segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Intriga


Fico intrigada. Eu não sei o que acontece.

Toda vez que volto pra casa, -raramente -, vou decidida na direção do meu 1/4 de Quarto. De início, só pra tirar das costas e dos ombros até rechonchudos para uma magra ("falsa magra"?), o peso das bolsas. É aí então que começo a me intrigar.

Sento na cama e fico encarando um imenso guarda-roupas equivalente a 3/4 do meu Quarto. Observo-o da cabeça aos pés. Ele surge do teto e é grudado na parede. Lá no compartimento do alto, uma boneca gigante de olhos azuis até demais e vidrados. Outra boneca, que parece ser a miniatura da primeira, também é branquela de olhos vidrados e também azuis por demais. O mais intrigante é que nenhuma delas é ou foi minha. Da minha mãe. Ganhou-as de presente, mesmo já bem crescidinha e com dois filhos, na época, adolescentes. Meu pai que a presenteou.

Eu lembro que eu já tentava entender de onde vinha aquela fascinação da minha mãe por bonecas de plástico, donas de olhos fixos aterrorizantes. Eu sempre tive pavor desses olhares longínquos; parecem visualizar um futuro drástico e, por consequência, têm uma visão perplexa a qual, nós, meros humanos, nos tornamos incapazes de compreender ou de desvendar o mistério que se esconde ali, do fundo dos olhos ao fundo da alma. Mas boneca não tem Alma, tem? Não, acho que não. Ou será que ganhavam almas espontaneamente no processo de fabricação e numa das etapas finais, existia alguma máquina que sugava da boca de formato "pede bico" uma alma que quem sabe habitaria ali, dentro do corpinho plastificado, simulação imperfeita do corpinho de um bebê.

Fico intrigada quanto a isso até hoje. A invenção do Chucky nos cinemas teria sido uma conspiração da Associação das Bonecas Pavorosas para me apavorar ainda mais? Pior! O barulho de roedores de madeira tinindo de dentro do meu guarda-roupas, toda vez que preciso pegar uma roupa, seria só o início para o estopim do plano maquiavélico das Bonecas de olhos penetrantes na carne humana? Ahhhhh, um Terror!

E permaneço intrigada me questionando ainda por que minha mãe insiste em me doar suas Bonecas bizarras, numa também bizarra exposição sobre meu guarda-roupas mutilado por cupins.

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