quinta-feira, 23 de maio de 2013

- Esse aí não vale nada, minha filha!

Foi o que a senhora, no supermercado, me disse. Não estou inventando, nem adaptando, nem trocando uma palavra do que ela me falou naquele dia. O dia em que eu, humildemente, assumi pra mim mesma que não sabia escolher um (...) maracujá.

Eu tava por ali, encabulada, quase invisível diante de uma montanha de maracujás à minha escolha. Fiquei observando esta senhora que estava pertinho de mim. Parecia muito experiente no ofício de escolher. Reparei também num senhor cheio de bom humor. Ele estava rindo uma risada gostosa, quando perguntou pra ela:

- O que é que a senhora tanto ouve aí?

Aí ele pegou um maracujá também e imitou com fidelidade o que a senhorinha tava fazendo. Levou a fruta até a orelha e ficou balançando-a, como quem aguarda ouvir algum barulho vindo de algum canto desconhecido. Sabe aqueles brinquedos de criança que emitem sons engraçados? Ou aquelas bolinhas que você compra pro seu cachorro? Que quando ela sai quicando, sai também fazendo um barulhinho? Acho que o senhor aguardava algo do tipo.

Assim ele me deixou ainda mais curiosa. Minha vontade de descobrir o segredo do Maracujá perfeito cresceu assustadoramente. Depois de rir também, como se fosse amiga de longa data dos dois, tive a brilhante ideia de pedir ajuda pra sábia senhorinha:

- Bom dia, senhora! Como eu escolho um maracujá bom pra fazer suco?

Ela tinha acabado de descartar mais outra fruta. Assim que me ouviu, pegou de volta o maracujá rejeitado e pediu que eu o sentisse, exatamente como ela estava fazendo. Senti a polpa da fruta dançando freneticamente por dentro. A senhorinha, então, vendo que eu tinha captado a mensagem, ergueu as sobrancelhas e disse:

- Tá vendo?! Esse aí não vale nada, minha filha!

Se você também não sabe escolher maracujá, fica aqui como lição do dia: se o carocinho mexer muito, é porque não há polpa que preste lá dentro. Não presta pra fazer suco. Bem, foi o que a senhorinha me ensinou, e sem se estender muito feito eu contando essa história.

6 comentários:

nofundodagaveta disse...

HAHA Adorei.

Quando comecei a ler, pensei que fosse sobre algum pretendente ou algum carinha que passava numa rua e uma mulher - fofoqueiramente - o julgava! haha

Muito bom!

Elaine Pacheco disse...

Te peguei também! Galera veio aqui toda curiosa. hahahah

;**

nofundodagaveta disse...

Um amigo meu (aquele me ex namorado) me disse uma vez sobre a minha inabilidade: "- Fazer arroz é questão de sensibilidade!" Eu me revoltei na hora, tentei argumentar que sabia cozinhar muitas outras coisas (sofisticadas até) e que, portanto, a falta de sensibilidade era uma afronta... tudo em vão. Até que ele - calmamente - descreveu o processo do cozimento, como eu precisaria ver e sentir o arroz até que eu - humildemente - aceitei: não tenho sensibilidade pra arrozes.

Aceite sua insensibilidade para maracujás também.

Margareth (Margô) disse...

Gostei da dica. Apesar de que nunca comprarei maracujá, não posso com nada feito com maracujá. Apesar de gostar muito do cheiro.

Esse episódio me fez lembrar um dia que fui comprar melão, ou era melancia? Sei lá, um dos dois. Perguntei pra minha mãe como eu escolhia. Ela falou: _Dá uma batidinha por fora. E eu fiz: _toc, toc. E daí?rss

Por incrível que pareça não sei qual teria que ser a resposta, achei meio estranho ter que fazer isso e nem perguntei pra minha mãe o que viria depois.rss

Resultado: Não comprei.

Acho que vou consultar ela novamente para saber a resposta.

Elaine Pacheco disse...

Me deixou super curiosa, Margô! Tira a dúvida com ela, tira! E me diz depois! =D

Abraço demorado. (:

Nat disse...

bom, o texto não é sobre homem, nem gente no geral. mas a metáfora é boa! ;)