Entende por que nunca se deu ao luxo de sonhar. Acha tudo isso aqui muito chato, no entanto, sabe que deveria sobreviver como os outros: agarrando-se a alguma verdade, abrigando-se no recanto aparentemente seguro do encanto. Mas sabe da constante iminência da mudança e receia que escape a ilusão como um solo a desintegrar-se sob seus pés.
Vê sua própria imagem, mas é uma estranha a olhá-la. Pode ver o desgosto no olhar e o desapego em todo o restante. Aquela refletida é só um corpo desvinculado da alma a encará-la. Pensa que para vir a esse mundo deve-se fazer grandes coisas para os outros. Acha que não fez nada até o momento, acha que perdeu o instante. Tenta seguir o conselho cantado de abandonar o que é pronto e dizer adeus. Isso, pra ela, é difícil. Não exibe a habilidade que seu criador lhe reservou, porque não rende, não lhe garante o pão com facilidade.
Reflete e sente que poderia sim estar fazendo grandes coisas para as pessoas. Poderia suavizar o dia a dia dessa gente com uma voz aveludada. Poderia disseminar mensagens bonitas de se dizer, de se fazer. Poderia, no clímax de seus feitos, fazer desaguar, das nascentes dos olhares alheios, lágrimas bentas de felicidade.
Porque janelas e portas abertas não são suficientes pra ver o mundo e as pessoas lá fora, tive que demolir uma das quatro paredes.
domingo, 19 de setembro de 2010
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
Risco alheio - Móveis Coloniais
Pra Manter Ou Mudar
Tudo que eu queria dizer
Alguém disse antes de mim
Tudo que eu queria enxergar
Já foi visto por alguém
Nada do que eu sei me diz quem eu sou
Nada do que eu sou de fato sou eu?
Tudo que eu queria fazer
Alguém fez antes de mim
Tudo que eu queria inventar
Foi criado por alguém
Nada do que eu sou me diz o que eu sei
Nada do que eu sei de fato é meu?
Algo explodiu no infinito
Fez de migalhas
Um céu pontilhado em negrito
Um ponto meu mundo girou
Pra criar num minuto
Todas as coisas que são
Pra manter ou mudar
Sempre que eu tento acabar
Já desisto antes do fim
Sempre que eu tento entender
Nada explica muito bem
Sempre a explicação me diz o que eu sei:
"Sempre que eu sei, alguém me ensinou"
Algo explodiu no infinito
Fez de migalhas
Um céu pontilhado em negrito
Um ponto meu mundo girou
Pra criar num minuto
Todas as coisas que são
Pra manter ou mudar
Agora reinvento
E refaço a roda, fogo, vento
E retomo o dia, sono, beijo
E repenso o que já li
Redescubro um livro, som, silêncio
Foguete, beija-flor no céu,
Carrossel, da boca um dente
Estrela cadente
Tudo que irá existir
Tem uma porção de mim
Tudo que parece ser eu
É um bocado de alguém
Tudo que eu sei me diz do que sou
Tudo que eu sou também será seu
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
Desligou-se
Reservou 1 semana pra não se cobrar tanto. Não escreveu o que deveria escrever, não leu o que deveria ler. Só resolveu escrever o que viesse à cabeça, assim não iria precisar recorrer a citações, coisas que os outros já disseram para embasar o que diabos estivesse ela pensando em balbuciar de forma escrita.
Certeza foi o remorso vir abordá-la, mas deixou-o lá incomodando e não fez nada por ele. Empurrou-o conscientemente para a região periférica da massinha pensante, assim como se esconde sujeira de baixo do tapete.
Aproveitou a breve folga que deu a si mesma e, depois de ativar seu reflexo automático nos afazeres do dia, jogou-se na rede, no sofá e aceitou passiva e paciente cada mensagem já pensada, elaborada, embalada e endereçada a mais um crânio recheado de vazio, completamente anestesiado, bem dizer, morto.
No fim de tudo, diagnosticou que seu grande mal era o sono, daqueles de derrubar as pálpebras tendo o mundo inteiro sobre elas. Era sono, era essa necessidade fisiológica mesmo. "É só o sono, não preguiça, ainda bem", pensou.
Certeza foi o remorso vir abordá-la, mas deixou-o lá incomodando e não fez nada por ele. Empurrou-o conscientemente para a região periférica da massinha pensante, assim como se esconde sujeira de baixo do tapete.
Aproveitou a breve folga que deu a si mesma e, depois de ativar seu reflexo automático nos afazeres do dia, jogou-se na rede, no sofá e aceitou passiva e paciente cada mensagem já pensada, elaborada, embalada e endereçada a mais um crânio recheado de vazio, completamente anestesiado, bem dizer, morto.
No fim de tudo, diagnosticou que seu grande mal era o sono, daqueles de derrubar as pálpebras tendo o mundo inteiro sobre elas. Era sono, era essa necessidade fisiológica mesmo. "É só o sono, não preguiça, ainda bem", pensou.
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