Feriado santo. Graças a deus, eu escolhi a família. Não só a família; escolhi ver um grilho caminhando cautelosamente sobre a água azul da piscina; tentei ajudá-lo porque percebi que ele estava querendo sair. A primeira coisa que vi no chão, uma folha morta e seca, usei para tirar ele dali, mas ele escorregou pro lado e eu só consegui molhá-lo mais. Minha mãe vendo minha preocupação, foi ajudar. Fez da sua mão uma concha e tirou-o junto a pequena poça de água com cloro.
Escolhi flagrar, assim, por acaso, um sapo grande camuflado igual pedra na beira da calçada, que estava sendo lavada pelos meus pais. Hoje, estava uma manhã muito quente e logo imaginei que ele só podia estar ali por pura esperteza, só aguardando a água da calçada escorrer sobre sua pele de sapo. Na noite anterior, nosso labrador tentou brincar com o tal sapo, mas só conseguiu fugir meio esquisito, tentando tirar algo do focinho.
Escolhi reunir a família do meu namorado com a minha e finalmente apresentar a eles a casa de sítio tão falada. Escolhi acompanhar minha mãe, enquanto ela apresentava para a minha sogra cada planta enfileirada no quintal comprido. Escolhi também ver as duas famílias interagindo num jogo de sinuca e na mesa durante o almoço.
Escolhi o canto insistente do bem-te-vi como substituto do despertador, e ouvir minha mãe imitando-o em seguida. Logo depois, optei por levantar da rede e ver o céu e o verde lá fora ainda em jejum. Escolhi ouvir meu pai perguntar se eu já tinha tomado café.
Escolhi, junto ao meu irmão, animar as noites de sexta e sábado dos nossos pais. Às 22h, vi que eles já se preparavam pra dormir, então fiz o convite:
- Vamos jogar Ludo, Damas, Sinuca e ouvir música?
E deu certo. Jogamos sinuca ao som de Queen nas alturas. Vimos meu pai finalizar uma jogada de mestre, comemorando sua vitória fazendo um solo do Queen na guitarra imaginária: o taco. Escolhi escutar o comentário feliz da minha mãe:
- Há muito tempo eu não via ele sorrindo assim.
Desta vez, escolhi passar o feriado todo com a minha família de sangue. Meu namorado até tentou me sequestrar, mas deixei ele ir e fiquei. A irmãzinha dele tentou convencer minha mãe de que eu deveria ir embora com eles, mas ouviu como resposta: "A Elaine é minha!"
Eu não queria ir e não fui, porque eu escolhi e vou escolher por mais vezes estar com a minha família de apenas quatro pessoas. Eu entendo que eu e meu irmão somos a fonte da alegria deles. E enquanto eles tiverem com a gente, eu vou doar o máximo do meu amor e da playlist selecionada por mim para animar a festa.
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