quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Sobre ter sua própria voz.

Houve um tempo em que eu esquecia de cantar. A música vivia em minha cabeça, em meu coração, mas minhas cordas vocais pareciam travadas, quase enferrujando até.

Houve um momento em que a tempestade veio de surpresa. Eu estava na rua, o guarda-chuva esquecido em algum canto obscuro da casa. Eu já ia longe e não havia abrigo seguro por perto onde eu pudesse esperar. Aí, eu pensei: "Quer saber? Eu vou é debaixo d'água mesmo. Não vou nem derreter." 

Eu vi o caos se desenhando e se materializando na minha frente. Eu era o próprio caos. Minha cabeça e os pensamentos dentro dela giravam sem parar. Meu auto-controle havia partido para o espaço sem me deixar um tchau sequer. Ainda meio resistente a qualquer tipo de conselho, eu resolvi ouvir a voz, a minha própria voz. Decidi que jamais deixaria alguém novamente me mandar calar meu canto.  Eu não parei de cantar, desde então. Cantava só para mim mesma no início. Eu própria encarregada de me trazer paz. A ansiedade corroendo meu peito, e a minha voz acariciando meus medos.

Mas eu não podia contar só comigo mesma. Deixei minha família, meus amigos, novos amigos, essa gente toda me resgatar. Eu passei a olhar pra eles e até para os "estranhos" na rua com mais amor. Eu me tornei a curiosidade em pessoa. Quase tudo para mim agora é novidade. É fora do comum.

Eu não canso de ouvir histórias da boca das pessoas. Eu admito que sou pequena para me tornar grande com elas. A gente se ensina e aprende com o outro; um fluxo incessante que nos leva adiante.

Essas pessoas podem escolher caminhos opostos aos meus e, talvez, a gente nem mais se cruze por aí. Apesar disso, o tempo em que estiveram aqui foi mais que necessário, foi parte do que tenho me tornado hoje.

Hoje, ouvi: "Ei, te ouvir cantar me dá tranquilidade"

Hoje e sempre, resolvi que não vou parar mais de cantar. 

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