domingo, 5 de outubro de 2008

Lágrimas do desperdício


Era a primeira vez que eu veria de perto um atentado contra a raça humana e a prole da gestação mãe natureza. A vítima repousava, reluzindo deitada em seu aposento lá em cima. De baixo ninguém lhe via. Eram raras as visitas. Agentes de saúde iam de vez em quando verificar se nela continham algumas impurezas, hóspedes indesejados.

Voltando ao foco deste pequeno, mas traumático relato, a trama desenrolou- se no banheiro de um clube esportivo. Seguia conformada, minha rotina. Pego sacola, retiro toalha e tudo que preciso para uma boa higiene corporal. Aqui está a matéria-prima : H2O. Deixo-a nas encanações enquanto me preparo. Daqui a pouco o chuveiro vai jorrar esse elemento essencial à vida. Procuro economizá-lo ao máximo. Cada gota, cada respingo é ouro. Estou agora procurando o shampoo.Corro, pois já estou atrasada, almoço em 10 minutos, em seguida, trabalho!

Infelizmente, minha privacidade é invadida. Chega uma visita inesperada. Não tenho curiosidade de ver quem é, mexo na sacola procurando outra coisa. A minha companhia repulsiva executa ações semelhantes às minhas. Em segundos, vejo que não são tão semelhantes asssim. Ouço um barulho agonizante. É ela, a vítima indo de impacto ao azulejo. Os sons que emite é quase um choro, pedido de socorro. A visita teria realmente feito aquilo? Atônita eu tento amenizar minhas contestações de influência greenpeace. Após alguns segundos, que mais pareciam horas intermináveis, eu decido interferir. Não seria cúmplice de tamanha crueldade e desrespeito à vida de milhões dependentes de cada molécula H2O derramada. A mãe natureza sangrava. Eu estava prestes a cortar minha distância da visita, agora, repugnante( eu segurava a ânsia de vômito). Fiz uma simples pergunta:

- Por que você não está embaixo do chuveiro? Ao que ela respondeu:

- Ah. Está quente. Meu médico disse que eu fizesse isto. É minha saúde!

Incrível não?! A saúde da “pobre” moça estava em jogo. A água que estava fresquinha, aliás, na temperatura ideal para a pele, estava jorrando junto a lágrimas do desperdício. O mundo inteiro parecia chorar. A moça preservava o seu bem-estar, talvez até consciente do que estava a fazer. A saúde, não dela, mas do mundo, estava em jogo.

Para
minha tristeza, presenciei o mesmo ato criminoso por duas vezes. Estava de braços, pernas, língua atados. Não havia argumento algum que convencesse a ignorante assassina. E assim caminha o mundo, cheio de criminosos afetando vidas presentes e futuras.

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