Outro dia, eu estava no supermercado e vi o caixa preferencial de bobeira. Levei meu 1kg de maças e duas goiabas até lá, mas logo uma senhora muito bem vestida e maquiada surgiu também com poucas comprinhas, no máximo, dois itens. Claro que cumpri meu dever de respeitar o direito dos mais velhos, ou melhor, dos mais experientes, cedendo a vez que não era minha.
Mas a senhora apenas olhou nos meus olhos e disse:
- Não, querida. Pode passar primeiro.
Eu não achei justa a ideia e abri caminho, pedindo várias vezes que ela tomasse minha frente. Mas a senhora, que podia ser a avó que eu nunca tive, insistiu no "Não, não! Pode ficar!". E passou a buscar uma boa justificativa pra eu não me sentir mal. Nem precisou me observar muito para, diante da minha aparência de 15 anos (mas já quase nos meus 25), tentar adivinhar meu destino:
- Tá indo pro colégio?
Então, dei uma risadinha, achando a situação e aquela senhora muito meiga e gentil. Se ainda havia alguma chance de eu convencê-la de que tinha o direito de passar na minha frente, perdi ao responder:
- Não, não...indo pro trabalho.
Ela parecia satisfeita. Tinha encontrado a grande razão de ceder sua vez. Então, colocou-se no meu lugar, não no sentido de espaço, mas de empatia mesmo:
- Ah! Trabalho? Eu sei como é, minha filha. Eu sei porque eu já trabalhei! Pode passar logo, eu espero, não tem problema.
E só me deu a opção de sorrir e agradecê-la. Saí de lá pensando que ela poderia ser a presença de vó no meu cotidiano. Saí pensando também que o mundo não está perdido.
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