Porque janelas e portas abertas não são suficientes pra ver o mundo e as pessoas lá fora, tive que demolir uma das quatro paredes.
quarta-feira, 15 de abril de 2015
O ansioso e um bom livro.
Pegar um bom livro, sentar e lê-lo de verdade não é para ansiosos, melhor, é para ansiosos em tratamento. Ler é terapia, é exercício árduo e diário, ou pelo menos deveria ser.
O ansioso não consegue ler sem se perder em pensamentos que nada têm a ver com a trama que se desenrola na obra em mãos,
o ansioso não consegue ler um capítulo que seja sem olhar quantas folhas faltam para acabá-lo, parece até que o obrigaram a ler.
o ansioso sai de um parágrafo para o outro sem a mínima lembrança do que leu há poucos segundos atrás,
o ansioso tem olhos com a síndrome contemporânea da pressa, olhos que engolem letras, por isso o ansioso é capaz de jurar que determinada palavra que leu é outra, de outro significado,
o ansioso faz leitura de relance, engana-se fácil assim. Seus olhos o traem.
O ansioso não quer saber de suspense, quer saber antes do tempo certo o que vai acontecer mais adiante na trama,
o ansioso, enquanto lê, pensa no tempo que está se ausentando das redes sociais - da sua vida publicável.
O ansioso leitor prefere ler sites, que aí ele se dá a liberdade de ficar pulando de aba em aba, sem se concentrar em nenhuma delas,
o ansioso, sem que perceba, vai aposentando seus livros na estante, muitas vezes ainda envoltos em plásticos,
o ansioso dificilmente consegue terminar de ler o livro,
o ansioso passa um longo intervalo de tempo sem tocar no tal livro e esquece quem é quem na história, não se lembra dos nomes dos personagens, não se envolve com eles.
O ansioso lê com a cabeça em outro lugar, no que tem que fazer amanhã, no que deixou de fazer hoje, pensa em qualquer coisa, menos na escrita a sua frente,
o ansioso não se alimenta da história contada, não devora as experiências alheias, ao invés disso, abocanha as unhas, os dedos inteiros, e assim nutre os seus receios.
Resumindo, o ansioso, além de sofrer de ansiedade, sofre do mal de não conseguir ler um bom livro.
É preciso exercício, autocontrole, e ao mesmo tempo o descontrole de viajar sem sair de onde está.
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