domingo, 27 de abril de 2008

Manifesto do Pingo Celeste


Eu pertenço a toda dimensão,ao passo que minha grandiosidade não é tão notável quando posta em análise na perspectiva deste Planeta chamado Terra.Suponho que todos esses humanos,almejando serem os desenhistas mais profanos,arriscam me representar com meros xis cruzados entre si.Mas será que eles não percebem como é vã essa atitude.Jamais poderão ao menos tracejar minhas medidas meticulosamente distribuídas.
No auge de minha constelação, ainda descubro que neste tal Planeta,existe um grupo de indivíduos "Pop Stars". Mas quem os autorizou a copiar meu nome celestial?Eles deturpam meu sentido e minha amplitude a todo instante em programas televisivos:"grande estrela","estrela" que em segundos vira "REi"-"Nosso Rei"-"Fera da música brasileira".
Ah...convenhamos.Nós estrelas, somos mais do que simples pingos dispersos no céu desses humanos.

domingo, 20 de abril de 2008

19 de Abril


E hoje,o sentimento se fez concreto,
impregnou na nossa aura sem aviso prévio.
Sinestesias em uníssono.
Dois seres únicos,que não pertencem ao universo,
nem tampouco às convenções que há muitas estações
são revestidas por feixes de hipocrisia.
E agora,nada mais importa:
o ponteiro dos segundos não emite mais o ruído esperado,
o valor da cédula sumiu,
e o pretérito-imperfeito,finalmente,virou fuligem.
O presente é, agora,faísca.
e o futuro, nuvem pronta pra se transformar em água cristalina.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Agilidade em tempos modernos



Engole migalhas do pão de ontem.
Entorna a xícara de café ralo.
Come rápido.Bebe o engasgo.Não respira.
O expediente começa daqui a pouco.
Passos mecânicos até o veículo.
O impulso dos neurônios até os músculos é instantâneo,
que nem o macarrão guardado no armário da cozinha.
Aliás,não se pensa mais.Está tudo pronto,ou quase tudo.
Logo,se já está pronto,por que a demora?
Vamos lá,sai desse trânsito.Agilidade em tempos modernos.
Não dorme no ponto,se não quiser ter sua pele degenerada
pela ação do tempo,pelos agentes tecnológicos.


terça-feira, 15 de abril de 2008

Teco-Teco...Teco-Teco


Teco-teco...ela vem cheia de pose, ostentando o salto novo.
Teco-teco...ela acredita que assim o dia vai dar certo.
Ela diz que é um estilo próprio: sensual de ser.
Teco-teco...na verdade,ela procura estar por cima,
negando a sua altura,para se autoafirmar poderosa,mulher de negócios.
Mas teco-teco... ela é submissa ao diretor da sala logo ao lado.
Mais que Teco-teco irritante.Ela segue no corredor,
exibindo o seu sapato novo: instrumento simbólico de poder.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

A mesma chuva


A mesma chuva em que o menino brinca na biqueira,

é a mesma que deixa o ambiente propício a epidemias.

A mesma chuva, embaixo da qual os garotos jogam bola, na pista molhada,

é a mesma que cai inundando casas e desabrigando famílias .

A mesma chuva que levou a criança a pular na poça de lama,despertando

aquele sorriso puro que só um anjo faz semelhante,

é a mesma que levou o filho de alguém a tornar-se o próprio anjo.

E a mesma chuva que te faz lembrar de um momento doce da infância,

é a mesma que se transformou em gotas de sangue,

e que ainda lavará o seu espírito de todo mal dominante.

domingo, 13 de abril de 2008

Riscos que não são meus I

Riscos que não são meus:

post específico para expor textos de autorias grandiosas.

"As palavras me antecedem e ultrapassam,elas me tentam e me modificam,e se não tomo cuidado será tarde demais:as coisas serão ditas sem eu as ter dito.Ou,pelo menos,não era apenas isso.Meu enleio vem de que um tapete é feito de tantos fios que não posso me resignar a seguir um fio só;meu enredamento vem de que uma história é feita de muitas histórias.E nem todas posso contar-uma palavra mais verdadeira poderia de eco em eco desabar pelo despenhadeiro as minhas mais altas geleiras.Assim,pois,não falarei mais no sorvedouro que havia em mim enquanto eu devaneava antes de adormecer."


CLARICE LISPECTOR

Patrimônio Oculto


Miríades de livros dipostos em fileiras, nas quatro dimensões geográficas.Neste território, lamentavelmente, delimitado por paredes e poeira.Tudo emaranhado em teias, minuciosamente trabalhadas por habitantes agregados.
Patrimônio cultural e intelectual a repousar neste espaço, onde o silêncio é lei.Escritores vivos em páginas empalidecidas pelo correr dos séculos.Livros fechados,ansiosos à espera de curiosos que tornem viável o grito surdo ecoar em capítulos recapitulados,agora, visitados.Sábias palavras deleitadas por aprendizes sedentos do saber.
Patrimônio, antes,obscuro,oculto por uma obsoleta instituição religiosa.Sabedoria e corpos em meio às labaredas.Conhecimentos,felizmente, resgatados,preservados pelo patrimônio oculto.Este, com pretensões de ser revelado por curiosos: sábios aprendizes.

sábado, 12 de abril de 2008

Olha eles!


Olha ele,digo:olha eles!

Eles voam de galho em galho,de nuvem em nuvem,de fio em fio entre os postes da cidade. Lá embaixo é só tráfego, carros e faixas, sinais e placas em um estranho descompasso. É muito barulho no asfalto. É muita vida aqui em cima. Olha o pássaro,ouve o canto! E a gente lá embaixo, disputando por espaço nas avenidas . Olha o pássaro aqui embaixo! Ele só desce em último caso.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Riscos em Rascunhos.



Riscos.Rabiscos.Papel.
Desenhos amadores.
Corações.Letras iniciais de namorados interligadas pelo “&”
Borboletas e uma estranha flor, com uma quantidade de pétalas jamais vistas.
Triângulos.Quadrados.Círculos.Toda forma mora ali,no rascunho.
Seu rascunho pode traduzir bem quem você é.
Talvez, a melhor forma de viver o tempo,seja durante uma aula sacal
ou quando você supõe, erroneamente, que não tem nada pra fazer.
Em seu rascunho nada é Certo ou Errado,simplesmente é.
Riscos e rabiscos não mais no papel,mas em você mesmo.
Esteja livre.Arrisque-se a transcrever seus pensamentos.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

O Assento Precioso.


-O assento.Ok.O assento.
Todos concentrados em um só pensamento:
-Eu quero ir sentado.

Em pé no ônibus.Isso pode ser desagradável.
Cabelos alheios podem grudar na sua pele
e a inércia te levar ao chão.
E se chover,o incômodo torna-se angustiante :todos fecham as janelas
E você quase falece, sufocado com o gás carbônico
liberado por aqueles pulmões espremidos,reprimidos.
Comprovadamente: Dois corpos não ocupam o mesmo espaço.
O terminal,a fila e a angústia da espera.
O pé direito já não dá batidinhas nervosas,
todo ônibus atrasa.Então, até o seu membro inferior já concluiu
que toda e qualquer aflição é em vão.
Dez.Vinte.Trinta minutos.
Eu vejo, a metros de distância,
o primeiro da fila conferir o tempo.
Eis que surgem os assentos:é hora da disputa.
Quem serão os grandes vencedores?!
Um verdadeiro teste de agilidade e esperteza.

O assento nunca se sentiu tão valorizado
em situação semelhante.

zzz...


Sonhar Dormindo.

Não me venham com “bom dias”
Ainda não estou preparada para formalidades.
Tudo o que eu quero é continuar com meus olhos cerrados,
desfrutando a escuridão que o sono me permite.
Uma voz que mais parece de outro mundo decreta: “acorda,filha!”
E eu tenho que voltar para o mundo real,”mas eu ainda tenho alguns minutos,por favor!”

A minha mais sábia conclusão do dia:
Eu prefiro sonhar dormindo a sonhar acordada.

terça-feira, 8 de abril de 2008

O vômito impresso


Ela fica aqui ao meu lado,perto da porta,na sala de formato compacto. Neste canto, disputa espaço com os papéis jogados à esmo, logo abaixo do que seria sua boca. São cinco os seus dependentes. Eles sempre esperam pelo momento em que ela vomita folhas, com um cheiro de tinta a emanar disfarçadamente no alvo branco do ofício.
O processo é sempre o mesmo: algum dependente clica em arquivo-imprimir, mas para não desperdiçar o tempo, marcado no canto inferior direito, é melhor optar pelo Ctrl..P.
Chega aquela hora de esperar que o vômito impresso seja expelido. São tão exigentes os dependentes, que eles não toleram um vômito feio. Na maioria das vezes, ela-a geradora de vômitos- é útil nesta mecânica, mas quando algo de errado ocorre por acaso, as palavras desagradáveis dirigidas à sobrevivente máquina parecem até predestinadas.
A primeira solução:chama o cara da computação. Afinal,a gente só é mal pago para comunicar,mas aí o relógio na tela do “PC” já marca 18:30, e os dependentes estão quase indo em boa hora(é o que eles mais desejam). Consertada,ela vomita as últimas folhas, as quais são pegas sem nojo nas últimas horas de um dia mais que cansativo. As luzes da sala acatam a ordem do interruptor mais próximo.

A impressora agora está no breu,
Está afogada no seu vazio de vômito recente.

O Pecado à espreita



Ele está logo ali, na escuridão do dia,
armando,planejando.
E se você vacila ou demonstra-se relutante,
Ele te atinge de outra maneira:
na misteriosa moradia do inconsciente.
O pecado aguarda,está à espreita em qualquer esquina,
E se você tenta cruzar a avenida,ele se faz onipresente
num rosto estranho ou até mesmo na parede invisível.
E o incrível é que ele te dá ânimo pra continuar vivendo,
porque só assim você foge da monotonia que assola o seu dia a dia.