terça-feira, 29 de abril de 2014

Solidariedade não é uma esmola qualquer.

Por elainepacheco, também publicado em twentyweeks.com
De onde essas pessoas tiram vontade de viver? A gente pensa que não, mas, pra eles, motivos há de sobra.
O último post do TwentyWeeks, “Super-heróis Invisíveis”, por Madsen Lima, me sensibilizou ainda mais em relação às pessoas de rua que contam com nossa generosidade.
Observando um mendigo deitado numa calçada, todo coberto por um pano surrado, me ouvi perguntando alto: De onde essas pessoas tiram vontade de viver? A gente pensa que não, mas, pra eles, motivos há de sobra.
Outro dia, entrei e saí da padaria, passando muito mal. Ao entrar, considerando meu atual estado, não liguei muito para a senhora encostada na parede, segurando muletas e pedindo ajudinha. Meio que a ignorei, mas não pude deixar de reparar na sua presença. Devo ter apenas balançado rápido a cabeça negativamente.
Tentei me acalmar e esperar o tempo que meu organismo precisava para voltar a ficar tudo nos conformes. Não sou de procurar médicos, banco a forte. Esperaria, sim, meu corpo se recuperar por si só. Então, saí da padaria depois de tentar comer uma salada de frutas e de insistir em beber água, que pra mim era só uma água gelada que eu não conseguia engolir.
Passei pela mesma senhora, que desatou a falar todo seu discurso novamente. Olhei para minha mão agarrada a uma garrafa d’água que não conseguia consumir, voltei atrás, olhei para a senhora e o gesto, meio involuntário, foi estender a garrafa para ela pegar.
Para minha surpresa, iniciou-se um longo discurso de agradecimento. Tão longo, que eu não sabia se ficava parada ali, quase desmaiando, aguardando ela terminar de falar, ou se eu seguia em frente. Foi o que fiz. Fui embora pensando “Mas eu não fiz nada, é só uma água!”. E a senhora continuou agradecendo:
“- Ô, minha filha, agradeço muito! E tá geladinha, oh! Vou poder misturar com a água que eu já tinha aqui e que vai ficar fria agora.”
Falou isso e uma porção de outras coisas decretando que eu era alguém muito abençoada. Fiquei refletindo sobre ter pensado que era só uma água. Pareceu um menosprezo ao que era tão importante para a moradora de rua.
Com isso, encerro este post com a ideia de que devemos valorizar mais nossos gestos de solidariedade. Também entender o porquê do que fazemos pela gente mesmo e do que fazemos pelos outros, para os outros.

domingo, 13 de abril de 2014

Tá com um tempinho aí?

Por elainepacheco, também publicado em twentyweeks.com
Nessa coisa de tempo corrido, de dedicar muito tempo ao trabalho, onde foi parar o conceito de família, a ideia de estar mais junto desta? Por onde anda a qualidade de vida?


Esta semana, estava lendo uma crônica da Revista Vida Simples, quando o tema prendeu minha atenção. Na conclusão da experiência relatada, o autor Denis Russo cita a tal “vida moderna”. Leia um trechinho:

Só que aí a tal “vida moderna” decide reorganizar o espaço das cidades. E traça avenidas, rachando os bairros, rasgando as famílias, distribuindo as pessoas ao longo de artérias de transporte, por onde fluem matérias-primas, recursos humanos, bens e serviços. E, com isso, quase sempre, os avós vão parar longe dos netos.
E num bairro triste os avós aguardam a visita das crianças e os pais tentam encontrar uma creche para os filhos. (…)
Fonte: Vida Simples, p.64, ed. 143, abril 2014.
Me parece que a questão preocupante não é apenas espacial; tem mais a ver com o Senhor Tempo. Ou a gente que deveria ser Senhor dele? Bom seria declararmos que temos o tempo e não que ele nos tem.
40, 44 horas semanais, é comum nosso trabalho durar esse tempo todo; quando não, mais. Por isso, nem nos surpreende ler que, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os brasileiros dedicam 40,8 horas por semana à profissão, sendo que 33,7% das pessoas passam das 44 horas e 19,1%  superam as 48 horas semanais. Na Alemanha, são 38 horas. Na França, 35.
É provável que você já tenha ouvido esse tipo de comentário nas reuniões e confraternizações do seu trabalho: “Ah, aqui somos uma família, afinal, passamos mais tempo no trabalho do que em nossas próprias casas”.
Outro dia, estava voltando pra casa e já era umas 22h30. Quase chegando ao meu destino, ouvi o motorista dizer ao celular, implorando até: - Oh, não deixa ela dormir, tá? Quando eu chegar em casa, ainda vou brincar com ela!
Aquilo me tocou. Pensei “Poxa! A que ponto chegamos?”. Nessa coisa de tempo corrido, de dedicar muito tempo ao trabalho, onde foi parar o conceito de família, a ideia de estar mais junto desta? Por onde anda a qualidade de vida?
Será mesmo que tudo se resolve com a dica de melhor administrar o pouco tempo que nos resta, inclusive aquele após o expediente? 

quinta-feira, 3 de abril de 2014

O senhor de 77 anos que não faz questão de certas coisas.

A topic lotada, enquanto alguns passageiros se incomodavam com um senhor em pé, perto das portas traseiras. "Procure um lugar lá na frente, pro senhor sentar" Ao que ele respondeu:

"- Ah, mas tá muito difícil chegar até lá. Tem problema não, fico por aqui mesmo". 

Esse senhor desce logo, ainda bem, e fica outro senhor de cabeça branca num dos degraus. Este resmunga: 

"- Eu já tenho 77 anos, minha filha, lá vou atrás de canto pra sentar!" (Fala, em tom de quem tem experiência de vida suficiente pra aguentar coisa pior do que seguir viagem em pé).