domingo, 26 de janeiro de 2014

Cuidado dos outros, cuidado com os outros.

Ontem, dei a volta ao mundo em busca de novas amizades. Saí da minha casa, um bairro bem, bem distante de qualquer endereço dessa cidade, acreditando, confiando que existe gente do bem nesse mundo. Não sei se é sorte ou pura coincidência ou obra de um ser divino, mas eu sempre me esbarro com gente que vale a pena confiar.

Eu sou facinha de confiar no lado bom das pessoas. A minha família, os meus amigos sabem muito bem disso. Por isso mesmo vivem no meu pé, me alertando que isso pode ser perigoso. "Elaine, cuidado! Tá um perigo essa cidade!"

Ontem à noite, no ônibus, estava a minha mochila colorida acomodada em meu colo. Eram quase 10 horas da noite, e o ônibus longe da minha casa percorrendo caminhos perigosos. Eu estava ali buscando me sentir mais segura sempre sentando ao lado de alguém, quando a pessoa ao meu lado tinha que descer na próxima parada.

Foi quando sentei ao lado de uma mocinha morena, aparentando ter seus 15 anos. Cabelo preto encaracolado, batom na boca e sombra nos olhos. Fui pedir uma informação, segurando um mp4 na mão. Ela tirou minha dúvida com a maior simpatia, direcionou o olhar pro objeto que eu tinha na mão e disse:

- Cuidado, tá? Melhor você guardar isso. Aqui é bem perigoso.

Olhei discretamente ao redor e agradeci pelo carinho de me lembrar de certas coisas. A menina-mocinha sinalizou sua descida e, antes de partir de vez, falou novamente pra mim que eu tomasse cuidado: "E cuidado!"

Bem, assento ao lado novamente sem ninguém, parti para minha próxima companhia desconhecida (até então). Desta vez, era uma mulher já feita. Gordinha com o "look" e a autoestima bem trabalhada, além de tatuagens visíveis espalhadas pelo corpo cheio. Ela viu uma feirinha de moda pela janela e daí começou a puxar assunto, conversando comigo. Em poucos minutos, parecíamos amigas de infância.

De moda rentável com clientela de turistas na cidade, ela pulou de assunto a fim de relatar seus dissabores a respeito do amor. Estava indo conhecer outra pessoa, deixando claro, para início de conversa, que tem namorado, que ele já a traiu uma vez e, por vingança, ela fez o mesmo. Acredita que homem não sabe fazer esse tipo de coisa direito, mulher, sim. Ela perdoou o atual namorado e quis propor relacionamento aberto. O carinha não topou e prometeu que não iria mais traí-la. Ela: - Ok. Mas se você trair de novo, eu traio também e você nem fica sabendo, porque mulher sabe fazer isso direito.

Ela falava, falava, eu a interrogava, interrogava e ria bastante de sua espontaneidade. Mas ela tinha que descer na próxima parada. Claro que antes disso, na intercalação dos assuntos, ela já havia me alertado da falta de segurança naquelas áreas. Fez questão de frisar que o terminal, onde era meu destino, era ainda mais cheio de gente perigosa. Pediu várias vezes que eu tivesse cuidado, dentre tantos outros conselhos de quem acaba de adotar uma amiga.

Minha nova amiga teve que descer para encontrar com o carinha a fim dela, mas antes perguntei seu nome e disse o meu. Me pergunte se eu me lembro agora do nome dela e eu direi não. Mas lembro de cada risada que demos juntas. Lembro com riqueza de detalhes da importância que foi sua breve presença na minha estrada de errante por esse mundo - pequeno para alguns, grande para outros-.

Depois dessa e de outras situações cotidianas que se somam a esta, estarei sempre alerta. O cuidado dos outros, o cuidado com os outros, o cuidado com o mundo perigoso, é bom tê-los sempre. Embora nem por isso precisamos ficar parecendo uns neuróticos apavorados. Apenas cautela com tudo na (da) vida.

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