sexta-feira, 17 de maio de 2013

A Ana mais linda que já vi


Faz um tempinho (já) que eu venho carregando comigo, dentro do coração, circulando de uma por uma das artérias e veias que tem lá, a experiência que vivi junto de uma das pessoas mais lindas que eu já pude enxergar. Não que eu tenha o dom de enxergar facilmente as pessoas, não é isso. É que essa pessoa é tão iluminada de um jeito que ela abriu portas pra mim sem nem perceber.

Além de portas, abriu janelas com cortinas esvoaçantes. Assim, ela me deixou ver sua alma. E todas suas fraquezas se prostraram na minha frente como quem diz: "Você nos vê tão claramente, que pode até nos tocar, se quiser". Isso no mundo em que a maioria da gente, antes de sair de casa, puxa do guarda-roupa uma armadura, pendurada num cabide especial que suporta tal peso, e a veste só pra manter as aparências. E só pra dizer que você é um forte que nem o sertanejo descrito pelo Euclides da Cunha, ou melhor, que nem o Homem de Ferro do cinema. É neste nosso mundinho aqui, que temos a Ana. Mundinho que vira Mundo com a presença dela.

Ana é o primeiro nome da minha mãe de sangue. Mas esta Ana eu considero "minha outra mãe", embora não me sobre tempo suficiente pra me dedicar a ela. Do dia a dia. Tudo culpa da correria do dia a dia. Ou culpa minha mesmo.

Aquele dia era o dia do aniversário da Ana. Se bem que pessoas assim não têm dia definido pra cantarmos parabéns pra você. Todo dia a gente tem que dar os parabéns. Até naqueles dias que a pessoa jura que não é o dia dela. "- Que hoje não é o seu dia o quê? É sim. Sempre!" A gente pode até falar assim pra alguém feito a Ana.

Mas foi no dia oficial do aniversário da Ana que eu consegui reservar um tempinho pra ficar conversando com ela. Mesmo eu não tendo religião, na verdade, não tendo um nome pra nomear minha religião, fiquei ouvindo ela contar as histórias da Bíblia.

Perspicaz, expressiva e dona de uma voz enérgica, ela é narradora e personagem ao mesmo tempo. Cria sua própria versão da história sem comprometer o sentido da original. Estava me contando sobre Adão e Eva e a Serpente. Apontava pra gaveta da cozinha onde estávamos, dizendo que dentro dela havia todos os poderes que o outro (em forma de serpente) havia ofertado para ela, a Eva.

Estava me explicando que, se abrisse aquela gaveta, tudo estaria perdido. E assim ela continuou atraindo meu interesse por sua história bem contada até aparecer uma conhecida sua, colega de trabalho. Esta lhe deu um abraço, cochichou algo no seu ouvido e lhe entregou um presente. Apareceu só pra fazer essas três coisas, nesta sequência que descrevi, e nos deixou a sós novamente.

Então, a Ana me olhou com olhos mergulhados na profundidade do seu mar. Com a voz enfraquecida e trêmula de choro, revelou:

"- Eu não sou isso. Não sou!" Exclamou, deitando no ar suas mãos.

Sem saber o que dizer, eu quis entender:

- Como assim, Ana?

"- Isso! Isso aqui, oh!" - Estava apontando pra si mesma agora.Continuou em tom enfático:

"- Eu magoo as pessoas com palavras, minha filha!"

Eu nunca tinha visto tamanha humildade numa pessoa só. Desconfio de que tenha recebido elogios da amiga que cochichou no seu ouvido. Ela não soube lidar com os elogios. Não se sentiu digna de tanto e desabou em seguida.

Eu não sabia o que fazer para acalmá-la. Eu a abracei num abraço demorado. Eu podia sentir o coração dela doendo. E parecia que doía no meu. Eu estava chorando com ela. A única coisa que eu consegui dizer foi:

 - Pois pra mim você é linda. Muito linda. A pessoa mais linda que já vi!

5 comentários:

nofundodagaveta disse...

A Ana me passou a mesma sensação de sabedoria, cuidado e aconchego que a Dona Cila, de Maria Gadu, me passa.

Elaine Pacheco disse...

Linda a música. Vou ouvir sempre agora. A música que é a cara da Ana. (:

amandita disse...

Achei muito linda e encantadora, Ana deve ser assim... um grande mulher!

Margareth (Margô) disse...

Não resisti e vim correndo aqui, conhecer a Ana!

A Ana não tinha conhecimento dessa homenagem?

Imagino que você devia ficar ansiosa para que ela soubesse disso. Uma pena que as vezes, aqueles que queremos que vejam o que estamos fazendo, escrevendo não o fazem.

Parabéns pela atitude de levar até a Ana essa sua homenagem, talvez eu faria o mesmo.

Nat disse...

a Ana é isso mesmo! vi a cena todinha aqui, na tela do computador! que lindas! você, a Ana e a história! =*