segunda-feira, 25 de março de 2013

O homem invisível

Escutei meu nome, Elaine!, claramente pronunciado pela boca de um homem invisível, ou pelo menos até então invisível e até então "um" homem qualquer.

Que homem é este?

Lembra daquele filme "A Mulher Invisível"? Então(!), nada a ver com esta história aqui.

Esse homem é simplesmente o carinha que cuida da limpeza do meu local de trabalho e, sei que é vergonhosa esta confissão, mas o fato é que eu nunca o vi antes, isto é,  antes de ouví-lo dizer meu nome, com pronúncia super correta. Nem minha mãe, que é minha mãe, consegue se dirigir a mim falando meu nome direitinho assim! (Ela sempre chama por uma tal de "Elane", que por acaso sou eu, E-la-i*-ne. Mas não que ela não saiba o nome que deu à própria filha, e sim por talvez achar mais prático me chamar dessa forma.

Voltando ao homem que era invisível pra mim até sexta passada. Tá certo que eu poderia alegar que onde eu trabalho (diversos veículos dentro de uma empresa só) é muito grande pra alguém ter a incrível habilidade de enxergar e decorar os traços físicos, personalidades, os rostos, os nomes ou apelidos, ou o que quer que seja de todas as pessoas que circulam por ali. E mesmo assim, mesmo com essa desculpa, ainda não me sinto confortável com a ideia do homem invisível saber o meu nome e eu não saber o dele; pior ainda: ele ter me enxergado e eu não ter enxergado ele.

Mas, tá! Nunca é tarde. Eis o momento em que eu o enxerguei pela primeira vez.

Eu tinha chegado de manhã muito cedo, pouco mais de uma hora antes do horário do expediente. As luzes estavam apagadas. O meu computador ligado. As portas sempre abertas, afinal, não tem porta nos departamentos. Eu estava quieta e com sono, sentada na minha mesa, procurando ler alguma coisa na internet. Foi então que o homem invisível se projetou na minha frente, segurando suas simples ferramentas de trabalho: balde e vassoura de pano. Olhou pra mim com ar de preocupação e disse:

- Bom dia, Elaine! Vai te atrapalhar, se eu ligar a luz?

Respondi de imediato que não tinha problema algum, mas demorei um tempão pra processar o que tinha acabado de acontecer. "Ele me chamou pelo meu nome! Como ele sabe meu nome?", pensei, surpreendida. No meu silêncio, fiquei mentalizando uma forma de retribuir aquilo. Com impulso, consegui dizer:

- Qual seu nome? Você sabe o meu e eu não sei o seu! (risadinha)

- É que eu ouvi te chamarem aqui, aí eu decorei, entendeu? Eu decoro.

- Ah, sim! Mas qual teu nome?

- Eberson!

- Everson?

- Não, é ÉBerson!

- Ah, tá! Éber-son!

E foi assim que, naquele dia, deixei de lado minha indisposição matinal para bate-papos. O homem, agora visível aos meus olhos, me contou sobre a sorte que foi a equipe da madrugada não ter sofrido nenhum acidente grave por conta do transporte que capotou.

terça-feira, 19 de março de 2013

Meu arranhão,

Depois de muito tempo sem nenhum arranhão em parte alguma do corpo, olha só, olha aqui meu cotovelo! Roxo com casquinha de ferida no meio seguindo em ziguezague. Parece cicatrizar a cada minuto. Parece até que logo, logo vai desaparecer da minha pele. Eu não quero que suma de repente. Eu quero mostrar meu arranhão como quem levanta um troféu pra todo mundo ver.

 Não estou fazendo metáfora. Este não é um texto pra dizer que estou me curando de uma "dor de cotovelo". É apenas pra contar que voltei a ser menina; que voltei a não ter medo de cair, de me esborrachar no chão e levantar em seguida, chorando ou não. Parece até que estou naquela época em que eu calçava os patins pela primeira vez e saía me apoiando na mão do meu melhor amiguinho, até que eu pudesse seguir patinando sozinha, correndo riscos por conta própria.

 O arranhão passou a fazer parte do meu cotovelo esquerdo depois de eu escalar uma garrafa de coca-cola gigante em uma ação promocional na praia. Foi até engraçada a cena: eu, que não consumo refrigerante há anos, por opção e por achar que não é nada legal pra saúde, agarrada a uma garrafa de Coca-Cola, fazendo força pra alcançar o topo, ou melhor, a tampa. Já sentindo arder o cotovelo, a aventura seguinte era descer na tirolesa; moleza, ao menos eu não tive que tirar forças de onde eu já não tinha.

 E assim eu sigo nesses últimos meses, enfrentando medos bobos: indo duas vezes no Calafrio do Beach Park (Insana ainda não, tá?!), - sem fechar os olhos, sem gritar -;  permitindo dois amigos me levantarem até o teto nos ensaios de coreografia, - sem o medo pintado no meu rosto-; escalando refrigerantes que eu não bebo, etc e etc.

 Assim tem sido. E é assim que eu volto a escrever por aqui, sem medo de publicar textos bobinhos, sem medo de tentar tocar o coração de quem me ler.