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Negro bichano



Dia desses, acompanhei só com o olhar um momento alheio de descontração. Era de um bichano preto. Supertições à parte, era apenas um gatinho preto, sem magia negra, sem simbolizar sorte, sem sete vidas, enfim, era só um gatinho num terreno baldio com tapete de mato assanhado e careca em algumas partes.

Ele estava ali, logo na descida da ponte, de manhã cedinho, trânsito caótico, clima de segunda-feira, de compromissos à espera. Só ele não tinha compromisso algum. Estava brincando de caçar borboletas invisíveis aos nossos olhos. Tinha um olhar astuto de gato. Ainda bem que não era de noite, se não, me assustaria com o brilho intenso de seus olhos enigmáticos.

Lembro de quando era criança. Havia uma grande janela sempre aberta na área de inverno, pela qual os bichanos desconhecidos invadiam minha casa toda noite. Quer dizer, não sei se era toda noite; só flagrei uma vez um perto da porta do meu quarto. Libertei um grito de pavor. Afinal, era um invasor na calada da noite. Mais pareciam duas bilas fluorescente a flutuarem na escuridão. Encaravam-me fixamente; não eram como vagalumes piscando. As bolinhas não titubeavam, mantinham-se acesas, brilhando pra mim.

Felizmente, já superei esse trauma de infância; ou pelo menos acho que sim, já que desde esse dia nunca mais fui surpreendida ao ter de corresponder, mesmo que sem querer, ao olhar de um negro gato nas trevas de uma ausência de luz.

O fato é que aquele lindo gatinho, concentrando-se na caça invisível, depois dando pulinhos e atirando suas patinhas contra o vento, deram um novo significado para minha rotina e para a de quem mais olhou, enxergando, aquela cena como um presente enviado dos céus. E embora aquele animalzinho peludo tivesse uma cor tão escura, conseguiu colorir bem nossos arco-íris preto e branco.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

O labrador aqui de casa

Tão esperto o labrador aqui de casa. Esperto à espera do afago que memorizou onde receber um dia desses:

" Se eu encostar aqui, bem perto do sofá onde ela está deitada, certeza que vai pentear meu pêlo com a mão e vai coçar atrás da minha orelha"

Acho que ele pensa assim, mas sabe que me assusta os seus movimentos bruscos e desengonçados. Afinal, ele é maior do que eu. Parece até que me conhece profundamente. Sabe que não gosto do molhado da baba dele. Então, ele fica aqui, bem quietinho, aceitando minha forma de querê-lo bem.

Outro dia, ficou com as patonas pra cima, deitado e curtindo a coceirinha que eu fazia na barriga de pele loura-branca rosada e tão macia!

Meu presente : )


Este, sim, um dos melhores presentes que já ganhei.

Foi assim: a pequena inquieta, 6 aninhos, danada, quando eu menos esperava, quando eu só esperava que fosse aprontar mais uma peripécia, me veio com essa folha do meu bloquinho de anotações.

- Olha, a setinha tá apontando pra onde?

Inclinei minha cabeça para a esquerda com a mesma delicadeza do gesto dela, e com olhar surpreendido, concluí:

- Ah, pra mim! Não é?

- É sim! Pra você!

- Que lindo, um coração com duas asas!

- Não, não, são duas mãos!

- Ah, mas parecem asas.

Pra mim, pareciam asas sim. Meu coração voou longe de tanta alegria pela demonstração de carinho que só uma criança sabe dar. Engraçado, era praticamente a primeira vez que ela me via. Quando me viu da última vez, a filha de minha madrinha ainda era bem pequenininha. Ah, ela não lembraria. E mesmo assim, meu Deus, ela gostou de mim. Não sou convencida não, ela mesma me disse. Não só disse, como também encontrou a forma mais simples de provar o seu gostar de mim.

A danada ainda alfinetou meu irmão com sua espontaneidade de criança:

- Eu ia fazer um pra ele também. Mas esqueci, porque gosto mais de você!

E o tadinho do meu irmão, levando na esportiva e falando baixinho pra ela não ouvir:

" - Crianças...ainda não sabem que sinceridade demais dói."

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

No money, No eu nem você.

Dinheiro. Ah, se eu tivesse. E só do que estou precisando (de necessidade) e desejando ( coisas que posso viver sem, mas não sou feliz sem) a lista é infindável. Vejamos, sem ordem de importância:

- Mochila
- Violão
- Bolsa preta
- Mala nova
- ao menos mais um par de sandálias
- óculos novos com grau revisado
- um aumento
- grana para aulas em autoescola
- carro
- celular novo
- roupas novas
- grana para pós-graduação
- promoção
- pagar as contas do mês, pagar menos impostos
- ler a pilha de livros novos
- comprar mais livros novos
- aulas de canto e violão
- viajar a lazer
- silêncio, barulho
- aconchego, muvuca
- mais convivência com a família
- mais convivência com o namorado
- mais convivência com os amigos
- formar uma banda autoral
- ouvir mais música, ouvir mais o outro
- conversar mais, falar menos, falar mais sozinha
- planejar menos, fazer mais
- chorar menos, cantar mais
- reclamar menos, solucionar mais
- uma casa nova e menos longe de tudo
- mais manhãs na praia
- mais bike, menos ônibus/topic/caronas
- mais encontros
- mais descontos

Et cetera e tal.

Quer dizer, no money, no eu nem você. E sem essa de que dinheiro não compra felicidade. - Bendito Dinheiro, quem inventou que nós precisamos de você? Aliás, quem inventou você?