quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Da janela de Shakespeare

JULIETA

É só seu nome que é meu inimigo:
Mas você é você, não é Montéquio!
O que é Montéquio? Não é pé, nem mão,
Nem braço, nem feição, nem parte alguma
De homem algum. Oh, chame-se outra coisa!
O que há num nome? O que chamamos rosa
Teria o mesmo cheiro com outro nome;
E assim Romeu, chamado de outra coisa,
Continuaria sempre a ser perfeito,
Com outro nome. Mude-o, Romeu,
E em troca dele, que não é você,
Fique comigo.

ROMEU

Eu cobro essa jura!
Se me chamar de amor, me rebatizo,
E, de hoje em diante, eu não sou mais Romeu.

(p.50-51; ROMEU E JULIETA - Saraiva de bolso)


Deve ser por isso que, quando meu amor me chama de "Elaine" - quando tá com raiva -, eu acho tão estranho:

- Não me chame de "Elaine"!
Chega a ser quase uma ofensa.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Uma mensagem de fim de ano.

Eu não sou boa de mensagens de fim de ano. Tem uma lousa branca lá na academia à disposição. Mas eu não, eu não consigo pensar em algo além de: " Feliz Natal e um próspero Ano Novo". Mais uma vez tenho a convicção de que não ligo pra datas. O que são datas, se não apenas números? O que é um monte de números espremidos num calendário?

Acho que poderia haver, não uma contagem, mas uma coletânia de sentimentos; aí sim, faria sentido. Todo dia uma confraternização mais animada que a do dia anterior. Ninguém precisaria se perguntar: " que data é hoje?", e os números não teriam a menor importância.

Amanhã, de manhã cedinho, vou encarar novamente a lousa branca, já riscada por alguns frequentadores da academia, e vou reler as mensagens lá esquecidas: "Feliz Natal e um próspero ano novo"; " Vamos fazer do mundo a casa de todos"; e até um " Vendo carro...".

Então, eu vou pensar de novo no que eu poderia deixar para um casual leitor daquela lousa; vou passar direto, fazer alongamentos e, ao mesmo tempo, dedicar minha atenção novamente a uma planta pequena de quatro folhas. Ela fica no topo do muro da academia. Nasceu ali não sei como; minha nossa, brotou de uma parede! Além de crescer de dentro da superfície de um muro, atrás dela tem outro muro que se levanta da altura do seu caule curto até (...) lá no alto. E como se não bastasse, uma cerca elétrica anti-ladrões curva-se à sua frente; quer dizer, a planta que cito aqui nasce de um muro e mora entre outro muro e uma cerca que dá choque.

Como uma fã declarada de metáforas, eu colho dessa observação diária uma mensagem positiva pra você, que considera a ideia de um novo começo representada por uma simples, na verdade, complicada e quantificada mudança de calendário:

Eu lhe proponho que, a partir de 2012 ou de agora mesmo, você seja como essa planta do muro. Mantenha-se firme e forte, e verde de esperança, mesmo nas situações mais adversas ou nos cantos mais incomuns de se viver. Se, para isso, for preciso a proteção dos outros que lhe servem de muros ou de porto seguro, não faz mal, não seria demonstração de insegurança; só se proteja da auto-superproteção e dos superprotetores, mas não abra mão dos cuidados. Cuide de si e de quem você ama.

Não gosto de livros de autoajuda, nem de mensagens repetitivas de fim de ano, mas é que me deu uma vontade de plantar esses pensamentos em você que me ler.

Então, já sabe, né? Seja uma plantinha; ou um plantão de muro, como queira.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

"- Cala a boca já morreu, quem manda na minha boca sou eu!"

Diz a pequena tagarela, que não liga se é banguela, que ainda faz questão de soletrar, embora já tire de letra o bê a bá das placas que passam rápido pela janela. Segue a viagem toda tagarelando tanto, que a própria língua atropela.

Enquanto nós, gente grande, só lembramos da nossa língua, no máximo, quando comemos apressados e a queimamos. Afinal, crescemos ouvindo: "Quem cala, consente." Fomos educados a nos acomodar, a deixar que outro alguém decida por nós. Assim, calados, nos poupamos de maiores esforços. Teriam os pais uma parcela de culpa nisso? Teriam eles, não por mal, pulado a fase de crescimento dos filhos? Disso não sei, mas conheço uma menina tagarela que só ela.

Dá voltas e voltas a menina, mas sempre volta. Tem nas mãos a Imaginação, no pé a poça da chuva. Fala tão rápido quanto cresce e, como toda criança, quer mais é sua atenção quando faz biquinho dizendo no idioma do chororô: " - Eu só quero o seu amor por vinte e quatro horas!"

domingo, 18 de dezembro de 2011

O Papai Noel condenado à forca


Eu acho muita graça dessas gracinhas de Natal. Em cada beco, avenida, casa pequena, casa grande, casa mais humilde, casa mais nobre, em todo canto sinais de que as pessoas estão cada dia mais carentes, não só de espírito natalino, mas de tudo que preencha o próprio, o nosso espírito. Mas afinal, em qual estado de espírito a gente anda se encontrando, ou pior, se perdendo? Difícil dizer ao certo.

Aqui em casa também, todo ano tem a tal carência comum na época próxima ao Natal. Meus pais põem enfeite até onde não cabe mais. Não deu pra pendurar na árvore, então pendura no prego cravado no ápice da porta da sala, onde agora tem uma cabeça de um desses bons velhinhos de boneco; só a cabeça mesmo, sabe-se lá onde foi parar o resto do corpo, talvez os membros e o tronco estejam espalhados na vizinhança.



A cabeça sabemos que está na porta, correndo o risco de ser esquecida e permanecer lá o ano inteiro. Eu não a esqueço, pois a minha imaginação fértil fica buscando mil e uma explicações para compreender, afinal, o que essa imagem de cabeça separada do corpo de Papai Noel representa para os meus pais ou para as possíveis visitas. Para mim, mais parece um Papai Noel que fugiu dos padrões morais e perdeu a personalidade do bom e velho "bom velhinho". Saiu dos contos de Natal pra virar vilão na vida real. Terá feito alguma perversidade com alguma criancinha, meu Deus? A cabeça, assim, arrancada do corpo, deduzo que, com as próprias mãos, alguém fez o "olho por olho, dente por dente" contra o tal Papai Noel.

Foi tão malfeitor assim que o levaram para a forca? Imagino uma morte martirizada tal como a do Tiradentes. Aquele Papai, dono da cabeça pendurada na minha sala, teria vivido seus últimos momentos como um autêntico herói ou o cortaram em pedacinhos para servir de exemplo a outras versões malvadas de Papais Noéis?

Toda vez que chego em casa, me pego olhando para a cara de gente boa de velhinho do Bem, de óculos, bochechas cor-de-rosa, rosto fofinho, barba longa e branca como neve. O vento vem do jardim balançando a pobre cabeça saudosa do corpo. Ele ainda me parece vivo.

Não fico me perguntando se existe Papai Noel, me pergunto mesmo é: "Será que existe um Papai Noel do Mal? Assim como: "Será que existe um padre, ou seja lá como é chamado alguém que exerça uma profissão de fé, que não seja de todo do Bem?" Existe sim, afinal não é do ser humano a qualidade de santíssimo ou 100% do Bem em todos os atos e pensamentos.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Não um dia 13 como outro qualquer

Esses dias, indiretamente, uma pessoa muito linda, linda mesmo, por dentro e por fora (se me permitem o clichê) tem me ensinado algo também muito lindo. Ela nem sabe que deu uma aula sobre a vida pra mim, mas faço questão de confessar e divulgar o bem que ela me fez.

Não a conheço de longas datas, não há convívio, não é minha amiga, ou pelo menos ainda não ( torço que seja), mas sabe aquelas pessoas transparentes que você consegue distinguir cada pedacinho da alma só de olhar bem nos olhos? Ela é uma.

Trabalha na sala em frente à minha. Ainda bem que, lá no meu trabalho, as paredes são de vidro; assim pude perceber a animação do setor naquele dia e o motivo da alegria. Lembrei de que a terça-feira dessa semana, dia 13 de dezembro, não era uma terça como todas as outras. Era o aniversário dela.

Como pude esquecer, se enquanto ela me dava carona, uma semana atrás, deu-se um silêncio momentâneo e do nada ela pensou alto, com uma empolgação quase incomum de se ver por aí: “ – Dia 13 é meu aniversário!” E pra minha surpresa, completou: “ – Dá um frio na barriga. Fico tão ansiosa”. Achei esquisito; não que ela seja esquisita, só achei diferente, porque eu nunca liguei muito pra datas, na verdade, nunca dei bola para uma data específica, a do meu aniversário.

Veja só, ano passado, cheguei pela manhã no trabalho, entrei na sala meio desconfiada e disse um “Bom dia!" normal e a sala de mulheres devolveu o meu “Bom dia!" normal também com o mesmo “Bom dia!" normal. Mas eu sabia que elas sabiam que era meu aniversário, da mesma forma que eu sabia que para elas tudo é motivo de festa, motivo da cota de refrigerante, bolo e salgado. Mesmo assim, respeitei o mistério do dia e fiquei na minha matutando: “ Elas vão aprontar alguma, ora se não!”

Passaram-se longos minutos até que libertaram o riso e sumiram comigo num abraço coletivo. Fui questionada pela indignação de uma delas: “ Como pode, menina, você aparece assim tão normal no seu dia?!”

Sempre achei normal, afinal todo o mundo faz aniversário uma vez por ano, todo mundo já nasceu um dia, o dia tal, do mês tal, ano tal, em que as mães deram à luz a um serzinho. Será que nunca dei importância por não me achar uma “luz”, não assim uma indivídua Brastemp?

Sei lá, só sei que a pessoa linda me fez enxergar o dia especial que é o Dia em que a gente veio ao mundo. Só sei que, enquanto voava sobre meus “tecos-tecos” apressados pelo corredor, parei um momento e reparei que o departamento da frente era só palmas e “parabéns pra você”(pra ela). Quando a vi - de pé, agitando as mãos no ar como quem pede aplausos e pulando como uma pipoquinha baiana- dissolveu-se a imagem decorada da minha agenda de afazeres do dia que circundava minha cabeça. Fiquei pensando: “ É, é essa vontade de celebrar minha existência que eu devo ter.”

Não pensei em mais nada, só mesmo em ir lá na mesa colorida dela dar um abraço pra lá de verdadeiro, de pura admiração. Ela transmitiu uma energia tão positiva pra mim. Entendi então o sentido da expressão que diz "dar à luz". Iluminada ela, pois além de adorar seu próprio aniversário, adora Deus.

Ontem, na carona, ela me deu mais uma lição, refletindo assim: " - Com tantas tragédias no mundo, comemorar mais um ano de vida é uma benção."

Agora sim, juro que sempre vou reafirmar com ansiedade: “ Dia 20 de janeiro está chegando! Meu Aniversário!" Juro que sempre vou celebrar cada ano de minha existência nesse mundinho de nosso Deus. E que venham os cabelos brancos!

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

T.P.T: tensão pré-tristeza

Você vai montando aos pouquinhos um arquivo particular de memórias de tudo que já achou mesquinho em suas próprias atitudes e nas atitudes dos outros.

Quando você, pelo impulso de um certo momento, trata mal alguém ou alguém te trata mal.

Quando você nota gente ao seu redor chorando baixinho, abafado, tudo pra não demonstrar sequer o menor sinal de fraqueza que seja, porque alguém determinou que o mundo é para os fortes. Você é forte? Eu, definitivamente, não e nem um pouco. Não tenho força suficiente, principalmente quando falam com alguém querido ou comigo de uma forma tão insensível a ponto de deixar o outro tão murcho quanto um bolo sem fermento. Ou quando o coração aperta tanto quanto um sapato bicudo e menor que o pé.

Quando entregamos muito menos do que alguém da família espera da gente. Quando sabemos que não estamos vivendo a vida que nossos pais sonharam pra gente. Você não está tentando passar num concurso público. Você não tem aquela quantia de dinheiro pra construir uma família logo, logo.

Você vai arquivando essas coisas, ou algo parecido, e outras coisas mais pequenas e deprimentes, somando com outros sintomas muito comuns em mulheres com t.p.m e acaba resultando em algo bem mais tenso: T.P.T -tensão pré-tristeza, ou seja, uma enxurrada de lágrimas de desabafo, capaz de inundar o rosto e o corpo inteiro abaixo. Um temporal que pode passar logo ou durar mais tempo que o esperado. Uma nuvem carregada que parece levar a abate sua mente e alma. E olha que não é exagero de alguém viciado em novela, é só um aviso prévio da chegada dEla, dessa tristeza bandida, que se instala na gente de supetão. E às vezes vem de mala e cuia a danada.

Mas sem desespero, ninguém vai mandar você engolir o choro. Pense que, daí em diante, você só aliviará essa T.P.T atraindo mais gente querida pra bem perto.

Consulte seu amigo, seu namorado(a), quem seja, mas busque alguém que massageie seu espírito. E nem é preciso muito, só um carinho, um abraço daqueles, bem apertado.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Ele é incrível

Não tem jeito, faz quase 24 anos que eu tenho Pai incrível e até hoje não deixo de ficar pasma com as atitudes dele. Meu Pai do céu, como cabe tamanho altruísmo num pai terreno, assim, de carne e osso? Ele trabalha há 31 anos na mesma empresa o dia todo, às vezes o fim de semana todo. E isso só pensando em garantir o máximo de conforto que conseguir oferecer a sua família. Ele faz tudo pensando em agradar a gente.

Essa semana mesmo, só comentei por alto que estava precisando urgente de uma mochila resistente. Ele decidiu então que compraria pra mim, eu disse: "não, pode deixar, que eu mesma descubro onde vende mochila resistente às minhas trocentas tralhas de fins de semana fora de casa". Eu insisti: "- Não precisa!", e quando achei que tinha conseguido convencê-lo de que o ideal seria que eu mesma escolhesse a melhor mochila do melhor preço, ele me liga durante seu horário de almoço, procurando saber quais características eu buscava em uma mochila.

Disse-me as opções de cores, esperando uma resposta, estava mesmo prestes a comprar. Eu disse mais uma vez que não precisava, achando que a loja fazia parte do seu caminho. E acredite, ele fez ainda uma apurada pesquisa em várias lojas (descobri logo à noite na volta pra casa, enquanto descrevia com propriedade os tipos e preços de mochilas que viu).

Agora, me diz, leitor(a), se não é de admirar uma pessoa dessas? Se dependesse dele, ele poderia passar fome, andar por aí maltrapilho, mas sua esposa? Seus filhos? Esses não! Fico até pensando: se algum dia, por alguma razão, não tivesse comida suficiente no jantar pra toda sua família, certeza que mentiria, sendo bastante convincente, ao afirmar que não sente fome.

Meu Pai de carne e osso é realmente incrível, de um incrível beirando ao inacreditável. Meu Pai é o cara, meu Pai é um santo. Oh, meu Deus, e eu o amo tanto!

Quer me ver triste, arrasada? É eu saber que ele está triste e extremamente preocupado, fazendo as contas do mês na mesa da cozinha, sem nem ao menos dormir direito. Como me dói ouví-lo desabafar às 5h30 da manhã: " - Como eu queria dormir mais! Sinto minha cabeça oca..."

domingo, 4 de dezembro de 2011

Xih...faltou enfeite!


Entrou no quarto do irmão agarrada a um pinheiro de plástico raquítico, segurando-o com um bracinho de menina de 10 anos. Exibia a novidade com uma felicidade incontida. A mãe acabara de comprar o que seria dali a instantes uma mini-árvore de Natal como manda o figurino: enfeites, enfeites, enfeites e uma estrela brilhante na ponta. Quer dizer, não foi bem assim como manda o tal figurino natalino. Mas elas se esforçaram. Ouvi da sala as duas matutarem como se enfeitava uma árvore. " Ah, isso aqui é assim, aqui, filha!" Foi assim até que enfim:

" - Vai, Filha , mostra a ela a árvore coitadinha, quase sem enfeites. (risadas)"

- Cadê? Onde? Não tô vendo!(a mãe reagiu à minha pergunta com boas risadas) Eu indagava sem malícia, sem notar se poderia ofender a menina que sonhava com uma árvore de Natal na sala sempre bagunçada de sua casa. E lá estava o pinheirinho de plástico, tão minúsculo e escondido pelo braço do sofá.

Cheguei mais perto para averiguar se havia mesmo carência de decoração e, de fato, da metade pra cima haviam coisas fofas penduradas. Da metade pra baixo não havia nada, apenas as pontas dos braços do pinheirinho feito um pedinte na rua implorando por uma moedinha, neste caso, por um enfeitinho que lhe desse mais cor, mais vida, mais clima de Natal. Apesar disso, eu não desprezei o pinheirinho, pois havia, uma, uma não, "A Estrela" com grãos reluzentes no topo; meio torta, mas estava lá, é o que importa. Não conta a tal história que foi a estrela que guiou os Reis Magos? Então?! O pinheirinho de Natal me satisfez, mas não a menina exigente que olhava-o com a expressão de quem sente falta de alguma coisa muito importante.

Quando a mãe me confessou que há muito tempo ela pedia uma árvore de Natal, aí eu entendi que ela não estava sendo exigente não; apenas queria que tudo fosse fiel ao seu sonho de Natal.

E agora eu devo cumprir a promessa de levar mais enfeites para o pinheirinho de Natal da Larinha.