Tenho mãe jardineira; e tenho orgulho disso dela. Eu tenho mãe com quem aprendi a sentir a natureza como um ser vivo. Lembro bem, eu bem pequena questionando ela:
"- Por que aguar o jardim duas vezes no mesmo dia?" Ela, com aquele jeito dela impaciente para dar respostas, me respondeu com outra pergunta:
" - A gente só come e bebe água uma vez no dia?"
Tenho mãe que me ensinou a contemplar a beleza das flores e, principalmente, me fez entender que essas flores não são meros objetos de decoração, e sim vidas, como um coração a bater forte e vermelho no peito.
No começo desse ano, meus pais reformaram uma espécie de "jardim-garagem" daqui de casa. Uma pena quando percebi, já na metade das obras, que os antigos 50% de jardim perderiam para os 90% da nova garagem para dois carros. Eu, pasma, joguei pra ela mais uma pergunta polêmica com relação ao jardim:
" - Mas, Mãe, e o jardim? E o céu que nem dá mais pra ver daqui, - com essa cobertura toda aí de telhados! Desse jeito, nem o beija-flor volta mais aqui."
Desta vez, com paciência, ela se pôs a explicar que não iria se desfazer do jardim, que encontraria lugar para os jarros. Depois, não sei se por conta da minha indignação, ela me apareceu com plantinhas novas.
Trouxe jarrinhos com rosas dançantes e exibidas. Não se esqueceu de uns ganchos pra suspender os jarros nas colunas, já que não havia mais chão disponível. Então, me aparece meu pai como assistente daquela jardineira empenhada. Veio trazendo umas joaninhas e borboletas tão coloridas, que dão dor na vista. Estava munido de um martelo. Eles me contagiaram e me auto-candidatei a assistente. Minha função era indicar os melhores espaços sobre os quais possivelmente uma joaninha seria encontrada. Além disso, eu teria de prever as trajetórias dos voos das borboletas do nosso jardim.
Agora, as joaninhas e as borboletas estão lá, coladas na única parede do jardim sobre a qual se preservou o céu aberto e sob a qual foi mantido o estreito piso de terra com plantas enfileiradas.
Também agora está lá, um mini-burrinho de barro carregando, sem sair do lugar, dois jarrinhos floridos, um de cada lado da cela. Eu também ajudei a montá-lo. A mãe jardineira que tenho pediu que eu segurasse a miniatura de roseira, fragilmente enraizada no bloquinho de terra.
Enquanto a mãe preparava o mini-jarro do burrinho pra receber a roseira, eu segurava, eu abraçava, com certo receio, a terra com a qual a roseirinha indefesa se agarrava. Eu tinha tanto medo de deixar cair um grãozinho que fosse! Eu tinha receio de que a raiz desgrudasse da terra que eu tinha sobre minhas mãos em concha. Eu parecia uma menininha, segurando nos braços, pela primeira vez, um bebê recém-nascido bem fragilzinho. Acho que a mãe jardineira que tenho percebeu e ficou aconselhando:
- " Segura a bichinha com jeito, pra não derrubar!".
Eu me orgulho tanto da mãe jardineira que eu tenho. Achei tão lindo uma vez ela declarando:
" - Quando eu morrer, meu espírito vai estar nas florestas. Eu vou ficar vagando nos campos."
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