sábado, 11 de fevereiro de 2012

Da janela de Arnaldo Antunes

Toda pessoa já é talentosa por natureza, porque você sabe usar o discurso, você fala com sua mãe de um jeito, com o policial de outro, com o porteiro do prédio de outro, com seu filho de outro. Teu discurso se adequa. Eu, na verdade, tenho anseio de, de tá o tempo todo, de certa forma, alterando a sensibilidade, a consciência das pessoas. Mas, ao mesmo tempo, tem um desejo muito da simplicidade, da naturalidade de tá dizendo as mesmas coisas que são óbvias, assim, só que as pessoas não estavam vendo sob aquele ponto de vista.

E aí as pessoas falam essa coisa da alma ser aquilo que você tem lá dentro, escondido no fundo, e não, às vezes tá na pele. E a música traz muito isso, por isso que ela faz a pele arrepiar, o pé bater no ritmo, as pessoas dançarem. Ela move a coisa do corpo.

Acho que a questão da Arte tá muito no "o como" você faz as coisas, talvez mais do que no ˜o quê" você faz. Sempre que eu vou fazer alguma canção ou mesmo escrever alguma coisa parece que eu não sei se vou conseguir. É sempre aventura, assim, e aí eu acabo dando um jeito e consigo, mas "o não conseguir" tá sempre presente; eu posso não conseguir.

O tempo todo é um contraponto de ação e repouso, de fala e silêncio, de som e silêncio. Você tem o pé e o espaço pra dar o passo, então eu tenho o vazio e o (...) e isso que faz a coisa se movimentar.

Eu gosto da coisa profana, da coisa híbrida, da coisa mestiça, da coisa suja, gosto do berro, a voz que tem o elemento do ruído incorporado. Pra mim, criar sempre foi um sintoma de bem estar, um sintoma de que eu tô alegre.

Acho que qualquer pessoa quer estar bem, né?! Acho que isso deveria ser um princípio comum a todo mundo.

Copiado do áudio do DVD/ álbum "Lá em Casa- ao vivo"

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