Porque janelas e portas abertas não são suficientes pra ver o mundo e as pessoas lá fora, tive que demolir uma das quatro paredes.
terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
Tristeza faz um bem.
É bom ter uma certa admiração pela melancolia. Ela consegue ser tão sedutora, tão fascinante para quem sente. Como se estivéssemos dentro de um filme, fazendo gênero drama. Somos a vítima, o centro de tudo.
E quando aquela tristinha vem, vem forte, avassaladora. Esse fardo se infiltra primeiramente por meio dos olhos. Deixa o olhar vazio, fixo em algo do mundo paralelo. A sensação é quase a ideia de uma alma inteira dentro de um corpo complexo se encaminhar para o pequeno espaço atrás do vidro da janela ocular.
Exatamente, é como se sua essência estivesse querendo escapar. A cada pulsação lenta por conta da bombinha de sangue debilitada, da aura melancólica, o forte impulso por um triz capaz de libertar sua alma de vez.
Parece ser algo fantástico. Por mais contraditório que seja, quem sente isso tudo está na verdade resgatando a vaidade de pensar em si mesmo, por uns instantes em relação ao universo.
É triste, mas faz bem.
sábado, 13 de fevereiro de 2010
Dois lados: folia x melancolia
Folia de si. Tem sido sempre assim: ansiedade pelos 4 dias pra pensar em si, ou, como a maioria, esquecer de si, fantasiando-se de personagens que outrora tiveram desejo de ser.
Como um ópio, todos buscam num feriadão avivar a alegria esquecida. A viagem tá marcada. Vão às compras. O homem transporta o carrinho de supermercado e neste só tem garrafas de cerveja empilhadas como se para construir o império da espontaneidade. Já viu gente alta não dizer verdade? Então, chega a hora de abastecer o carro. A bebedeira já se inicia no posto, alguém reza para que o motorista da vez não caia em tentação.
Desta vez, não trago essa tentativa de diversão para esses dias de folga. Mas claro, tenho formas particulares de acordar o bom humor, a descontração, afinal é carnaval. Mas como há sempre os dois lados,lembro de coisas não muito felizes e que nada têm a ver com esse clima carnavalesco. Algo que se encaixou milimetricamente na memória, algo que se tem certeza: vai permanecer ali, até você achar que é o fim.
Algo que jurei ter sido parte de um pesadelo. Na época, estava voltando a pé da escola. Era o mesmo caminho de todos os dias, mas aquele dia resolveu não ser igual a todos os outros. Eu passei em frente a uma casinha simples, prestes a ser reformada. Por isso, uma carroça cheia de material de construção estava estacionada lá.
De longe, eu podia ver um cavalo amarrado junto a carroça. Ele estava parado no meio do asfalto e aparentava cansaço por conta da carga pesada. Não vi só ele, vi também uma criança igual a mim, só que menino e não menina. Eu não tinha idade adequada pra perceber que tinha algo de errado.
O cavalo aguardava impaciente o menininho levar todos os tijolos para dentro da casa. Era visível a qualquer um que o animal estava um tanto arredio àquela prestação de serviço. A medida que o menino transportava a carga, o carrinho ficava mais leve. Não sei explicar com detalhes o que aconteceu em seguida até hoje, foi tudo muito rápido. Mas sei que um desequilíbrio causado pelo movimeto brusco do cavalo fez com que uma ferramenta sobre a carroça deslizasse, atingindo e atravessando parcialmente a cabeça da criança. Não me recordo agora qual era o tipo de ferramenta, mas sei que era pontuda.
Observei a reação do menino com olhar obscurecido de terror. Franzi as sombrancelhas e imaginei ser aquilo pesadelo muito pior do que olhos felinos reluzindo no escuro. Naquele momento, meus passos se tornaram mais apressados. Eu caminhava nervosa e encontrava-me perto o suficiente pra ver a agonia dos gestos do menino. Este corria em desespero ao longo do corredor na lateral da casa.
Não entendo por que não fiz nada pra ajudar, devia ser mais novinha do que imagino. Lembro que além dos gritos, ouvi os vizinhos chamando o nome do responsável pelo depósito de construção. As vozes adultas ameaçavam denunciar o ocorrido e pediam que levassem o menino ao hospital mais próximo.
É estranho lembrar disso agora. Faz tanto tempo; mais parece nunca ter acontecido ou que faz parte de um antigo pesadelo. E no entanto,tudo que descrevi foi absolutamente real.
Como um ópio, todos buscam num feriadão avivar a alegria esquecida. A viagem tá marcada. Vão às compras. O homem transporta o carrinho de supermercado e neste só tem garrafas de cerveja empilhadas como se para construir o império da espontaneidade. Já viu gente alta não dizer verdade? Então, chega a hora de abastecer o carro. A bebedeira já se inicia no posto, alguém reza para que o motorista da vez não caia em tentação.
Desta vez, não trago essa tentativa de diversão para esses dias de folga. Mas claro, tenho formas particulares de acordar o bom humor, a descontração, afinal é carnaval. Mas como há sempre os dois lados,lembro de coisas não muito felizes e que nada têm a ver com esse clima carnavalesco. Algo que se encaixou milimetricamente na memória, algo que se tem certeza: vai permanecer ali, até você achar que é o fim.
Algo que jurei ter sido parte de um pesadelo. Na época, estava voltando a pé da escola. Era o mesmo caminho de todos os dias, mas aquele dia resolveu não ser igual a todos os outros. Eu passei em frente a uma casinha simples, prestes a ser reformada. Por isso, uma carroça cheia de material de construção estava estacionada lá.
De longe, eu podia ver um cavalo amarrado junto a carroça. Ele estava parado no meio do asfalto e aparentava cansaço por conta da carga pesada. Não vi só ele, vi também uma criança igual a mim, só que menino e não menina. Eu não tinha idade adequada pra perceber que tinha algo de errado.
O cavalo aguardava impaciente o menininho levar todos os tijolos para dentro da casa. Era visível a qualquer um que o animal estava um tanto arredio àquela prestação de serviço. A medida que o menino transportava a carga, o carrinho ficava mais leve. Não sei explicar com detalhes o que aconteceu em seguida até hoje, foi tudo muito rápido. Mas sei que um desequilíbrio causado pelo movimeto brusco do cavalo fez com que uma ferramenta sobre a carroça deslizasse, atingindo e atravessando parcialmente a cabeça da criança. Não me recordo agora qual era o tipo de ferramenta, mas sei que era pontuda.
Observei a reação do menino com olhar obscurecido de terror. Franzi as sombrancelhas e imaginei ser aquilo pesadelo muito pior do que olhos felinos reluzindo no escuro. Naquele momento, meus passos se tornaram mais apressados. Eu caminhava nervosa e encontrava-me perto o suficiente pra ver a agonia dos gestos do menino. Este corria em desespero ao longo do corredor na lateral da casa.
Não entendo por que não fiz nada pra ajudar, devia ser mais novinha do que imagino. Lembro que além dos gritos, ouvi os vizinhos chamando o nome do responsável pelo depósito de construção. As vozes adultas ameaçavam denunciar o ocorrido e pediam que levassem o menino ao hospital mais próximo.
É estranho lembrar disso agora. Faz tanto tempo; mais parece nunca ter acontecido ou que faz parte de um antigo pesadelo. E no entanto,tudo que descrevi foi absolutamente real.
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