terça-feira, 29 de junho de 2010

Risco alheio - Raul Seixas

Ouro de tolo

Eu devia estar contente
Porque eu tenho um emprego
Sou um dito cidadão respeitável
E ganho quatro mil cruzeiros por mês

Eu devia agradecer ao Senhor
Por ter tido sucesso na vida como artista
Eu devia estar feliz
Porque consegui comprar um Corcel 73

Eu devia estar alegre e satisfeito
Por morar em Ipanema
Depois de ter passado fome por dois anos
Aqui na Cidade Maravilhosa

Ah! Eu devia estar sorrindo e orgulhoso
Por ter finalmente vencido na vida
Mas eu acho isso uma grande piada
E um tanto quanto perigosa

Eu devia estar contente
Por ter conseguido tudo o que eu quis
Mas confesso abestalhado
Que eu estou decepcionado

Porque foi tão fácil conseguir
E agora eu me pergunto: E daí?
Eu tenho uma porção de coisas grandes
Pra conquistar, e eu não posso ficar aí parado

Eu devia estar feliz pelo Senhor
Ter me concedido o domingo
Pra ir com a família ao Jardim Zoológico
Dar pipoca aos macacos

Ah! Mas que sujeito chato sou eu
Que não acha nada engraçado
Macaco praia, carro, jornal, tobogã
Eu acho tudo isso um saco

É você olhar no espelho
Se sentir um grandessíssimo idiota
Saber que é humano, ridículo, limitado
Que só usa dez por cento de sua
Cabeça animal
E você ainda acredita que é um doutor, padre ou policial
Que está contribuindo com sua parte
Para nosso belo quadro social

Eu que não me sento
No trono de um apartamento
Com a boca escancarada cheia de dentes
Esperando a morte chegar

Porque longe das cercas embandeiradas que separam quintais
No cume calmo do meu olho que vê
Assenta a sombra sonora de um disco voador

Eu que não me sento
No trono de um apartamento
Com a boca escancarada cheia de dentes
Esperando a morte chegar

Porque longe das cercas embandeiradas que separam quintais
No cume calmo do meu olho que vê
Assenta a sombra sonora de um disco voador

sábado, 19 de junho de 2010

Para tudo, o país entrou em campo!

Não mais que de repente, surge um patriotismo tolo.
Ninguém quer saber mais de nada. O comércio fecha. As pessoas não trabalham.
O mundo para.

A ansiedade fica estampada nas caras concentradas.
Os olhos dessa gente muda de cor, fica assim, metade verde, metade amarelo.
Unhas verdes e amarelas, ruas verdes e amarelas, Sol verde e amarelo.

Aposto que até o hino completo toda essa torcida é capaz de cantar. É a pátria, nosso Brasil entrou em campo, e nada mais importa, nem a política, nem a guerra, e muito menos uma galerinha cheia de fome.

É isso aí. Pra frente, Brasil!

sábado, 12 de junho de 2010

Dinâmica dos apaixonados


Pode faltar coragem pro dia-a-dia, mas ostentam um sorrisinho de leve no rosto.
Pode faltar vontade de vencer, mas se determinam, seguem adiante.
Pode alguns feitos parecerem impossíveis, deixam se tornarem concretos diante de seus olhos reluzentes.
Pode o mundo, as pessoas ficarem em desequilíbrio, mas vencem a inércia, seguram juntos as pontas.
Pra eles cairem é difícil, sempre tem aquela força divina os guiando, e aquela outra força que ninguém, até hoje, soube definir.
Esta força oculta, que só se sente,está nelas, está neles.
Assim, eles se complementam. E, por isso, parecem até perfeitos.