sábado, 16 de janeiro de 2010

Estrondo no crânio

A cada dia me convenço de que os loucos são os seres mais normais desse mundo.
Ontem, fui testemunha e vítima de uma insanidade que todos deveriam fazer e deixar um terceiro fazer, por você, em você, ao menos uma vez na vida.

Estava eu a caminhar de mãos dadas com o meu digníssimo par num passeio de sexta-feira à noite pela avenida nobre da cidade. Estávamos um pouco anestesiados, - leve efeito de quem não está muito acostumado a beber, logo, duas latinhas de cerva já fazem total diferença durante a viagem do sangue em sua rotineira corrente sanguínea -, quando senti parcialmente um estrondo alastrar-se sobre meu crânio.

Atônitos, meus neurônios buscaram entender o que diabos afinal estava acontecendo; não durou muito, de maneira tal que nem as sinapses, com todas suas qualidades ágeis e instantâneas, puderam encontrar uma explicação sensata para aquilo. Então, ouvi o namorado balbuciar algo em tom indeciso olhando para trás à minha esquerda. Resolveu calar-se e afagar minha cabeça - que, aliás, muitos já apelidaram de cabeção. Talvez uma das explicações do fato ocorrido ter ocorrido justamente comigo.

Quando meu cérebro pareceu desistir de entender o que houve, achou uma solução por instinto e mandou que minha cabeça e visão se virassem para trás. Pude finalmente ver o que havia me atingido me ultrapassar num vulto indistinto. Assim que me recuperei do baque, vi a indivídua, minha agressora.

Ela tinha o cabelo curto, amarrado com fios entrelaçados num habitual desalinho. Vestia um blusão surrado, todo sujo em cor de lama abaixo da cintura e um calção acima do joelho. Observei essas características enquanto a criatura corria desvairada. Segundo meu namorado, momentos antes ela deu sinais de que ia se jogar sobre os carros, mas na verdade queria mesmo era bater na minha cabeça num tradicional pedala robinho, só que com 4 vezes mais potência.

Depois de pensar um pouco, entendi o propósito dos atos daquela mulher. Ela pretendia me acordar, remexendo minhas ideias para que eu pudesse me mover, sair de mim por alguns instantes. E não foi meu cabeção o atrativo para que eu fosse o alvo da vez, foi por outra razão ainda desconhecida a mim.