quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Sua vida na mão de um bandido.

Todo mundo fala que tem coisas que a gente nunca esquece. Concordo.

Hoje eu estava assistindo ao clipe da banda Eddie (colo o link abaixo porque ainda não descobri o segredo de colocar o próprio vídeo aqui na página - sou lenta demais para a tecnologia-) e acabei lembrando de algo que vai me acompanhar pro resto da vida.

Assistam! Vale a pena:

Pois bem, o que eu lembrei.

Uma noite, resolvi sair mais cedo da minha pós. Sabe como é, o perigo nas ruas e eu moro longe de tudo e tal. 

Eu estava na topic, na avenida principal, quando ouvimos um, dois, três, quatro "estouros" que a princípio eu não soube identificar que eram tiros. Afinal, eu nunca tinha ouvido barulho de tiro. 

Pois é, em que mundo, em que bolha eu vivo, né?! Mas sempre tem uma primeira vez. A vez que alguém estoura a bolha de sabão dentro da qual você vive e aí toma-se um choque de realidade crua, ainda sangrando.

Os boatos e burburinhos entre os passageiros, motorista e trocador confirmaram que aqueles quatro estouros eram balas que nada tinham de doces. 

"- Foi tiro, foi tiro! Olha ali!"

Eu olhei. Olhei pela janela certa. A janela à minha direita me mostrou o que a sequência de estouros havia causado. Pressenti que minha curiosidade me levaria a um caminho sem volta. 

Mesmo assim, mesmo de costas para a janela,  tive o ímpeto de virar o máximo que dava o pescoço e depois o corpo para ver também o que estava conquistando a audiência dos passageiros. Todos, ali, vivendo a profissão de repórter por uma noite e atônitos ao vislumbrarem um furo de reportagem.

O que vimos foram clientes de uma lanchonete correndo desesperados, procurando abrigo na cozinha e um garçom estendido no chão entre as mesas. O sangue escorria de sua boca. Ele estava deitado com o volume exagerado da barriga virado pra cima. Exagero mesmo foi a quantidade de sangue. O motorista da topic quase estacionou ali pra gente investigar melhor o furo de reportagem, o furo da vida.

Depois de vermos também dois caras encapuzados fugindo numa moto, ficamos analisando o corpo pela janela da topic. Na verdade, não estávamos analisando o corpo não. Estávamos nos colocando no lugar do garçom. 

Nossos olhares, impenetráveis. Estávamos hipnotizados vendo de perto a horrível verdade, o fato de que nossa vida vive por um triz, e nas mãos de qualquer um. Podemos imaginar os bandidos apontando o indicador no centro da palma da mão e dizendo pra gente: "Você, sua vida, tão aqui ó, na minha mão!"

No dia seguinte, relatei a terrível história para os amigos. O choque foi mais forte quando uma amiga me mostrou um jornal popular que trazia a seguinte manchete sobre o ocorrido: "Garçom de uma lanchonete vira presunto"

Como alguém pode anunciar dessa forma o fim da vida de uma pessoa?

Não sei. Já entendi que não é possível encontrar resposta para toda pergunta.

Só sei que naquela noite, em segredo, chorei durante todo o resto do percurso que a topic fazia até minha casa. Por quê?


Porque assistir ao fim trágico da vida de alguém marca mais do que tatuagem. 
Porque você se sente vulnerável. 

Porque você percebe que não tem controle nenhum sobre sua própria existência.

Um comentário:

Nat [da BA] disse...

que horror! que cena perturbadora! vivi a situação todinha junto com você, enquanto lia! é por isso que procuro não olhar quando acontecem essas coisas e eu tô por perto. são imagens muito fortes, não consigo lidar! minha mente me domina e fico relembrando aquilo por dias, semanas. =( mais triste ainda o humor negro da manchete. ninguém merece!