Há que se ter um Diário. Você tem que sentir essa necessidade, caso contrário, há algo de errado. Embora existam aqueles momentos em que você pensa " Estou cansado de pensar. Hoje eu não quero pensar."
Há que se alimentar a mente de pensamentos sigilosos; é saudável. É preciso criar e lapidar reflexões que só pertencem a você e a mais ninguém. Nem tudo se expõe aos outros. Deixe que os metidos se ocupem um instante de se meterem com suas próprias vidas.
Dividir uma vida com alguém que se ama não implica em ter de revelar o seu Diário, lê-lo em voz alta para o outro. Há de se manter viva a sua individualidade.
Quando me refiro a Diário, este não é necessariamente aquele mini-livrinho, antes todo em branco, agora escrito à mão, pacientemente, a cada dia. Um Diário pode ser simplesmente um diário, ocupando seu devido espaço lá na nossa cabeça, cuja fábrica de concepções pode ficar a todo vapor durante 24 horas ou quantas horas durar nossa existência.
Quando completei 15 anos, eu não fiz questão de festa, eu não dancei valsa com príncipe encantado algum. Eu já tinha príncipes e sapos inventados por mim mesma. Eu fantasiava muitos amigos, quando eu não tinha nenhum. Eu me escondia na minha delicada fase da Adolescência "encabulada".
Foi quando fiz um presente que eu me daria nos meus 15 anos. Busquei várias folhas de ofício A4 no armário. Dobrei-as ao meio e montei uma encadernação. Usei lápis de cor pra pintar a capa e a contracapa. Coloquei o título: " Elaine. 15 anos." Daí em diante, eu escrevia freneticamente reflexões de moça-menina. Eu descobri o gosto pela escrita. Na agenda do Colégio, eu derramava versos sobre coisas que nem entendia. Sobre amor, paixão, Lua, Flor e Sol. Eram rimas em clichês, das quais eu logo ria quando terminava de escrever. Sim, muitas vezes eu ria do que escrevia, mas também chorava, porque as palavras não eram suficientes pra afastar a solidão um pouco de mim.
O fato é que meu Diário não chegou a ter muitas páginas rabiscadas. Um dia, temi que alguém o lesse. Eu não queria que coisas só minhas pertencessem aos outros, aos meus pais, ao meu irmão, seja lá quem fosse. Decidi rasgar o Diarinho em vários pedacinhos. Todas as letras e palavras, frases toscamente formadas, foram direto para o lixo. Entretanto, os pensamentos que eu extraía delas continuavam incrustados na minha mente; na mente de onde, se eu guardasse bem a sete chaves, ninguém poderia ler os meus segredos. Afinal, há que se ter mistérios e, com isso, despertar fascínios. Há que se ter reflexões secretas. Tudo isso é preciso.
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