domingo, 25 de setembro de 2011

3 paredes



Não sobrevivo entre quatro paredes. 1 hora entre 4 paredes e tenho um crônico ataque de impaciência. Mais pareço uma criança mimada pulando num choro escandaloso. É assim, toma meu corpo e se apropria de minha mente a sensação de uma vida se esvair em segundos; do tempo se estampar no céu e eu não poder contemplar todas as variações de cores. Oh, e como o tic-tac do relógio me aflige.

Ah, eu poderia estar lendo mais meus romances amontoados em grandes pilhas na escrivaninha. Eu poderia estar escrevendo um livro. Eu poderia estar amando mais. Eu estaria conhecendo outros mundos, outras culturas.

Mais de 8 horas no trabalho e eu poderia estar fazendo a diferença no universo. Poderia estar pondo pra secar nos varais dos quintais do mundo os choros abafados dos miseráveis.

Mais de 3 horas na internet, e eu poderia estar pensando numa saída para muitas desgraças do nosso país. Poderia estar refletindo sobre as coisas que muitos acham que não podem ser transformadas em algo melhor. Ah, eu acharia uma forma de serem menos piores.

E como eu não quero me limitar ao "poderia", estou andando muito pelo mundo a fora. E vocês raramente me encontrarão em casa em visitas surpresas.

Meu mundo, agora, tem 3 paredes. Vivo amparada por elas. Uma à direita, outra à esquerda e outra à frente. A quarta não existe em tijolos visíveis. Não é propriamente uma parede; é algo abstrato e muito subjetivo. É essa quarta dimensão que me impulsiona pra frente com uma força surreal, uma força da qual sou a própria fonte.

A parede à direita é repleta de quadros, dentro dos quais estão ali minha pequena família, meus amigos, e até gente desconhecida ou as que conheço de vista; pessoas e bichinhos que cruzam o meu caminho e que contribuem pelo que venho me tornando como pessoa.

A parede à esquerda sempre está em construção. O cimento pra fixar ali as experiências vividas nunca seca. Posso brincar de deixar desenhado lá minhas mãos e meu coração. Oh, e se cometo algum grande erro em uma das estradas que escolhi, posso voltar imediatamente, sem medo, e refazer do jeito mais justo, porque estão sempre preparados em minha língua, pra sair entre meus lábios o "Desculpe", o " Me perdoe", o " Eu posso corrigir".

A terceira parede é azul de dia e negra de noite. Nela tem nuvens. Nuvens que passam rápido, que formam desenhos no céu. O vento vai lapidando aquilo e trasformando a paisagem constantemente. Nesta, poderá vir o Sol, como poderá vir a tempestade. E como um pescador, temos que estar preparados pra tudo.

Essa terceira parede é você, sou eu. E como diria Raul, " eu prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo."

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