Eu estava no meio da rua, que ainda tinha cheiro de asfalto novo, brincando de jogar vôlei com minha amiga mais velha.
A bola foi rolando pra longe. Vi o menino, que costumava brincar do outro lado da rua, passando. Pedi que pegasse a bola pra gente. Ele trouxe. Aproveitei para convidá-lo pro jogo. Espantei-me com a resposta:
- Eu não! Lá vou jogar com uma aleijada!
Ele se referiu a minha amiga assim. Ela podia dobrar muito pouco as pernas e andava com aparelhos. Isso não a impedia de jogar vôlei comigo.
Fiquei um bom tempo parada, ainda digerindo o que o menino havia dito. Assumi a vergonha que ele não teve. Ela só me aconselhou a não dar bola pro menino, literalmente. Eu aceitei. Afinal, ele podia estar só copiando os pais ou algum outro adulto. Enfim, ele era uma criança. Pode ser que hoje, já adulto, tenha uma melhor opinião formada sobre esse tipo de coisa.
E assim, desde cedo, desde criança, eu soube da existência do preconceito e da sua companheira fiel: a ignorância.
2 comentários:
Gostei especialmente desse parágrafo do texto: "E assim, desde cedo, desde criança, eu soube da existência do preconceito e da sua companheira fiel: a ignorância."
Bola pra frente!
Que bom que você gostou, Carlos! Feliz pela sua visita aqui. Volte sempre, viu! =D
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