Subi no ônibus. A moça que subiu primeiro tinha mechas roxas por baixo dos cabelos desalinhados. Tinha também uma tatuagem qualquer estampada na panturrilha. "Qualquer", porque ainda não trabalhei a habilidade de observar todos os detalhes no caos das inércias dos ônibus do transporte público daqui de Fortaleza. Mas o que era a tatuagem não importa. O que importa é que presenciei uma situação divertida. Um diálogo divertido entre a moça das mechas roxas e o trocador.
Trocador:
- Como é?
A moça tinha acabado de passar pela catraca e resmungava alguma coisa que não ouvi, mas o trocador sim.
Não obtendo resposta, o trocador insistiu:
- O que é?!
A moça se desentendia com sua própria bolsa, ou melhor, com a confusão de coisas dentro da sua bolsa, quando se deu conta do trocador.
Moça:
- Oi?
Trocador:
- Não, é que você falou meu nome, aí...
Moça:
- Eu falei teu nome? Em que momento?
Trocador:
- Você falou: "Jesus"
A moça, incrédula:
- Sério que teu nome é Jesus? (Risadas)
Fiquei imaginando o que a moça das mechas roxas tinha dito no momento em que falou "Jesus." Com certeza não era afirmação parecida com a do senhorzinho careca e profeta, que sempre está na janela dos ônibus gritando aos quatro ventos, com toda a força que ainda lhe resta nos pulmões: -"Jesuuus está voltando!!!"
Na hora da moça guardar o troco, talvez a briga com a bolsa tivesse feia o bastante pra ela reclamar com certa impaciência algo parecido com: " Ow, Jesus!" E o trocador quis saber "o que é que tem eu?" Como aquela passageira sabia o nome dele sem nem ao menos ele ter se apresentado? E a moça das mechas roxas e tatuagem na panturrilha parecia não acreditar que existe outro Jesus no mundo. Um Jesus de carne e osso, mortal e, ainda por cima, trocador de ônibus. Talvez a moça do cabelo semi-roxo fale "Jesus" só por falar. Tem gente que vive resmungando e colocando o "Jesus" no meio ou no final ou no início.
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