terça-feira, 25 de março de 2014

Você funciona no status offline?

Por elainepacheco, também publicado em twentyweeks.com
Desprovida de celular, alguém me mostrou o caminho. Estava sendo reeducada a me reconectar com o mundo real, concreto e, definitivamente, offline.


Era sexta à noite, quando fui encontrar com a amiga num barzinho. Fui de ônibus. Não levei o celular – com internet. Marquei o ponto de encontro e avisei que ficaria incomunicável a partir dali. Claro, fiz questão de explicar o porquê. Falei do perigo de assaltos no meu bairro e na cidade toda.
Vários sujeitos, em suas bicicletas, já me abordaram pedindo meu celular. Cansei. Minha estratégia agora é deixar o objeto de desejo em casa ou levar um celular a mais na bolsa, facilmente localizável para não se perder tempo: pegar e entregar rapidinho em mãos, nas mãos do oportunista.
Então, saí de casa sem celular mesmo. Consequentemente, sem Whatsapp, Instagram, Facebook, YouTube, Line e, olha só, sem a função básica de ligar e/ou receber chamada.
Esperei, esperei, esperei pela minha amiga, e nada. Ela tinha me dito que chegaria às 19h30. Por não ter relógio de pulso e sem celular, eu não poderia acompanhar o tempo passando. Na verdade, sem qualquer distração online, eu poderia ver claramente o tempo me passando pra trás.
Porém, tive a brilhante ideia de perguntar a hora para o atarefado garçom. Brilhante nada. Ele também não tinha relógio nem celular no bolso. Eu já estava fazendo aquela cara de “e agora?”, quando o gentil garçom aponta e aperta os olhos para o relógio da pracinha, que fica em frente ao barzinho. “- Ali, oh! 20 e..!” 
Fiquei meio impressionada com a perspicácia dele de contar com o relógio alternativo. Desprovida de celular, alguém me mostrou o caminho. Estava sendo reeducada a me reconectar com o mundo real, concreto e, definitivamente, offline.
Sem internet, sem companhia, lá estava minha pessoa solitária numa mesa de bar. Não havia a distração de dar uma olhadinha no Facebook, muito menos de saber notícias da amiga desaparecida. Falando sozinha, fiquei me perguntando sobre o que teria acontecido com ela. Pensando “Não pode. Alguma coisa aconteceu!”, passei a imaginar mil causas e coisas. Nem preciso dizer que pensei nas piores.
Contratar uma Agência de Notícias sobre a tal amiga da Elaine, nem pensar. Receber do Correios uma cartinha dela, listando seus nobres motivos e me pedindo perdão, muito menos. Ir para a delegacia mais próxima, também não era para tanto.
Afinal, tem o trânsito dessa cidade e, claro, qualquer outro imprevisto. Só que, sem sinal de fumaça, sem internet, eu não tinha como me inteirar dos fatos. Coloquei minha imaginação para voar. Tentei amenizar minha visão apocalíptica da coisa procurando relaxar e colocando toda a culpa no trânsito.
Sem o celular nas mãos, comecei a observar as pessoas ao redor. O que vi foi a esmagadora maioria conectada à internet. Amigos ao lado, porém rostos enfiados em telas de celulares. Também via gente “sozinha” na mesa, sorrindo ou com cara de concentração para o celular. E eu ali, conectada com a solidão numa mesa de bar. Aprendendo a agir naturalmente com essa coisa de “levar um bolo”.
Meu celular em casa. Meus contatos de Facebook e Whatsapp em casa, no meu quarto, e eu só. Engraçado, não senti falta das redes sociais, apenas da função de ligar para saber o que diabos havia acontecido com minha amiga.
Quando paguei minha conta, satisfeita por ter sobrevivido a uma noite sozinha comigo mesma, a amiga esperada surgiu. Angustiada, explicou o motivo da confusão toda. Disse que pensou seriamente em ligar para o barzinho. Pediria para me localizarem. Precisava que alguém me colocasse na linha telefônica.
No fim das contas, tudo deu certo. Apesar da amiga implorar para eu nunca mais fazer isso. Isso de me tornar incomunicável por algumas horas.
E você? Sobrevive a uma noite off-line assim? Cuidado. A dependência tecnológica pode te pegar de jeito!

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