quinta-feira, 16 de maio de 2013

O Homem do cheiro verde e alface

"- Cheiro veeeeerde e alface!"

Do jardim, e acho que em qualquer canto da minha casa, eu consigo ouvir o homem simples que passa na rua. A rua quase deserta do meu bairro, em torno das nove da manhã. O vendedor faz repetidos anúncios do seu produto verde usando o método mais tradicional: sua própria voz, e repetindo sempre "Cheiro verde e alface". Até que uma hora ele cansa e anuncia apenas o cheiro verde, prolongando ainda mais a pronúncia da segunda palavra, como pra compensar a ausência do alface.

De férias do trabalho, eu aproveito pra voltar às minhas raízes. De corpo inteiro de volta à infância. De volta à minha casa. Sempre andando descalça e ouvindo minha mãe com sua incansável ladainha "Calça a chinela, menina!"

Eu não me importo com chinelas e vou curiosa até o portão pra saber como o dono daquela voz é. Como meu querido personagem da vida real é. Como é seu andar. Como é seu rosto. Onde ele carrega o cheiro verde e o alface.

Ele já tinha caminhado mais da metade da rua, quando eu apareci no portão. De costas pra mim, eu não pude ver seu rosto. Magro e baixinho, ele seguia em frente carregando um carrinho de mão, sobre o qual havia um pano cuidadosamente colocado para receber os cheiros verdes e alfaces. Enquanto eu o observava, reparava também, com alguma expectativa, nos portões das casas vizinhas. Com formação em publicidade, passei a ter o hábito de observar se determinado anúncio faz efeito nas pessoas. Fiquei esperando alguém aparecer com moedinhas a fim de trocar por verduras. Mas o homenzinho parecia não esperar ninguém. Resignado, ele prosseguia com seu carrinho e seu tom de voz já cansada.

Fiquei observando até ele desaparecer como uma miragem que, de repente, se desfaz. Pensei: " Poxa, ninguém comprou as verdurinhas dele! Tomara que nas outras ruas dê certo" Voltei pro jardim e tranquei o portão por medo de assalto. E agora eu tô matutando que tenho até a próxima semana, minha última semana de férias, pra ficar a postos, esperando por ele com minha bolsinha de moedas na mão. Na rua 13 ele vai ganhar uma cliente vegetariana.

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