sábado, 23 de julho de 2011

Uma dó dos cantores de barzinho

O Couvert artístico sempre foi motivo de piadas. Os amigos reunidos no restaurante vez ou outra brincam: " Olha, ninguém demonstra que tá gostando, ok? Nada de fazer ritmo com o pezinho ou dançar com a cabeça!" Tudo pra no fim das contas, acabarem, sim, pagando o temido couvert.

Embora não seja obrigatório, dá uma dó da pessoa lá tocando. Sempre achei essas batidas nas cordas do violão tão melancólicas. São canções perdidas entre os barulhos de talheres e pratos, falas e risadas mistas e desconexas.

Um cantor de barzinho deve ser meio tristinho ou talvez conformado das pessoas se aterem mais ao que estão devorando do que a canção da noite que exigiu tanto ensaio.

Quando o show de plateia "fantasma" (a concentração na comida parece sugar as forças daquelas pessoas, fazendo com que não se manifestem para aplaudir) chega ao fim, o músico - quer dizer, na maioria das vezes, o aspirante à músico, um tanto calado e cabisbaixo, guarda cuidadosamente os instrumentos nas caixas. Ele demonstra a sensação de dever cumprido. Bebe um gole d'água. Mal sabe ele que uma pessoa o aplaudiu. Imerso no repertório preparado, não ouviu. Vai ver o som confuso das pessoas interagindo entre si e com os pratos também não contribuiu.

Parece que de alguma forma, esses cantores de barzinhos encontram prazer em tocar pra muita gente, e ao mesmo tempo pra ninguém. Parece que eles nunca estão sós; estão na companhia de milhares de notas, mesmo que estas, por vezes, estejam tortas de desafino. Mesmo o cachê mínimo não impede que eles continuem admirando a música, achando o máximo tentar reproduzí-la.

Acabou que talvez a única observadora daquela situação ficou sozinha na mesa de bar. Ficou seguindo o artista com o olhar. Vendo-o ir embora com um objeto de roda, levando embora as caixinhas de som. O violão já descansava naquela espécie de "caixãozinho" com cinturinha de violão.

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