O homem, que olha pra dentro da gente, parece ser
um cara comum, como qualquer outro. Não nasceu com poderes especiais dos heróis
de quadrinhos. Não se revela como
personagem central nas narrativas do cotidiano. Tem seus defeitos de fabricação
e os desenvolvidos ao longo de sua existência. Tem seus estresses e anseios. Não
é bem um “Homem que é Homem”, como dizem. Ele também chora. Pode muito bem ainda
não saber o que quer desta vida. É inseguro. É medroso. Enfim, ele lembra um
homem normal.
Justamente por isto, o cara que olha pra dentro da
gente consegue nos pegar de surpresa e, de quebra, não deixar outra alternativa
a não ser a de corresponder ao contato visual (quase espiritual). É muito
provável que este homem descubra mulheres tímidas o suficiente para desviar o
olhar, deixando-o solitário no fixo jeito de olhar. Mas estas também alimentam
a mesma curiosidade daquelas que têm coragem de encarar.
O olhar é sem segundas intenções, por incrível
que pareça. Vem em forma de confissão. Quase chega a gritar: "Ei, moça, eu
estou te vendo, de verdade!" Ou, no caso do seu par, do seu amor
lindamente possível e correspondido: "Ei, moça, eu te vejo e eu te amo,
de verdade!". É um grito mesmo, contido nos lábios e incontido nos olhos.
É mais ou menos dessa forma que o cara que
olha pra dentro da gente consegue nos abduzir sem necessariamente ser um ET.
Eu não faço ideia de quais meios este homem utiliza
para alcançar tal ato de coragem. Coragem
de lançar-se sobre o temido, quase mitológico, interior feminino. Eu não faço
ideia disso, mas faço questão de reparar nessas pessoas que conseguem olhar pra
dentro de seus semelhantes e, principalmente, dos seus nadinha semelhantes.
Essa gente, ao meu ver, é um “Esse cara sou eu” do Roberto Carlos. É o cara! Palmas para pessoas assim.
3 comentários:
Oi Elaine,tudo bem?
Cheguei aqui através da coluna do Ivan Martins, da revista Época!
Adorei seu texto. Com certeza um complemento da resposta do Ivan à pergunta do rapaz. Seria legal se os dois viessem aqui ler seu texto.
Quanto ao que escreveu... sabe,eu acredito que existem muitos homens que "olham pra dentro da gente", que não ficam só no exterior.
Eles devem se sentir tolos sendo assim, uma pena, porque eles não tem noção do quanto essa sensibilidade os torna "mais homens", pelo menos para nós mulheres, não é?
Voltarei... sempre!
Beijos
Já pensou, hein, Margô, se a gente pudesse fazer o Ivan e o rapaz que abordou ele lerem esse post!?
Esses homens que olham pra dentro da gente de verdade são realmente incríveis...
Abraço, Margô!
Olá, Margô! Lendo a sua crônica e a do Ivan Martins, "Olhe para ela!", lembrei do romance de José Saramago, "Ensaio sobre a Cegueira". O livro trata do "ver, sem ver" de uma forma mais abrangente, mas vale muito a pena, pelo aprendizado que proporciona.
Parabéns pelo texto! Você se expressa muito bem... Abraços!
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