A praia foi uma sala de aula despojada. Enquanto conversávamos "papo-cabeça" de gente que só
quer ser grande mas não é, o nosso pequeno professor, inquieto, tentava
construir o seu castelinho de areia. Um só castelo, não. Vários.
Ao alcance de suas minúsculas mãozinhas estavam suas ferramentas
(de brinquedo, claro): o balde, a pá,
uma espécie de peneira de areia e outros que não consigo detalhar agora porque
me perdi no sorriso puro do pequeno professor.
Há uma maleta de plástico para guardar todas essas ferramentas, da
qual o pequeno não tira o olho, se você gentilmente se oferecer para
carregá-la. O menino, esperto que só ele, sabe tomar de conta de sua
preciosidade. Inclina de leve a cabeça pro lado, na direção onde está sua mão
que leva os brinquedos. Vai que você, adulto cabeça de vento, larga em algum
canto, né. Ele mantém sua vigília firme e forte até escolhermos uma barraca e
uma mesa.
Daí começa a atuar a engenharia do pequeno na minha mente que
agora, mais do que nunca, vê metáfora em qualquer coisa ao redor.
Primeiro, ele tenta construir o Castelo num canto nada óbvio: a
mesa que estávamos usando. A amiga mãe só podia alertá-lo que ali não era o
“chão” ideal pra esse tipo de construção. Teria que ser na própria areia da
praia.
Ele resolveu aceitar a orientação sensata da mãe e sentou onde as
ondas do mar ainda não tocaram. Ficou ali sem saber por onde começar. Pediu
ajuda da mãe. Sem cerimônias, a mãe afunda as mãos na areia e vai formando a
montanhazinha. Ele observa e imita.
Nosso professor olha pra gente com cara de sapeca e simplesmente
se joga no castelinho que acabou de fazer. Pula, se joga de barriga em cima do
que era para ser um castelo de areia e que passou a ser chamado por ele de bolo
de aniversário. Colocou um galho no ápice do monte fazendo de conta que era uma
velinha. Até parabéns ele cantou. Depois da celebração, destruiu tudo movido
por uma gargalhada que há muito tempo eu não ouvia de uma criança.
Ouve a gente se lamentar “Mas, ah, você desfez o castelo, o bolo!
Agora vai ter que fazer tudo de novo” Ele responde com risada e nenhuma ruga de
preocupação na testa. Imediatamente, se propõe a reconstruir o “bolo” e pensa
alto, olhando pra mim: “Eu não consigo” E eu digo rápido, como alguém que já
tem mais experiência de vida: “Claro que consegue! Faz de novo!”
E ele fez e refez, fez e refez o castelo de areia, ou melhor, o
bolo, com graça e espontaneidade. E é assim que nós, gente grande, devemos
fazer também com nossos sonhos. Se não foi dessa vez, tenta outra vez. Um dia o
castelo de areia ganha consistência o suficiente para nós não o julgarmos tão
imperfeito a ponto de acharmos melhor construir outro. No máximo, apenas
algumas reformas.
Um comentário:
E como ele gosta de reconstruir! Seu ponto de vista foi ótimo ;D
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