"Não!" Grita o colecionador para aquelas criaturas estúpidas, famintas. Minúsculas, compridas. Já gordas, entupidas de papel que um dia serviu pra carregar e exibir narrativas envolventes. Sim, eram Traças traiçoeiras, agindo à surdina.
O mais inacreditável é que à pouco estava ali o árduo trabalho de pesquisa do escritor. As palavrinhas escolhidas à dedo e de coração descansavam tranquilas sobre as folhas; cheias de história pra contar.
Foi um Terror(!) aquele sábado de manhã ensolarado para o colecionador que se interessava, comprava, lia, guardava cada obra em um lugar até então seguro, sua estante. E agora é assim, resolve-se espanar a estante e as palavras já não estão mais onde foram impressas. Ficou imaginando as pobrezinhas espremidas naquelas bocas de papel sugas. A leitura foi reduzida a um banquete, a muita fartura para as pestes imundas.
Mas o tal colecionador não se conformou. A sorte é que a situação não estava tão preta assim, pois somente um livro foi atacado pra valer. Apoiou as vítimas da covarde ação de comilança sobre uns encostos para um belo banho de Sol. Não demorou muito e logo se viu a agonia dos pequenos bichos gosmentos a fugirem atordoados da quentura.
Sabe-se lá de onde a praga veio e como se multiplicou. O dono leitor resolveu não perder tempo pensando na origem daqueles seres destruidores. Agora seria ele a exterminá-los. Os livros continuaram expostos ao Sol, enquanto o colecionador, tomado por tamanha indignação e ódio, decidiu por abaixo a mobília embutida na parede do quarto. E assim fez, arrancou-a com as próprias mãos.
Assustou-se, depois, enquanto contemplava os ferimentos da pele em pleno pranto de pavor. Sentia-se doente e apenas procurava entender por que somente ele não conseguia suportar conviver com as milhares de pragas do mundo.
Feriu-se, mas ao menos tentou desabrigar toda espécie que morava na grande estante. Eram cupins, traças, aranhas, baratas. "Suas pestes. Argh(!)", pensou, "ou morrem vocês ou morro eu".
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