quarta-feira, 29 de maio de 2013

A Ana - a mais linda que já vi - viu o texto. Muita emoção.

Descobri que melhor do que escrever sobre pessoas bonitas, é fazer essas pessoas tomarem conhecimento do que escrevi sobre elas. Descobri isso hoje, quando entrei em ação: acessei o Três Paredes, busquei por "A Ana mais linda que já vi", encontrei rapidinho e mandei pra impressora. Caminhei até a máquina com ansiedade. Vi que o texto no blog rendeu duas folhas. Achei a fonte um tantinho pequena, mas resolvi não imprimir de novo. Seria desperdício de papel. Além do mais, logo a impressora poderia fazer doce pra mim, piscar luzinhas vermelhas e não imprimir mais. Também imaginei que a homenageada em questão não caberia em si de curiosidade, se utilizando de qualquer meio (lupa, quem sabe) para tornar aquelas letras legíveis e, assim, decifrar o que está lá.

Ei, você leitor que acompanhou minha história com a "Ana mais linda que já vi", hoje eu entreguei a impressão do texto para ela ler (de modo baixinho, silencioso ou em voz alta. Não sei como foi sua forma de ler, já que deixei secretamente em sua mesa para ser a surpresa do dia). Só sei que a Ana leu sim, cada letra, cada vírgula, cada possível erro ortográfico/gramatical. Ela veio me entregar, pessoalmente, sua resposta num papel dobrado com todo carinho. Não estava escrito à mão. Ela fez questão de digitar também, assim como o meu estava digitado no blog. O conteúdo só podia ser lindo, claro, vindo de uma pessoa linda:

" Estou lhe escrevendo, porque não vou conseguir falar com você, pois estou muito emocionada pela sua amizade, ou melhor dizendo, pela demonstração de seu amor e de teu grande talento. Você escreve muito bem.
 LINDA é você, pois tem a capacidade de mexer com o interior da pessoa com as palavras. Você chama isso de mania, eu chamo isso de TALENTO. Vou guardar na minha caixinha de tesouro que tenho em casa e, sempre que vou arrumar meu guarda-roupa, abro esta caixinha e fico horas vendo cada joia guardada.
Que Deus lhe abençoe e que todos os seus sonhos e metas em sua vida sejam concretizados.
De sua mãe, irmã, amiga...
Ana"

Sim, eu entreguei mesmo o texto pra Ela, a protagonista da história. Quer dizer, muita responsabilidade pra quem escreve sobre alguém que gosta tanto. Como descrever essa pessoa? Como chegar, por meio de palavras apenas, ao mais próximo possível do jeitinho especial de ser daquele(a) querido(a)? Eu fico em estado de tensão, sério! Geralmente, passo meses com ideias, diálogos decorados e as minhas impressões do momento vivido junto da pessoa. Simplesmente banco a egoísta e fico guardando histórias fofas na minha gaveta com fechadura. Não divido com ninguém; a não ser com as várias Elaines que formam a minha identidade. Fico assim, escondendo cenas que poderiam ser relatadas instantaneamente, mas talvez com poesia crua, verde ainda pra ser retirada do pé. E até que tem sim o lado bom de demorar a colocar no papel. Permaneço assim até falar pra mim mesma o que diria meu professor " O impossível não é tão impossível assim. É uma possibilidade" Aí, decido vir pra cá (tresparedes.blogspot.com) ou já ir fazendo um rascunho no meu caderninho, presente que ganhei de outra amiga muito querida; foi a maneira que ela encontrou de me incentivar a nunca sequer pensar em demorar a escrever ou parar de escrever.

Então, depois de expulsar o egoísmo de mim, de pensar na frase " o impossível não é tão impossível assim", vou em busca das possibilidades de contar aquela história especial pra mim e, em breve, especial também para o outro (assim eu sonho) que for ler. É meio complexo, mas simplesmente venho aqui, no Três Paredes, e decido compartilhar algo de bom. Fico esperando que você goste, que você viva a história comigo.

domingo, 26 de maio de 2013

Um dos maiores presentes que o Três Paredes poderia ter ganho e ganhou (:

A homenagem que me deixou sem palavras, mas me deixou feliz da vida. Quem diria, eu feliz sem palavras para escrever!

Lágrimas, literatura e gripe


Nestes vinte e muitos anos de táxi, talvez possa contar nos dedos as vezes que faltei ao trabalho. Sou compulsivo, disciplinado, desde pequeno - quando criança detestava faltar à escola. Um chato. Depois que virei pai, então, essa neura piorou. Responsabilidade.



Mas hoje estou em casa, doente, escrevendo este texto em pleno horário de trabalho. A gripe me derrubou. Mesmo escrever é uma tarefa penosa quando se está com o corpo dolorido, mas  fui puxado para o teclado. Uma garota do Ceará tirou-me da cama, resgatou-me pra vida. Recebi seu email como uma Benzentacil, uma Loratadina na veia. Em sua mensagem ela diz que chorou em um táxi e lembrou-se de mim. Isso em Fortaleza!


Casualmente, hoje é 23 de maio de 2013. Há exatos dez anos, eu publicava meu primeiro texto no Diário Gaúcho. Surgiam os blogs e eu fundava o Taxitramas. Desde lá, venho perseguindo esse arremedo de literatura semanal, tanto no jornal como na Internet. Parabéns - antialérgico e antibiótico no lugar de bolo. A garota do Ceará chorou no escuro do táxi, voltando de uma festa, porque ainda não tornou-se a escritora que sonha ser. Nem eu, tão pouco.

Mas nós teimamos em escrever, eu e minha amiga virtual. Nas horas vagas, como hobby, que seja, ou no horário de trabalho (entre uma corrida e outra), eu no meu blog, ela no Três Paredes, isso é tipo uma doença, eu acho. Ou um tipo de remédio, que nos tira da cama, nos faz ir em frente.

Minha amiga chorou em um táxi em Fortaleza e o taxista não notou. Ela, então, lembrou de mim, que não perderia a oportunidade para escrever sobre a passageira que chorou. E, indiscreto, publicaria suas lágrimas no jornal, no blog. Porque é infinita a dignidade de uma mulher que chora em silêncio.

Várias vezes pensei em parar de escrever, nesses 10 anos. Mas mensagens como a da minha amiga cearense me levam adiante. Ela tão jovem, eu cinquenta. Ela lá, eu aqui. A literatura nos conecta, seca as lágrimas, cura a gripe."


Do querido Mauro taxista e escritor.
http://www.taxitramas.com.br

quinta-feira, 23 de maio de 2013

- Esse aí não vale nada, minha filha!

Foi o que a senhora, no supermercado, me disse. Não estou inventando, nem adaptando, nem trocando uma palavra do que ela me falou naquele dia. O dia em que eu, humildemente, assumi pra mim mesma que não sabia escolher um (...) maracujá.

Eu tava por ali, encabulada, quase invisível diante de uma montanha de maracujás à minha escolha. Fiquei observando esta senhora que estava pertinho de mim. Parecia muito experiente no ofício de escolher. Reparei também num senhor cheio de bom humor. Ele estava rindo uma risada gostosa, quando perguntou pra ela:

- O que é que a senhora tanto ouve aí?

Aí ele pegou um maracujá também e imitou com fidelidade o que a senhorinha tava fazendo. Levou a fruta até a orelha e ficou balançando-a, como quem aguarda ouvir algum barulho vindo de algum canto desconhecido. Sabe aqueles brinquedos de criança que emitem sons engraçados? Ou aquelas bolinhas que você compra pro seu cachorro? Que quando ela sai quicando, sai também fazendo um barulhinho? Acho que o senhor aguardava algo do tipo.

Assim ele me deixou ainda mais curiosa. Minha vontade de descobrir o segredo do Maracujá perfeito cresceu assustadoramente. Depois de rir também, como se fosse amiga de longa data dos dois, tive a brilhante ideia de pedir ajuda pra sábia senhorinha:

- Bom dia, senhora! Como eu escolho um maracujá bom pra fazer suco?

Ela tinha acabado de descartar mais outra fruta. Assim que me ouviu, pegou de volta o maracujá rejeitado e pediu que eu o sentisse, exatamente como ela estava fazendo. Senti a polpa da fruta dançando freneticamente por dentro. A senhorinha, então, vendo que eu tinha captado a mensagem, ergueu as sobrancelhas e disse:

- Tá vendo?! Esse aí não vale nada, minha filha!

Se você também não sabe escolher maracujá, fica aqui como lição do dia: se o carocinho mexer muito, é porque não há polpa que preste lá dentro. Não presta pra fazer suco. Bem, foi o que a senhorinha me ensinou, e sem se estender muito feito eu contando essa história.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

O tio de uma amiga minha e o malandrinho abençoado

O tio e tia de uma amiga minha são a calmaria em pessoas. Tão tranquilos que, se você ouví-los cinco minutinhos que seja, é capaz de pegar no sono. Se eles cantarem, então, o estágio do seu sono evolui para profundo. Bem, foi o que a minha amiga me disse. Eu adoraria conhecê-los. E acho que você, leitor, também. Ainda mais com o que vou contar agora. Sabe aquelas histórias que contando ninguém acredita?

O tio dessa minha amiga; se você gosta de nomes, o Júnior, o Tio Júnior vinha caminhando numa avenida bem movimentada, próxima a um shopping "populoso" aqui de Fortaleza. De longe se podia avistar o Tio Júnior andando a passos curtos, não só curtos, estreitos e serenos como os de uma tartaruga madura e experiente.

Vinha com o braço direito muito bem encaixado na cinturinha do seu violão. Caminhava ora de cabeça baixa refletindo, com uma calma incomum, sobre todos os afazeres que lhe aguardavam, ora de careca erguida, contemplando o dia ensolarado e checando se podia atravessar as ruas secundárias sem grandes surpresas.

O fato da avenida ser bastante agitada, todo mundo sabe que não é impedimento algum para aproximação de espertinhos, malandros espertinhos. Sim, o nosso Tio Júnior corria perigo. Apesar de ser a tranquilidade em pessoa, o Tio Júnior não é de outro planeta e muito menos ingênuo. Ele sabe que corre riscos, mas não é isso que vai aprisioná-lo atrás das grades da sua própria casa. Ele precisa ir ao trabalho todos os dias. O médico lhe recomendou caminhadas de manhã cedinho. E além do mais, é tão pertinho. Quatro quarteirões e ele já pode ir abrindo sua lojinha de instrumentos musicais.

Mas vamos logo à parte da história que nos deixa apreensivos. O malandro espertinho também avistou, já de longe, o Tio Júnior. Ia pedalando ao seu encontro. Podemos até escutar agora o barulhinho inconveniente das correntes da bike faltando um óleozinho lubrificante. E então o barulho do freio ao lado do Tio Júnior, e o ladrãozinho inoportuno comunicando pra que veio:

- É um assalto, tio! Passa o celular e o violão!

O Tio, surpreso, mas sem perder o rebolado da sua calmaria, entregou nas mãos do outro os dois objetos desejados. Primeiramente, o celular, e sem hesitação alguma. Depois, o violão, com hesitação sigilosa e com sobrancelhas franzidas desenhando preocupação na testa. Mesmo nesse estado, quando o espertinho virou as costas, o Tio Júnior reagiu. Oh, Céus, o Tio Júnior reagiu ao assalto! Ele disse:

- Vá com Deus! Deus te abençoe!

O malando espertinho, até então se achando muito esperto, tinha sido pego de surpresa. Virou-se de volta pro Tio e perguntou meio arrependido:

- Você é evangélico?

O Tio:

- Não! Espírita.

O ladrão parou pra pensar um instante e tentou negociar:

- Pois vamo fazer o seguinte: te devolvo o celular e levo só o violão!

O Tio Júnior imediatamente respondeu de um jeito tão imediato que não poderíamos nem reconhecê-lo mais:

- Não, meu filho. Fica com o celular e dê cá meu violão, que ele é meu instrumento de trabalho.

E o ladrão, profundamente arrependido e querendo, a todo custo, garantir seu lugarzinho no céu, logo fechou a negociação:

- Ah, tá certo! Taí seu violão. Vá com Deus!

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Fazendo hora com o Tempo.



Era tanta felicidade, no domingo de ontem ao lado dele, que a seguinte pergunta me veio à mente:

Como a gente faz pra esse momento aqui durar mais?

Há certas inquietudes que nos vêm à mente como se não tivéssemos parado pra pensar naquilo antes. Acontece uma guerra dentro da sua cabeça e, logo em seguida, uma pergunta é formulada. Pergunta questão de prova, como diziam meus professores do terceiro ano pré-vestibular. Reflete-se sobre aquilo e pá, você se vê falando o que pensou. Você questiona na busca por uma resposta ou mesmo por várias respostas, o que vai te deixar ainda mais confuso, ou não.

No meu caso, eu penso com meus botões e alimento um desejo incontrolável de compartilhar aquela angústia com alguém.  Então eu lanço o desafio pra quem está ali de bobeira conversando comigo. Mais uma vez, o meu namorado foi o desafiado. E perguntei sem alterar uma palavra do que estava se passando na minha cabeça:

- Como a gente faz pra esse momento aqui durar mais?

E aí ele respondeu rápido como se fosse uma questão de lógica:

"- Ué! Registrando! Vamos já lá fora bater fotos"

Achando a ideia ótima, eu respondo:

- Olha, não tinha pensado nisso. Daria uma boa propaganda de máquina fotográfica essa nossa conversa.

Registramos cada momento feliz que aconteceu. Registramos cada pose inventada, cada careta pintada no rosto, cada biquinho de beijo. Registramos cada um de nós, e cada um de nós dois em um só. A gente se eternizou ali.

E como não se vive só de imagens, resolvi relatar isso aqui agora, só pra garantir a permanência daqueles momentos também na escrita. Só pra fazer hora com o tempo e sua obsessão de querer passar rápido.

O tempo feliz, pra nós dois, passa devagar, devagarinho. Tudo que é bom dura muito.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

A Ana mais linda que já vi


Faz um tempinho (já) que eu venho carregando comigo, dentro do coração, circulando de uma por uma das artérias e veias que tem lá, a experiência que vivi junto de uma das pessoas mais lindas que eu já pude enxergar. Não que eu tenha o dom de enxergar facilmente as pessoas, não é isso. É que essa pessoa é tão iluminada de um jeito que ela abriu portas pra mim sem nem perceber.

Além de portas, abriu janelas com cortinas esvoaçantes. Assim, ela me deixou ver sua alma. E todas suas fraquezas se prostraram na minha frente como quem diz: "Você nos vê tão claramente, que pode até nos tocar, se quiser". Isso no mundo em que a maioria da gente, antes de sair de casa, puxa do guarda-roupa uma armadura, pendurada num cabide especial que suporta tal peso, e a veste só pra manter as aparências. E só pra dizer que você é um forte que nem o sertanejo descrito pelo Euclides da Cunha, ou melhor, que nem o Homem de Ferro do cinema. É neste nosso mundinho aqui, que temos a Ana. Mundinho que vira Mundo com a presença dela.

Ana é o primeiro nome da minha mãe de sangue. Mas esta Ana eu considero "minha outra mãe", embora não me sobre tempo suficiente pra me dedicar a ela. Do dia a dia. Tudo culpa da correria do dia a dia. Ou culpa minha mesmo.

Aquele dia era o dia do aniversário da Ana. Se bem que pessoas assim não têm dia definido pra cantarmos parabéns pra você. Todo dia a gente tem que dar os parabéns. Até naqueles dias que a pessoa jura que não é o dia dela. "- Que hoje não é o seu dia o quê? É sim. Sempre!" A gente pode até falar assim pra alguém feito a Ana.

Mas foi no dia oficial do aniversário da Ana que eu consegui reservar um tempinho pra ficar conversando com ela. Mesmo eu não tendo religião, na verdade, não tendo um nome pra nomear minha religião, fiquei ouvindo ela contar as histórias da Bíblia.

Perspicaz, expressiva e dona de uma voz enérgica, ela é narradora e personagem ao mesmo tempo. Cria sua própria versão da história sem comprometer o sentido da original. Estava me contando sobre Adão e Eva e a Serpente. Apontava pra gaveta da cozinha onde estávamos, dizendo que dentro dela havia todos os poderes que o outro (em forma de serpente) havia ofertado para ela, a Eva.

Estava me explicando que, se abrisse aquela gaveta, tudo estaria perdido. E assim ela continuou atraindo meu interesse por sua história bem contada até aparecer uma conhecida sua, colega de trabalho. Esta lhe deu um abraço, cochichou algo no seu ouvido e lhe entregou um presente. Apareceu só pra fazer essas três coisas, nesta sequência que descrevi, e nos deixou a sós novamente.

Então, a Ana me olhou com olhos mergulhados na profundidade do seu mar. Com a voz enfraquecida e trêmula de choro, revelou:

"- Eu não sou isso. Não sou!" Exclamou, deitando no ar suas mãos.

Sem saber o que dizer, eu quis entender:

- Como assim, Ana?

"- Isso! Isso aqui, oh!" - Estava apontando pra si mesma agora.Continuou em tom enfático:

"- Eu magoo as pessoas com palavras, minha filha!"

Eu nunca tinha visto tamanha humildade numa pessoa só. Desconfio de que tenha recebido elogios da amiga que cochichou no seu ouvido. Ela não soube lidar com os elogios. Não se sentiu digna de tanto e desabou em seguida.

Eu não sabia o que fazer para acalmá-la. Eu a abracei num abraço demorado. Eu podia sentir o coração dela doendo. E parecia que doía no meu. Eu estava chorando com ela. A única coisa que eu consegui dizer foi:

 - Pois pra mim você é linda. Muito linda. A pessoa mais linda que já vi!

Felicidade tem nome, nomes.

Enganada, eu achava que obrigatoriamente teria que sair de entre quatro paredes... (com a mochila "Yin's girly backpacks" - preta com estampa imitando listrinhas de zebra e acabamentos e zíperes cor rosa choque brilhante - que meu pai comprou pra mim e que eu resolvi usar só porque foi ele que me deu).. pra esbarrar com gente estranha. No bom sentido, claro. Sim, eu falo, eu adoro conversar com estranhos. Estranhos, estranhamente, extremamente legais.

Aí ontem minha felicidade ganhou mais um nome. Melhor, dois: Bárbara e Michele. A felicidade que o cantor Otto descreve muito bem na canção "A Noite mais linda do mundo". Ele canta:

"Felicidade
 Não existe
 O que existe na vida são momentos felizes"

 E a Bárbara e a Michele me deram um super momento feliz. Tão feliz, que eu quase não cabia em mim mesma. E elas me presentearam da forma mais simples.

Depois de eu publicar " O Homem do cheiro verde e alface", a postagem logo abaixo. Depois de eu divulgar no facebook e aguardar feito uma boba alguém curtir, como se fosse uma condição pra eu ser uma pessoa feliz e realizada. Depois de esperar, e nada, começaram as raras e pouquíssimas curtidas (momento pena de mim mesma):

Fulano curtiu isto (1),
Sicrano curtiu isto (2 curtiram isso),
Beltrana curtiu isto (3 curtiram isso).

- E acabou! Mais ninguém curtiu ou vai curtir seu texto bobo, Elaine! (O Facebook fala pra mim.)

Quase conformada, desligo a janelinha do facebook malvado. Afinal, não é nada bom ficar alimentando falsas esperanças. Ainda mais sendo uma aspirante a escritora com apenas três leitores, três curtidas ( que eu saiba sim, só três. E até combina com o nome do blog: Três Paredes).

Tento esquecer e abro uma nova janela. Vou checar meu e-mail (e aquela esperança martelando no coração). É quando uma surpresa, em forma de e-mail, sorri pra mim. O Gmail, feito um anjinho que só traz notícia boa, me avisa:

- Bárbara marcou você no Facebook.

"Tinha que ser a fofa da Bárbara", penso com meus botões, três botões, três paredes e a triste lembrança de APENAS três "curtiram isso."

E lá estava no facebook dela, compartilhado com "Público", o presente que ganhei:

"Como é bom encontrar gente que presta atenção no dia a dia, nos detalhes das coisas mais corriqueiras (e que ainda escreve tudo isso!). Só amor por essa Elaine ♥"

Sem pensar duas vezes, eu curti e comentei: "E como é bom ver que as amigas gostam." E uma nova estranha legal me surpreende. Isso enquanto estou entre as quatro paredes do meu quarto, achando que não sou tão bem aventurada assim pra conhecer gente estranha e legal em pleno conforto da minha casa. Sem precisar ir até a parada de ônibus, toda paciente na espera graças ao livro que tiro de dentro da sacola.

A felicidade chamada Michele está online e comenta a publicação da outra felicidade chamada Bárbara: 

"Não sou amiga, mas adorei!"

E pra felicidade completar o sorrisão pra mim, até ficar com furinhos na bochecha, ela complementa:

" E ah, o trocador eu não conheço, mas o senhorzinho do "Jesuuus está voltando!!!", já vi muito! HAHAHA"

E assim a minha felicidade passou a ter mais dois nomes.

xD

quinta-feira, 16 de maio de 2013

O Homem do cheiro verde e alface

"- Cheiro veeeeerde e alface!"

Do jardim, e acho que em qualquer canto da minha casa, eu consigo ouvir o homem simples que passa na rua. A rua quase deserta do meu bairro, em torno das nove da manhã. O vendedor faz repetidos anúncios do seu produto verde usando o método mais tradicional: sua própria voz, e repetindo sempre "Cheiro verde e alface". Até que uma hora ele cansa e anuncia apenas o cheiro verde, prolongando ainda mais a pronúncia da segunda palavra, como pra compensar a ausência do alface.

De férias do trabalho, eu aproveito pra voltar às minhas raízes. De corpo inteiro de volta à infância. De volta à minha casa. Sempre andando descalça e ouvindo minha mãe com sua incansável ladainha "Calça a chinela, menina!"

Eu não me importo com chinelas e vou curiosa até o portão pra saber como o dono daquela voz é. Como meu querido personagem da vida real é. Como é seu andar. Como é seu rosto. Onde ele carrega o cheiro verde e o alface.

Ele já tinha caminhado mais da metade da rua, quando eu apareci no portão. De costas pra mim, eu não pude ver seu rosto. Magro e baixinho, ele seguia em frente carregando um carrinho de mão, sobre o qual havia um pano cuidadosamente colocado para receber os cheiros verdes e alfaces. Enquanto eu o observava, reparava também, com alguma expectativa, nos portões das casas vizinhas. Com formação em publicidade, passei a ter o hábito de observar se determinado anúncio faz efeito nas pessoas. Fiquei esperando alguém aparecer com moedinhas a fim de trocar por verduras. Mas o homenzinho parecia não esperar ninguém. Resignado, ele prosseguia com seu carrinho e seu tom de voz já cansada.

Fiquei observando até ele desaparecer como uma miragem que, de repente, se desfaz. Pensei: " Poxa, ninguém comprou as verdurinhas dele! Tomara que nas outras ruas dê certo" Voltei pro jardim e tranquei o portão por medo de assalto. E agora eu tô matutando que tenho até a próxima semana, minha última semana de férias, pra ficar a postos, esperando por ele com minha bolsinha de moedas na mão. Na rua 13 ele vai ganhar uma cliente vegetariana.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Je-sus!

Subi no ônibus. A moça que subiu primeiro tinha mechas roxas por baixo dos cabelos desalinhados. Tinha também uma tatuagem qualquer estampada na panturrilha. "Qualquer", porque ainda não trabalhei a habilidade de observar todos os detalhes no caos das inércias dos ônibus do transporte público daqui de Fortaleza. Mas o que era a tatuagem não importa. O que importa é que presenciei uma situação divertida. Um diálogo divertido entre a moça das mechas roxas e o trocador.


Trocador:
 - Como é?

A moça tinha acabado de passar pela catraca e resmungava alguma coisa que não ouvi, mas o trocador sim.

Não obtendo resposta, o trocador insistiu:
 - O que é?!

A moça se desentendia com sua própria bolsa, ou melhor, com a confusão de coisas dentro da sua bolsa, quando se deu conta do trocador.

Moça:
- Oi?

Trocador:
- Não, é que você falou meu nome, aí...

Moça:
- Eu falei teu nome? Em que momento?

Trocador:
- Você falou: "Jesus"

A moça, incrédula:
 - Sério que teu nome é Jesus? (Risadas)

Fiquei imaginando o que a moça das mechas roxas tinha dito no momento em que falou "Jesus." Com certeza não era afirmação parecida com a do senhorzinho careca e profeta, que sempre está na janela dos ônibus gritando aos quatro ventos, com toda a força que ainda lhe resta nos pulmões: -"Jesuuus está voltando!!!"

Na hora da moça guardar o troco, talvez a briga com a bolsa tivesse feia o bastante pra ela reclamar com certa impaciência algo parecido com: " Ow, Jesus!" E o trocador quis saber "o que é que tem eu?" Como aquela passageira sabia o nome dele sem nem ao menos ele ter se apresentado? E a moça das mechas roxas e tatuagem na panturrilha parecia não acreditar que existe outro Jesus no mundo. Um Jesus de carne e osso, mortal e, ainda por cima, trocador de ônibus. Talvez a moça do cabelo semi-roxo fale "Jesus" só por falar. Tem gente que vive resmungando e colocando o "Jesus" no meio ou no final ou no início.




quarta-feira, 8 de maio de 2013

Esse cara que olha pra dentro da gente


O homem, que olha pra dentro da gente, parece ser um cara comum, como qualquer outro. Não nasceu com poderes especiais dos heróis de quadrinhos. Não se revela como personagem central nas narrativas do cotidiano. Tem seus defeitos de fabricação e os desenvolvidos ao longo de sua existência. Tem seus estresses e anseios. Não é bem um “Homem que é Homem”, como dizem. Ele também chora. Pode muito bem ainda não saber o que quer desta vida. É inseguro. É medroso. Enfim, ele lembra um homem normal. 

Justamente por isto, o cara que olha pra dentro da gente consegue nos pegar de surpresa e, de quebra, não deixar outra alternativa a não ser a de corresponder ao contato visual (quase espiritual). É muito provável que este homem descubra mulheres tímidas o suficiente para desviar o olhar, deixando-o solitário no fixo jeito de olhar. Mas estas também alimentam a mesma curiosidade daquelas que têm coragem de encarar.

O olhar é sem segundas intenções, por incrível que pareça. Vem em forma de confissão. Quase chega a gritar: "Ei, moça, eu estou te vendo, de verdade!" Ou, no caso do seu par, do seu amor lindamente possível e correspondido: "Ei, moça, eu te vejo e eu te amo, de verdade!". É um grito mesmo, contido nos lábios e incontido nos olhos.

É mais ou menos dessa forma que o cara que olha pra dentro da gente consegue nos abduzir sem necessariamente ser um ET. 

Eu não faço ideia de quais meios este homem utiliza para alcançar tal ato de coragem. Coragem de lançar-se sobre o temido, quase mitológico, interior feminino. Eu não faço ideia disso, mas faço questão de reparar nessas pessoas que conseguem olhar pra dentro de seus semelhantes e, principalmente, dos seus nadinha semelhantes. Essa gente, ao meu ver, é um “Esse cara sou eu” do Roberto Carlos. É o cara! Palmas para pessoas assim.