Lembro vagamente, afinal, isso significou quase nada naquela minha história de vida que nem engatinhava ainda, que nem tinha saído dos três pontinhos de "Era uma vez...".
Eu fazia a quarta série, tinha exatamente 10 aninhos. E foi nessa atmosfera colegial, de coelhos azuis e sorridentes pregados na parede da sala de aula, que me fizeram a famosa perguntinha " Quer namorar comigo?" - mais de uma vez -.
O menino da pergunta era só um amigo meu e um "menino" mesmo, que não tolerava o título de "pivete". Queria porque queria ser o mais maduro da turma. Na certa, se encontrava numa dessas fases que há um tempo atrás chamavam de pré-adolescência. Não sei se já existe outro nome pra isso; pré-aborrecência? Não sei.
Bem, minha resposta à pergunta número 1 foi:
- Ãn?
Não me recordo se respondi isso por realmente não ter escutado direito. Acho que a ex- "Tia", a "Professora" estava na lousa tentando impor silêncio na pivetada agitada. Desconfio de que não foi só o barulho que não me deixou ouvir. Talvez ele tenha soltado a pergunta extremamente coberto de timidez; provavelmente depois de tentar "criar" coragem por um bom tempo. Então, ele falou bem baixinho. Depois do meu "Ãn?" e do meu contorcer de sobrancelhas como quem olha pra lousa e não enxerga uma palavra, ele enunciou pela segunda vez a mesma pergunta, só que agora com um pouco mais de impetuosidade:
- Quer namorarcomigo?!
Aí, neste ponto, tenho certeza que escutei direito. Não acreditei. Eu, uma criança, ciente de que era uma "menina" e satisfeita com a minha fase infância, ouvindo outra criança perguntar isso pra mim. Eu estava pasma. Só consegui improvisar outro "Ãn?", com sobrancelhas fazendo a mesma inclinação da primeira reação, mas desta vez destinguindo bem palavra por palavra pronunciada e entendendo a situação mais do que a tabuada decorada.
O pobrezinho do meu amigo, acho que, ficou incrédulo com a resposta repetida, pior do que isso, com a ausência de resposta. Poderia ter me chamado de " Môca!". Mas, não, ele preparou outra porção de coragem pra repetir pela terceira vez A Pergunta. E eu me esforcei pra encontrar outras palavras, dizendo:
- Como é? Não tô entendendo!
Finalmente, depois dessa, ele desistiu com um "Deixa pra lá". Ôh, dó! Mas tudo terminou bem. Ele continuou sendo meu amigo e, depois de um tempinho, apareceu com uma namoradinha. Encontrou alguém que estava na mesma fase dele, a da pré-adolescência apaixonada.
Nunca mais o vi e não faço ideia por onde anda. Normal, em um mundo cheio de gente, onde milhares de pessoas passam por sua vida, somem, indo além do que sua vista é capaz de alcançar; alguns desaparecem pra sempre.
Nenhum comentário:
Postar um comentário