Ela nunca foi de dar muito carinho a nós (seus dois filhos) não, até porque sua especialidade sempre foi brigar. Brigar pela desarrumação da casa. Brigar por conta da louça suja na pia. Brigar por causa do barulho que é eu e meu irmão conversando no corredor da cozinha pra sala, o que dificulta ela ouvir a novela dela. Pena que esse último caso é muito raro acontecer. É um tremendo desencontro entre mim, meu irmão e meus pais. Geralmente passamos a maior parte da vida fora de casa. Nossa mãe é que está sempre em casa.
Ela cuida da casa, da comida, do cesto de roupa suja, das roupas enrugadas à espera na tábua de passar, cuida da gente e cuida também de brigar por qualquer motivo. Há momentos que eu banco a compreensiva e a entendo. Não deve ser nada fácil passar o dia em casa cuidando de várias coisas e assistindo aos clichês de novelas à tarde e à noite. Mas a nossa mãe escolheu viver assim. E eu a amo de qualquer jeito, com brigas ou sem brigas.
Hoje eu vim passar o domingo em casa. Ela se surpreendeu com minha chegada, afinal, eu não faço isso com frequência alguma. Acho que a maioria dos filhos tem mania de fazer isso; de bater asas e voar depois que ganham certa independência de quem os colocou no mundo. Mas não tem jeito, nossa dependência deles sempre vai existir e talvez só nos daremos conta disso tarde demais, quando não os tivermos mais por perto. Outro dia ouvi uma colega, que perdeu seu pai recentemente, dizer que agora vive aconselhando suas amigas a passarem datas importantes ao lado dos pais. Tomei esse conselho para mim também.
Minha mãe briguenta me viu entrando hoje em casa e respondeu ao meu "Oi, Mãe" com grande entusiasmo. Ela estava sozinha em casa. Meu pai tinha ido resolver umas coisas nossas, meu irmão viajando e minha mãe cuidando do almoço.
Eu cheguei e ela me esperou, pacientemente, enquanto eu guardava minhas centenas de bolsas e sacolas. Ela me esperou para oferecer um abraço que só ela sabe abraçar. Uma espécie de abraço tão macio quanto uma roupa cheirosa com amaciante. Não há gesto mais lindo do que ser recebida em casa dessa forma. Ela só podia ter ouvido isto de mim:
- Nossa! Isso é saudade é?
Dizem que toda mãe é igual, mas a minha tem um abraço diferente. Talvez, por ela nunca ter sido muito de passar a mão na cabeça dos filhos, tenha tornado momentos como esse tão especiais. Engraçado, até nisso ela pensou.
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