domingo, 19 de setembro de 2010

Grandes Coisas para Os Outros

Entende por que nunca se deu ao luxo de sonhar. Acha tudo isso aqui muito chato, no entanto, sabe que deveria sobreviver como os outros: agarrando-se a alguma verdade, abrigando-se no recanto aparentemente seguro do encanto. Mas sabe da constante iminência da mudança e receia que escape a ilusão como um solo a desintegrar-se sob seus pés.

Vê sua própria imagem, mas é uma estranha a olhá-la. Pode ver o desgosto no olhar e o desapego em todo o restante. Aquela refletida é só um corpo desvinculado da alma a encará-la. Pensa que para vir a esse mundo deve-se fazer grandes coisas para os outros. Acha que não fez nada até o momento, acha que perdeu o instante. Tenta seguir o conselho cantado de abandonar o que é pronto e dizer adeus. Isso, pra ela, é difícil. Não exibe a habilidade que seu criador lhe reservou, porque não rende, não lhe garante o pão com facilidade.

Reflete e sente que poderia sim estar fazendo grandes coisas para as pessoas. Poderia suavizar o dia a dia dessa gente com uma voz aveludada. Poderia disseminar mensagens bonitas de se dizer, de se fazer. Poderia, no clímax de seus feitos, fazer desaguar, das nascentes dos olhares alheios, lágrimas bentas de felicidade.

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