PEQUENO MANUAL DE FILOSOFIA PARA SOBREVIVER A UM PAPO-CABEÇA
Sven Orteli & Michel Eltchanineff
"Semblante atento e cenho franzido, o homem de gravata borboleta está silencioso. Raros monossílabos; suspiros e resmungos, se tanto. Mas há alguma coisa em seu semblante que gostaria de expressar- como dizer?-, uma espécie de sofrimento. Na verdade, ele está indócil desde o início do jantar. E eis que um irresponsável julgou propício queixar-se dos manuais( seis línguas, caracteres minúsculos, explicações falsamente esclarecedoras, desenhos que exigem a colaboração de um assiriólogo) das últimas do high-tech...o Gravata Borboleta intervém intempestivamente, enunciando com tristeza: "o senhor tem razão: precisamos reencantar o mundo" - em seguida se cala. Os presentes prendem a respiração e esperam a sequência. Nada.
...
Primeira garfada: o mundo foi encantado. As primeiras civilizações acreditavam na magia. Recorriam às postestades irracionais. O mundo era regido por forças atuantes, deuses, relâmpagos misteriosos e trevas. Os sacerdotes, feiticeiros, xamãs e outros videntes faziam o papel de telégrafos entre os deuses e os humanos. Mundo mágico, poético, mitológico, e super- romântico!
- O senhor quer dizer que o maravilhoso não existe mais? - pergunta você com candura.
- É mais complicado que isso - responde ele soturnamente.
Segunda garfada: o mundo foi desencantado. Esse processo, ..., começou hà muito tempo. Assim que os fiéis rechaçaram a magia, qualificada de superstição, o desencantamento adveio. No início, os profetas judeus abalaram o poder dos sacerdotes ao estabelecer uma relação pessoal com o Todo-poderoso. A magia não era mais uma técnica de salvação. Em seguida, o movimento ganhou impulso inexorável com o protestantismo, no século XVI, que pôs por terra todos os sacramentos tradicionais, manifestações sacralizadas do divino. ...Ninguém precisava mais de padre para absolver, para promover a redenção e a esperança de misericórdia.
...
Daí uma terceira garfada de torta de creme: precisamos reencantar o mundo, polvilhar nele um pouco de magia. O indivíduo contemporâneo chegou ao fim de sua autonomia. Por acreditar apenas em suas próprias forças, destruiu seu planeta e não suporta mais seus semelhantes. Sente saudade das religiões, que o ajudam a pensar e viver. Quer se volte para o budismo, a jardinagem, a leitura de Paulo Coelho ou do Código da Vinci, ele exprime uma necessidade de reencantamento. Trata-se de reencantar o mundo sem voltar à superstição ou ao mero fanatismo. ..."
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Primeira garfada: o mundo foi encantado. As primeiras civilizações acreditavam na magia. Recorriam às postestades irracionais. O mundo era regido por forças atuantes, deuses, relâmpagos misteriosos e trevas. Os sacerdotes, feiticeiros, xamãs e outros videntes faziam o papel de telégrafos entre os deuses e os humanos. Mundo mágico, poético, mitológico, e super- romântico!
- O senhor quer dizer que o maravilhoso não existe mais? - pergunta você com candura.
- É mais complicado que isso - responde ele soturnamente.
Segunda garfada: o mundo foi desencantado. Esse processo, ..., começou hà muito tempo. Assim que os fiéis rechaçaram a magia, qualificada de superstição, o desencantamento adveio. No início, os profetas judeus abalaram o poder dos sacerdotes ao estabelecer uma relação pessoal com o Todo-poderoso. A magia não era mais uma técnica de salvação. Em seguida, o movimento ganhou impulso inexorável com o protestantismo, no século XVI, que pôs por terra todos os sacramentos tradicionais, manifestações sacralizadas do divino. ...Ninguém precisava mais de padre para absolver, para promover a redenção e a esperança de misericórdia.
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Daí uma terceira garfada de torta de creme: precisamos reencantar o mundo, polvilhar nele um pouco de magia. O indivíduo contemporâneo chegou ao fim de sua autonomia. Por acreditar apenas em suas próprias forças, destruiu seu planeta e não suporta mais seus semelhantes. Sente saudade das religiões, que o ajudam a pensar e viver. Quer se volte para o budismo, a jardinagem, a leitura de Paulo Coelho ou do Código da Vinci, ele exprime uma necessidade de reencantamento. Trata-se de reencantar o mundo sem voltar à superstição ou ao mero fanatismo. ..."
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