Desligou quase todas as luzes pra que pudesse contemplar a escuridão tomada por pontinhos de luz azuis. Mas só podia ver as estrelas, quando as nuvens resolviam passear de mãos dadas com o vento. Deitou no chão do quintal sem frescuras, sem dar cabimento aos mosquitos. Parecia que a noite a acalentava em seu colo.
A mulher não, a menina; isso, a menina, porque naquele momento não passava de uma menina mesmo, encantada com tudo ao redor e longe de qualquer preocupação. Ali, tinha a liberdade de ser a autêntica artista que aparentava ser.
Cantou feito uma cigarra maluca, como se tivesse apenas aquilo para fazer pela eternidade. Escreveu feito um poeta inspirado. Dançou uma dança esquisita, metade sambista, metade bailarina. Desenhou feito uma desenhista inventiva a cruz que as quatro estrelas tentavam formar no céu; ah, era fácil pra ela, bastava ligar os pontinhos, conectar as estrelas. E ainda interpretou feito uma atriz de teatro numa tela de cinema. Como a menina conseguia? Simplesmente ela podia, sua espontaneidade permitia tudo aquilo.
Cigarreou, brincou com as palavras, bailou, ao mesmo tempo reverenciando cada ponto que piscava sobre o véu negro. Não havia nela pretensão de ser uma daquelas estrelas. Sabe que ninguém brilha como elas. Na verdade, sempre contou com elas para não se apagar como gente no universo.
Deitadinha sob os astros que habitavam a escuridão, sentiu que, se pudesse, ficaria ali para sempre, afinal, tinha forte atração pelo contraste do azul estrelar sobre o preto da meia-noite.
Esperou, desejou que aquela noite durasse por um bom tempo, até que viesse o Sol despertado pelo cantoria e algazarra dos pássaros.
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