domingo, 31 de julho de 2011

Risco alheio: Por que Nós ( Marcelo Jeneci)

E essa letra de Marcelo Jeneci entra pra minha lista das que gostaria de ter escrito:

Éramos célebres líricos
Éramos sãos
Lúcidos céticos
Cínicos não
Músicos práticos
Só de canção
Nada didáticos
Nem na intenção
Tímidos típicos
Sem solução
Davam-nos rótulos
Todos em vão
Éramos únicos
Na geração
Éramos nós dessa vez

Tínhamos dúvidas clássicas
Muita aflição
Críticas lógicas
Ácidas não
Pérolas ótimas
Cartas na mão
Eram recados
Pra toda a nação
Éramos súditos
Da rebelião
Símbolos plácidos
Cândidos não
Ídolos mínimos
Múltipla ação

Sempre tem gente pra chamar de nós
Sejam milhares, centenas ou dois
Ficam no tempo os torneios da voz
Não foi só ontem, é hoje e depois
São momentos lá dentro de nós
São outros ventos que vêm do pulmão
E ganham cores na altura da voz
E os que viverem verão

Fomos serenos num mundo veloz
Nunca entendemos então por que nós
Só mais ou menos

Pra virar canção: É só vontade de viver

Quando achar que tudo está pra acabar
de esperança não restar
Olhe bem, pela fresta da janela o Sol nascer
Logo virá a vontade de ser

Se o ponteiro se arrastar
E o que é de mau disser
que vai demorar
Pense bem, aquilo foi o que é
Há coisas que não se pode mudar

Pare bem pra pensar,
hoje você tem a chance de consertar
é só juntar os pedacinhos que espatifou
e logo terá um lindo jarro
quase perfeito com uma flor

Você se espanta,
sente o peito arfar
Acha que está perto de morrer
só porque está com essa mania louca de viver
tudo de bom que o mundo tem a lhe oferecer

Quando achar que tem de aproveitar logo
porque desconfia que logo, logo vai morrer
estarei por perto pra dizer:
" - Que nada, isso é
só vontade de viver."

sexta-feira, 29 de julho de 2011

O violão aqui do lado

Já deixei o violão aqui do meu lado, já pra criar afinidade.
Vai chegar o dia que vou saber tocá-lo!
Muitos já tentaram, mas desistiram fácil; eu também, mas nunca é tarde pra tentar novamente.
Desta vez eu insisto! Mesmo que me machuque os dedos no começo, vou saber seu tom de cor, de coração

Homem - Estátua

A polícia quis varrer o homem-estátua dali.
Continuou estático, só mexeu pra tentar secar a lágrima que acabava de cair,
quando ouviu sua plateia ao redor gritar:
"- Deixa o cara trabalhar"

Inspirada na reportagem:
http://g1.globo.com/globo-reporter/noticia/2011/07/brasileiros-ganham-vida-nas-ruas-com-embaixadinha-castelos-de-areia-e-estatuas-vivas.html

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Assim é o meu Tiê

@lacta #eumeentrego à canção como a uma oração
Me ajoelho sobre rosas
Rezo baixinho,
mesmo assim o Tiê passarinho ouve e decora
e não demora pra tristeza ir embora
É o Tiê passarinho, acalentando o meu, o seu coração

@lacta #eumeentrego ao encanto do Tiê sangue
Eu o vi no farfalhar das folhas
Ouvi a planta aplaudir o seu cantar
Vi a gota de orvalho chorar

@lacta #eumeentrego ao vermelho do Tiê. Sangue ele doa pra mim
É vida, uma doçura, uma dança
De tanto encanto, me faz rir
Assim é o meu Tiê
Até tweet deu de fazer
pra chegar até você

Participação na promoção: http://www.lacta.com.br/

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Crescidinha

Está uma mocinha
Não devora mais os dedos
Vai à manicure, enfeita as unhas
Podemos ver, está segura
no seu porte, nos seus modos
nem precisa de testemunhas

Fez amigos
Está crescidinha
Abriu mão dos mimos
Não escreve mais cartinha

Fala com delicadeza
Escreve letras
Erra rimas
Tem uma certa estranheza
Já foi mais doce
agora agridoce

Está mesmo crescidinha
Deixou a casa dos pais
Foi decidida
não é mais aquela menininha

Está uma mocinha, uma mulher
Faz planos, projetos
coisas que quer

Risco alheio : a memorável A Banda ( Chico)

" Imaginem vocês que, um dia desses, entro em casa e encontro minha mulher, Lúcia, e a minha filhinha, Daniela, com olhos marejados. Acabavam de ouvir A Banda, ou seja, a mais doce música da Terra. Dias depois, eu próprio ouvi a marchinha genial. E a minha vontade foi sair de casa, me sentar no meio-fio e começar a chorar." (Coleção Chico Buarque - vol. 1, p. 29) - Escritor, dramaturgo e cronista esportivo carioca Nelson Rodrigues comentando sobre a música de Chico.
Segue a letra abaixo. Sei que já temos na memória, mas é sempre bom analisar com encantamento cada trechinho poético que só o Chico sabe fazer.

Estava à toa na vida
O meu amor me chamou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor

A minha gente sofrida
Despediu-se da dor
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor

O homem sério que contava dinheiro parou
O faroleiro que contava vantagem parou
A namorada que contava as estrelas parou
Para ver, ouvir e dar passagem

A moça triste que vivia calada sorriu
A rosa triste que vivia fechada se abriu
E a meninada toda se assanhou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor

O velho fraco se esqueceu do cansaço e pensou
Que ainda era moço pra sair no terraço e dançou
A moça feia debruçou na janela
Pensando que a banda tocava pra ela

A marcha alegre se espalhou na avenida e insistiu
A lua cheia que vivia escondida surgiu
Minha cidade toda se enfeitou
Pra ver a banda passar cantando coisas de amor

Mas para meu desencanto
O que era doce acabou
Tudo tomou seu lugar
Depois que a banda passou

E cada qual no seu canto
Em cada canto uma dor
Depois da banda passar
Cantando coisas de amor

sábado, 23 de julho de 2011

Uma dó dos cantores de barzinho

O Couvert artístico sempre foi motivo de piadas. Os amigos reunidos no restaurante vez ou outra brincam: " Olha, ninguém demonstra que tá gostando, ok? Nada de fazer ritmo com o pezinho ou dançar com a cabeça!" Tudo pra no fim das contas, acabarem, sim, pagando o temido couvert.

Embora não seja obrigatório, dá uma dó da pessoa lá tocando. Sempre achei essas batidas nas cordas do violão tão melancólicas. São canções perdidas entre os barulhos de talheres e pratos, falas e risadas mistas e desconexas.

Um cantor de barzinho deve ser meio tristinho ou talvez conformado das pessoas se aterem mais ao que estão devorando do que a canção da noite que exigiu tanto ensaio.

Quando o show de plateia "fantasma" (a concentração na comida parece sugar as forças daquelas pessoas, fazendo com que não se manifestem para aplaudir) chega ao fim, o músico - quer dizer, na maioria das vezes, o aspirante à músico, um tanto calado e cabisbaixo, guarda cuidadosamente os instrumentos nas caixas. Ele demonstra a sensação de dever cumprido. Bebe um gole d'água. Mal sabe ele que uma pessoa o aplaudiu. Imerso no repertório preparado, não ouviu. Vai ver o som confuso das pessoas interagindo entre si e com os pratos também não contribuiu.

Parece que de alguma forma, esses cantores de barzinhos encontram prazer em tocar pra muita gente, e ao mesmo tempo pra ninguém. Parece que eles nunca estão sós; estão na companhia de milhares de notas, mesmo que estas, por vezes, estejam tortas de desafino. Mesmo o cachê mínimo não impede que eles continuem admirando a música, achando o máximo tentar reproduzí-la.

Acabou que talvez a única observadora daquela situação ficou sozinha na mesa de bar. Ficou seguindo o artista com o olhar. Vendo-o ir embora com um objeto de roda, levando embora as caixinhas de som. O violão já descansava naquela espécie de "caixãozinho" com cinturinha de violão.

Uma tal de Veruski

Achou que a amiga poderia lhe descrever em palavras, almejando conhecer melhor ela mesma. Ingênua, não sabia o tamanho desafio que acabara de lançar para a outra que adorava treinar a escrita. Pediu nada mais, nada menos, que essa outra fizesse um poema sobre ela.

A mão nervosa cutucava insistente as costas estreitas da colega sentada na cadeira à frente. A pobrezinha da "escritora", sentindo-se pressionada, resolveu então se arriscar um pouco, tentando resumir em versos sua percepção sobre a amiga.

Aquele difícil pedido a fez lembrar da gente talentosa que ganha uns trocados desenhando os traços de alguém desconhecido num quadro. Pega-se o objeto que rabisca, pede pra pessoa ficar imóvel, baixa a cabeça e desenha as formas, levanta a cabeça, lança-se um olhar observador atento aos menores detalhes e se recomeça a tracejar o perfil daquele ser diante de você.

O que estava acontecendo era quase isso, só que tinha que descrever uma mente inquieta. Parecia que sua mão, detentora de uma caneta azul, tremia "de nervoso". Borrou muito a folha; pensou, parou um pouco e pensou mais.

Terminou, concluindo que não é possível traduzir ninguém em texto, nem se escrevesse um livro gordo como uma bíblia. Não conseguiria retratar nem um por cento daquela personalidade nomeada de "Veruski". Ficou apenas na dúvida se havia escrito o nome da própria amiga corretamente. Por fim, pensou " ow raça humana complicada de explicar e ainda mais de entender".

A fuga do pensamento

Pensou em escrever algo interessante, mas o pensamento foi embora rapidamente. Estava indignada; como poderia tamanha falta de imaginação? Doeu na vista o branco luminoso da folha de papel - se ao menos fosse a folha digital do blog com letras e símbolos já contidos obrigatoriamente ali, aquele vazio a perturbava.

Tentou, se esforçou e nada colheu de sua memória. Sim, esta havia novamente deixado ela na mão. Será que já estava velha com apenas vinte e poucos anos? Deu esta reflexão por encerrada e notou, com um sorrisinho de satisfação, que havia vencido a sabotagem que seu próprio cérebro arquitetou contra ela.

Tinha, sim, refletido e escrito outro pensamento, embora o outro tivera sido dissipado. Naquele momento, o espaço na folha branca até já estava escasso; todo estampado com letras arredias e feias, aquelas de quem não escreve à mão há um tempão. Matou essa saudade e encontrou nisso uma felicidade.

O idoso-garoto


Sonhou com muito pouco; até achou que tava morto.
Mas quando viu o entardecer pegar fogo, seu olhar ganhou força
Podia ver com perspicácia o Sol se esconder aos poucos.

Sonhou muito pequeno, tão minúsculo quanto o Sol se pondo
Mas quando encontrou um bom canto na areia, entre o mar e a cidade,
enxergou melhor o que via.
Podia ver ele mesmo, um idoso-garoto,
começando a sonhar
maior que a imensidão do céu, do mar.

Foto: Beira-mar , Fortaleza - CE

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Risco alheio: A bailarina e O Astronauta (Tiê)

Eu sou uma bailarina e cheguei aqui sozinha
não pergunte como eu vim
porque já não sei de mim
do meu circo eu fui embora
eu sei que minha família chora
não podia desistir
se um dia como um sonho
ele apareceu pra mim
tão brilhante como um lindo avião
chamuscando fogo e cinza pelo chão.

De repente como um susto
num arbusto logo em frente aconteceu uma explosão
afastando a minha gente
mas eu não quis ir embora
eu não podia ir embora
como se nascesse ali
um amor absoluto pelo homem que eu vi

Poderia lhe entregar meu coração
alma, vida e até minha atenção?

Mas vieram as sirenes
e homens falando estranho
carregaram meu presente
como se ele fosse um santo
dirigiam um carro branco
e num segundo foram embora
desse dia até agora
não sei como, não pergunte, procuro por todo canto

Astronauta diz pra mim, cadê você
Bailarina não consegue mais viver...


http://www.vagalume.com.br/tie/a-bailarina-e-o-astronauta.html#ixzz1ShdPaA92
A Bailarina E O Astronauta por Tiê

quarta-feira, 13 de julho de 2011

A moça do cadarço solto

Engraçado como um cadarço solto faz pessoas desconhecidas se preocuparem com você. Mas eu nunca caí! O cadarço parece querer me entreter. Vou andando, brincando com isso. O pé direito, depois o esquerdo desafiando derrubar o outro, mas sem ameaça alguma (juro pra você que eu realmente nunca tropecei). Novamente o pé direito, aí vem o esquerdo exibindo o branco sujo do cadarço pro outro. Esse outro mais correto e esteticamente mais agradável, além de não incomodar ninguém. Ele está ali, bonitinho, com aparência de laço, parecendo aqueles que cercam as embalagens de presentes.
"- Cuidado, moça!"
"- Ah, ok, obrigada!"
E não faço nada. Já tentei fazer o laço das outras vezes, só pra não ver a ruga de preocupação nos rostos desconhecidos. O que posso fazer se o laço quer sempre se desfazer? Deixo o cadarço fazer o que é de sua vontade. Deixo-o livre, buscando assim minha própria sensação de espontaneidade. O cadarço quer entrar em atrito com o asfalto ou com a areia; quer dançar com o vento.

domingo, 3 de julho de 2011

Espirituosa

O barulhinho do vento, avisando a chegada da chuva nesta noite de fim de domingo, só não é mais aflito que o dela, abafado por dentro de seu espírito magro, embora contornado de várias camadas firmes de auras.

Suas auras são princípios; são no que ela acredita; são, enfim, suas energias. Como uma pilha, tem seu polo positivo, mas também o negativo. Infelizmente, seu lado negativo é também a única porta de entrada de corrente. É estranho como ela parece se abastecer, se manter em pé a partir desta força que pende mais para o negativo ( o sentimento que nada vai dar certo)

Fica triste, quando percebe que a bateria preenchida é a da mente, não a do espírito. De repente se vê deixando de ser espirituosa – começa a notar as luzes de suas auras se apagando, deixando-a num breu - Sente apenas a corrente se encher de negativos, saindo com toda força pelo seu polo positivo, quando este deveria apenas liberar boas vibrações. No fim desse longo e complexo processo, sente que estragou o momento, perdendo o controle de si, perdendo o brilho que tinha há pouco.